Número de adolescentes mortas mais que quadruplica na Capital

O levantamento do Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência (CCPHA) mostra um aumento exponencial de vítimas do sexo feminino com idade entre 10 a 19 anos, no primeiro semestre deste ano

Escrito por Messias Borges , messias.borges@diariodonordeste.com.br

A violência atinge, cada vez mais, o público feminino no Ceará. Nas duas vias possíveis: as mulheres estão mais engajadas no mundo do crime e, consequentemente, morrem mais. As adolescentes não estão excluídas desse contexto, agravado neste ano. O levantamento do Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência (CCPHA) sobre crimes fatais na faixa etária de 10 a 19 anos, entre janeiro e julho de 2018, divulgado ontem, mostra um aumento exponencial no número de jovens assassinadas na Capital e no Estado.

O número de adolescentes do sexo feminino vítimas de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs) - homicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte - cresceu 412,5%, em Fortaleza, nos sete primeiros meses deste ano, em comparação a igual período de 2017. Foram 41 mortes no ano atual, frente a apenas 8 assassinatos no ano passado.

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Meninas foram mortas em sete meses na Capital. O levantamento do CCPHA mostra que 41 jovens foram mortas, em Fortaleza, entre janeiro e julho deste ano. No ano passado, em igual período, foram apenas oito casos

No Ceará, o crescimento do índice também foi expressivo e preocupante: 220,8%. De janeiro a julho deste ano, 77 meninas foram mortas no Estado; em igual período do ano passado, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) registrou 24 mortes. Em Caucaia, outro município estudado além da Capital, o aumento foi de 250%, saindo de dois assassinatos em 2017 para sete crimes em 2018. Ao total, 22 cidades cearenses registraram mortes de adolescentes do sexo feminino, nos sete primeiros meses do ano.

No período pesquisado, 514 jovens (de ambos os sexos) foram mortos no Ceará; e 189, em Fortaleza. Ou seja, 14,9% das vítimas de todo o Estado são meninas; e 21,6% das vítimas de homicídio na Capital são do sexo feminino.

Vulnerabilidade

O sociólogo e coordenador da equipe técnica do CCPHA, Thiago de Holanda, afirma que o crescimento nos homicídios de jovens do sexo feminino tem relação com o contexto de violência e de falta de assistência que estão inseridos alguns territórios cearenses. "A vida desses jovens é muito vulnerável e, hoje, tem se aprofundado essa vulnerabilidade por confrontos, sobretudo de grupos armados, que estão dominando esses territórios. E confrontos entre a Polícia, que tem recrudescido a sua ação, com esses grupos. Diante disso, temos um cenário que tem afetado outros sujeitos, que não eram tão suscetíveis aos homicídios, como as meninas", analisa.

Uma das jovens que sofreu com as vulnerabilidades da periferia alencarina e que terminou perdendo a vida é Kauany Helen Guimarães da Silva. O corpo da adolescente, de 15 anos, foi encontrado às margens da Lagoa da Parangaba, no dia 29 de março deste ano. Ela foi raptada de dentro da sua residência, no Planalto Pici, e executada. Segundo a Polícia Militar, a menina era suspeita de ter envolvimento com o tráfico de drogas e com a organização criminosa que domina a região onde mora e teria virado alvo da facção rival, que prevalece em uma comunidade vizinha, no bairro Dom Lustosa. Dois suspeitos de cometer o crime foram presos, dois dias depois.

Causas

O Comitê realiza a pesquisa desde 2015 e, indica possíveis soluções aos governos Estadual e Municipal e ao Poder Judiciário. "O que o Comitê tenta sempre estudar são as causas das causas, o que faz esses adolescentes ficarem mais vulneráveis. E tem percebido que adolescentes que estão fora da escola há mais de seis meses, passaram por medidas socioeducativas, moram em determinados territórios, isso potencializa", contextualiza o coordenador do projeto.

A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) afirmou "que o Ceará apresentou, em outubro, pelo sétimo mês consecutivo, redução nos índices de CVLIs. Por fim, destacou o funcionamento da Casa da Mulher Brasileira, "dentro de uma política de tolerância zero com quaisquer formas de violência contra as mulheres", com 5.241 atendimentos variados desde junho deste ano.

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