Quadrilha cearense cometeu golpes nos EUA e movimentou R$ 35 mi

Grupo de estelionatários, com base no Ceará, praticava crimes no Brasil e nos Estados Unidos, tendo alto padrão de vida. Quatro alvos da operação, inclusive o líder do esquema criminoso, já estavam presos

Escrito por Messias Borges , messias.borges@diariodonordeste.com.br
Legenda: Investigação da Polícia Federal começou a partir de denúncia do Consulado dos EUA, em Recife
Foto: FOTO: HELENE SANTOS

A quadrilha formada principalmente por cearenses e desarticulada na Operação Las Vegas, da Polícia Federal (PF), ontem, cometeu crimes no Brasil e nos Estados Unidos e, em um prazo de seis anos, movimentou ao menos R$ 35 milhões em contas bancárias. O líder da associação criminosa e mais três integrantes já se encontravam presos em terras norte-americanas.

A investigação da PF começou em 2016, após uma denúncia do Escritório de Segurança Diplomática do Consulado Geral dos EUA no Recife, em Pernambuco. Os órgãos de segurança daquele País estranharam a presença e as prisões repetitivas de brasileiros pela mesma prática criminosa.

"Cidadãos brasileiros, em especial cearenses, estavam se dirigindo às cidades de Las Vegas e Atlantic City munidos de cartões clonados, para efetuarem saques nas máquinas de autoatendimento de cassinos. As máquinas emitiam cheques e, com esses cheques, eles representavam nos caixas dos cassinos para descontar", descreve o chefe do Grupo de Repressão a Crimes Cibernéticos (GRCC), delegado Madson Tenório.

No Brasil, o grupo utilizava os cartões clonados para comprar produtos eletrônicos - como aparelhos celulares, televisões e computadores - e passagens de avião, além de alugar veículos. Os produtos adquiridos serviam tanto para uso próprio dos estelionatários como para repassá-los a outras pessoas. A PF investiga se há alguma loja ou empresa por trás do esquema criminoso.

Conforme Tenório, essa estratégia da quadrilha pode ser considerada como lavagem de dinheiro. "É uma forma de tentar esconder a origem ilícita dos recursos. Fica difícil o rastreamento, a partir do momento em que um membro da quadrilha efetua uma compra e repassa esse equipamento eletrônico abaixo do preço", constata.

A Polícia Federal apurou que a associação criminosa cometia golpes desde 2010, mas cresceu em tamanho e lucro dois anos depois. Somente entre 2012 e 2017, os estelionatários movimentaram pelo menos R$ 35 milhões em contas bancárias próprias, de familiares e de "laranjas".

Prisões

Os 12 mandados de prisão preventiva, nove de busca e apreensão e 14 de bloqueio de contas e indisponibilidade de bens, expedidos pela 11ª Vara Federal do Ceará, tinham como alvos os membros da cúpula da quadrilha - a qual era bastante numerosa, segundo o delegado. Todos são homens, a maioria cearense e com aproximadamente 30 anos. Os nomes dos investigados não foram revelados pela PF.

Quatro alvos dos mandados de prisão, inclusive a liderança máxima da quadrilha, já estavam detidos nos Estados Unidos, por golpes cometidos naquele País. A PF informou que eles irão responder pelos crimes praticados por lá e, apenas quando voltarem ao Brasil, as ordens de detenção da Justiça Federal poderão ser concretizadas.

Os mandados foram cumpridos em Fortaleza, Caucaia e Beberibe, no Ceará, além da capital de São Paulo. Os suspeitos se dispersavam geograficamente, mas levavam um alto padrão de vida, inclusive com imóveis e veículos luxuosos. Alguns deles já tinham passagem pela Polícia por estelionato, receptação e tentativa de homicídio. Documentos, mídias, aparelhos celulares e até uma arara foram apreendidos pelos policiais.

Os presos irão responder pelos crimes de furto qualificado pela fraude, associação criminosa e lavagem de dinheiro, de acordo com o nível de participação. O homem que criava a arara ilegalmente, em Beberibe, tentou arremessar o animal para outra propriedade, mas não evitou a apreensão e também foi autuado em flagrante por crime ambiental.

Histórico

Com as prisões dos estelionatários nos EUA, a partir de 2016, a quadrilha entrou em declínio no ano seguinte e diminuiu sua atuação. O adido policial do Consulado dos EUA, Jason Gardner, ressaltou que o Governo norte-americano aumentou a segurança contra fraudes com cartões com a inclusão de chips eletrônicos em 2016 (o que já é utilizado no Brasil há mais tempo) e agradeceu o apoio da PF em na desarticulação da quadrilha internacional: "Agradecemos à Polícia Federal e nossos outros parceiros policiais nos Estados Unidos. Este é mais um exemplo da nossa cooperação bilateral, que continua a combater organizações criminosas transnacionais em prol de nossos objetivos comuns de segurança".

Somente a Caixa Econômica Federal (CEF) reportou à PF um prejuízo de US$ 18,5 milhões por fraudes com cartões cometidas no país americano, entre os anos de 2014 e 2018. Deste valor, os investigadores identificaram que pelo menos US$ 1 milhão foi furtado por essa associação criminosa, mas acreditam que o rombo seja maior.

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