'Minha vida está parada', revela professor sobrevivente da Chacina do Benfica

O jovem sofreu um tiro na cabeça e ficou internado por 50 dias no IJF

Escrito por Messias Borges , messias.borges@diariodonordeste.com.br
Legenda: Professor contou com apoio principalmente dos pais para se recuperar e cobra auxílio do Estado
Foto: Foto: Thiago Gadelha

Os tiros efetuados na Chacina do Benfica alteraram vidas drasticamente. Sete pessoas morreram, outras ficaram feridas, suspeitos foram presos. Entre os personagens dessa trágica história estão o professor Paulo Victor Policarpo - e consequentemente seus familiares. "Minha vida está toda parada", resume o sobrevivente.

Paulo Victor, 27, é graduado em Letras, fazia mestrado na área e foi aprovado em seleção pública para professor substituto na Universidade Estadual do Ceará (UECE) pouco antes da ação criminosa. Até que um tiro atingiu sua cabeça e a sua vida, na noite de 9 de março de 2018.

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O jovem foi levado de imediato ao Instituto Doutor José Frota (IJF), onde ficou por 50 dias. Voltou para casa e segue em processo de recuperação. Além do trauma psicológio, ele carrega a dificuldade para enxergar e se locomover. A principal preocupação dele e da família é uma ossificação que se forma no quadril e o impede de progredir no movimento dos membros inferiores.

"Eu ainda sinto dores no quadril. Não posso ler um livro. Não posso trabalhar, não posso dar continuidade ao mestrado, não posso fazer quase nada, porque eu dependo das pessoas para me locomover. Tudo é muito limitante", revela.

O professor recuperou o raciocínio lógico, a capacidade de se alimentar e a visão e a locomoção parciais, com o tempo e com os esforços e os gastos promovidos pelos familiares. O sobrevivente da Chacina cobra o Estado por apoio e pensa em entrar com uma ação judicial. "Minha vida está toda parada. Quem sabe se eu vou conseguir voltar a trabalhar, a estudar?! Eu não tenho garantias de nada. O Estado é omisso, nada foi feito", critica.

O Governo do Estado, em nota, informou que criou, em janeiro de 2019, a Secretaria de Proteção Social, Justiça, Mulheres e Direitos Humanos (SPS) para atuar no atendimento de vítimas e familiares de episódios como a Chacina do Benfica. "A SPS esclarece que os familiares das vítimas fatais do caso foram contactados à  época pelas equipes técnicas do Centro de Referência às Vítimas de Violência (CRAVV), instância então vinculada à Secretaria da Justiça e Cidadania (Sejus). Algumas famílias recusaram o acompanhamento e outras receberam o atendimento,  que segue, inclusive, até hoje", completa.

Tiro também afetou vida de familiares

O pai de Paulo Victor, Francisco Paulo Policarpo, conta como soube que seu filho tinha sido alvejado: "Era mais ou menos 23h30 da sexta-feira, dia 9 de março de 2018. Eu me levantei para ir ao banheiro e vi o celular da minha esposa aceso com o nome Victor. Eu atendi. Era um amigo dele dizendo 'Aconteceu um acidente com o Paulo Victor, mas ele está bem e nós estamos indo para o IJF agora'. O rapaz estava muito nervoso, e eu perguntei: 'Que tipo de acidente?'. 'Um tiro'".

"Quando chegamos lá (no IJF), já estava aquela aglomeração toda por causa da Chacina. Eu tentei entrar, mas já tinha um amigo dele com ele. Quando eu entrei, fui direto na emergência, vi o amigo dele lá e ele tava todo ensanguentado da perna para baixo. Eu perguntei: 'Esse sangue é do meu filho?'. Ele disse que era. Eu estava chorando, desesperado, quando o elevador se abriu e ele (filho) estava subindo em uma maca. Estava como morto, com um balão de oxigênio, muito branco, praticamente sem vida", completa.

Paulo Victor, os pais e os irmãos "compraram uma briga" diária. "Depois que aconteceu isso, nossa vida mudou completamente. Eu fiquei trabalhando só até ele sair da UTI e depois pedi demissão. Aqui, a gente faz uma força tarefa para dar atenção a ele. O pai dele ficou trabalhando como autônomo, só sai depois que a gente banha, dá os remédios. Minha filha de 16 anos faz os exercícios com ele. A gente faz o que pode para ele se sentir bem, mas para ele é difícil, muita coisa mudou", relata a mãe, Valceli Policarpo.

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