Secretário nega pacto com facções

Luís Mauro Albuquerque afirma que rigor deve permanecer dentro das unidades prisionais do Ceará. "O único pacto que existe é obedecer à lei. Pronto e acabou", disse o titular da SAP

Escrito por Emanoela Campelo de Melo , emanoela.campelo@diariodonordeste.com.br

Foto: FOTO: HELENE SANTOS

Fardado, com colete à prova de balas, acompanhado por um grupo de agentes penitenciários e com olhar atento ao comportamento de cada um dos servidores ao seu redor. Na tarde de ontem, o titular da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP), Luís Mauro Albuquerque, se fez presente no Centro de Execução Penal e Integração Social Vasco Damasceno Weyne (Cepis). Desde que assumiu a função, há pouco mais de um mês, a rotina de trabalho do secretário é composta por visitas periódicas às unidades prisionais do Ceará.

Foi também há mais de um mês que o Estado começou a enfrentar a maior onda de ataques já registrada. Pelo menos 260 ofensivas registradas em quase 30 dias. A motivação para a sequência de crimes coordenada por diversos líderes de facções criminosas seria a chegada de Luís Mauro, já conhecido por muitos como profissional "linha dura".

Com a aparente calmaria nas ruas depois de dias seguidos sem ataques e um dia após o anúncio que os homens da Força Nacional começariam a sair do Ceará, o secretário concedeu entrevista exclusiva ao Sistema Verdes Mares acerca dos próximos passos a serem tomados na SAP e sobre como sua presença e falas polêmicas modificaram a rotina da Segurança Pública.

Como foram os primeiros dias de trabalho no Ceará e como você vê a saída da Força Nacional?

Dentro do sistema, eu preciso de mais agentes federais justamente para implementar os procedimentos. Hoje, o Sistema está totalmente controlado. Quando se tinha qualquer queima de ônibus ou suspendia visita, tinha rebelião. Agora, tem alguns amotinamentos rapidamente controlados.

Foram colocadas pessoas da sua confiança dentro das unidades?

Tem agentes da força de intervenção penitenciária de mais de 10 estados aqui comigo. Agentes especialistas, treinados por mim e que também atuaram junto a mim em Alcaçuz. Se tentarem alguma coisa, vamos revidar à altura e responsabilizar. Mais de 500 presos foram autuados em diversas unidades por tentar subverter a ordem em diversas unidades. Preciso de mais 90 agentes da Força Penitenciária para expandir o trabalho.

Você nega que a pausa nos ataques aconteceu devido a um pacto feito com as facções?

Eu fiz um pacto. Eles obedecem ao Estado e o Estado manda. O único pacto que existe é obedecer a lei. Pronto e acabou. Muita gente fala o que não sabe. Você acha que eu ia sair de outro Estado para vir negociar com preso, com facção? Faço isso na vida não. Está errado quem imagina isso aí. Não negocio com facção, não negocio com criminoso, cumpro a lei.

Acredita que, com a mudança na rotina dos presídios, os criminosos vão repensar em atuar lá fora e assim o número de crimes irá reduzir?

Vai acontecer sim a redução dos crimes. No Rio Grande do Norte, baixou mais de 20% o número de homicídios quando se passou a ter controle no Sistema Penitenciário. Outro pacto que eu fiz foi com o secretário da Segurança Pública. Ele prende que eu cuido. Manda pra mim que eu cuido.

Há denúncias sobre tortura dentro das unidades. Como você vê isso?

Eles tentaram intimidar o Estado para desacreditar. Se a gente tiver que usar força, vamos usar devidamente. Para muitos a verdade não interessa. Eu trabalho dentro da legalidade. Vai ser rigor máximo, pode ter certeza.

Você se arrepende das falas que levaram ao início dos ataques?

É errado eu combater o crime? Errado é o criminoso. Governador não vai recuar nem para pegar impulso. A gente vai partir para cima. Cada medida que eles tomam lá fora, nós tomamos aqui dentro. Estado sempre vai dar uma resposta. Eu falei errado? Então eu falo de novo: Estado não reconhece facção e vou combater facção. Quem manda é o Estado e acabou.

Quais as próximas ações já pensadas?

Tiramos mais de três mil celulares. Foram fechadas cadeias públicas, que eu nem considerava cadeia, porque eram casas sem estrutura onde pessoas eram colocadas lá dentro. Então, do que adiantava? Estamos revisando todos os processos junto da Defensoria Pública justamente para gente reverter o quadro de superlotação. São 14 mil presos provisórios. Damos oportunidade também da tornozeleira. Isso ajuda bastante. Quando se coloca ordem dentro do sistema, dá para trabalhar.

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