'Minha filha foi vítima e não acreditei', diz mãe de mulher abusada por ex-prefeito em 1ª audiência

Médico José Hilson de Paiva é acusado de violência sexual mediante fraude; mãe afirmou que filha ficou com sequelas psicológicas e hoje mora fora do Estado

Escrito por Redação ,
Legenda: Primeira audiência de instrução sobre caso envolvendo médico e ex-prefeito de Uruburetama ocorreu no Fórum do município nesta quarta-feira (9)
Foto: Foto: Kilvia Muniz

Duas vítimas do médico e ex-prefeito de Uruburetama José Hilson de Paiva foram ouvidas durante a primeira audiência de instrução do caso, ocorrida nesta quarta-feira (9), após denúncia feita pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) contra o homem acusado de violência sexual mediante fraude contra pacientes. Outras três testemunhas de acusação e mais quatro de defesa também foram ouvidas pela Justiça no Fórum de Uruburetama. Uma das depoentes disse que não acreditou na prórpia filha à época em que a garota tinha 16 anos e foi abusada pelo médico.

José Hilson está preso na Unidade Prisional Irmã Imelda Lima Pontes, em Aquiraz, Região Metropolitana de Fortaleza, desde julho deste ano. Vítimas do médico procuraram a Polícia Civil do Ceará depois que uma sequência de vídeos com cenas dos abusos, filmados pelo próprio médico, foram exibidos no Fantástico. A informação é de que os crimes aconteciam desde 1980. 

A primeira denúncia do MP contra o ex-prefeito foi apresentada pela Promotoria de Cruz em 2 de agosto. Depois, a Promotoria de Justiça de Uruburetama apresentou uma nova denúncia, no dia 6 de agosto, referente a duas vítimas daquela comarca. Por fim, uma terceira denúncia foi protocolada em Uruburetama na última quinta-feira (3) contra o médico e uma sobrinha dele. 

Legenda: José Hilson Paiva está preso acusado de abusar sexualmente de pacientes
Foto: Foto: Reprodução

'Ficam sequelas'

“Eu tava como testemunha e também fui uma das vítimas. Já passou, mas ficam sequelas no psicológico da gente, a gente sempre tá deparando com essa imagem passando diante da gente, a gente fica sempre sofrendo com o que passou”, expõe uma das vítimas ouvidas nesta quarta.  

Durante a audiência, ela dividiu espaço com mulheres que estavam lá como defesa do ex-prefeito e médico.  

“Tinham outras mulheres que tavam ali do lado dizendo “ah, vai rodar lá dentro, Deus é maior”. É, Deus é maior e a verdade vai sempre prevalecer. Aquelas mulheres que não foram vítimas, que ficam acusando as vítimas achando que a gente tá mentindo. A gente nunca iria sair da nossa casa pra falar uma mentira, pra se expor, pra passar o que a gente passa, três horas longe da casa da gente... se não tivesse sido totalmente injustiçada”, comenta. 

O Núcleo de Atendimento às Vítimas de Violência (Nuavv) do MPCE acompanhou o processo no Fórum.  

“Veio junto a equipe técnica, psicólogas, assistentes sociais, com objetivo de dar esse suporte emocional às testemunhas porque essa situação tem uma repercussão muito grande. Elas têm sido bastante penalizadas pela publicidade desse fato, pela exposição, pelo fato de terem tido a coragem de falar. Então houve muita represália por conta disso”, explica a coordenadora do Nuavv e promotora de Justiça, Joseana França Pinto. 

O grupo se reuniu com a Vice-Governadora Izolda Cela, nesta segunda-feira (7), para propor um fluxo de atendimento psicológico, psiquiátrico e ginecológico às vítimas na Policlínica de Itapipoca.  

“O que a gente tem percebido é um adoecimento mental muito grande, uma fragilidade muito grande, isso a gente sabe de mulheres que são vítimas de qualquer tipo de abuso sexual. Então isso precisa ser tratado. Nessa política de proteção, a gente não pode esquecer a questão do adoecimento mental”, frisou. 

'Minha filha foi vítima e eu não acreditei'

A segunda vítima ouvida no Fórum foi representada pela mãe durante a audiência. A mulher confessa que, no início, não acreditou nos relatos da filha, que na época do crime estava com 16 anos. 

“Minha filha foi vítima e eu não acreditei, ainda passei anos e anos votando nele. Eu não acreditei porque, naquela época, não tinha Justiça como tem hoje, não tinha nada. A gente era muito fraquinho pra quem tem um poder tão grande. Mas agora, que a gente tá vendo tudo à tona... a pessoa que faz o que ele fez não é normal”, relata. 

A mãe afirma que a filha ficou com sequelas psicológicas e hoje mora fora do Estado. 

“Minha família toda era do lado dele. Mas espero que ele pague pelo que ele fez, que a consciência dele toque bem fundo e saiba que ele tá pagando pelo que ele fez. O que eu vi de mulher exposta, nossa... mãe de família, tanta gente. É muito triste”, completa. 

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