"Nosso trabalho é suportar toda a carga", diz agente

Servidor da Sejus relata série de problemas vivenciados no Sistema Penitenciário cearense. Já Camilo Santana prometeu, ontem, que irá tentar acabar com as organizações criminosas no Estado

Escrito por Redação ,
Legenda: As unidades penitenciárias do Ceará enfrentam uma crise permanente há dois anos. A instabilidade aumenta o clima de medo, atrás das muralhas

Enquanto o governador do Ceará, Camilo Santana, promete que vai "procurar acabar com as facções aqui no Estado", quem atua dentro do Sistema Penitenciário, convivendo diariamente com perigosos membros das mais diversas organizações criminosas do País teme pela própria vida, a cada dia de trabalho.

"Trabalhar no Sistema Penitenciário sempre dependeu da resiliência dos agentes penitenciários. A questão é que o aumento das facções dentro das unidades penitenciárias e a inoperância do Estado têm feito com que o trabalho fique comprometido", contou um agente, que preferiu não ser identificado.

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O servidor entrevistado pelo Sistema Verdes Mares, detalhou o que vem acontecendo dia após dia, nas unidades prisionais. Os relatos do personagem revelam que a tomada de poder dos criminosos interfere, diretamente, no psicológico dos agentes penitenciários.

"O trabalho do agente penitenciário é suportar toda a carga de outras instituições. Da Polícia Civil, Polícia Militar e do Judiciário. Nosso trabalho é pegar todo o resultado. Com o aumento das facções criminosas, temos que enfrentar todos os dias diversos tipos de perigo", contou o agente.

Problemas

Em contrapartida à descrição do profissional, o governador Camilo Santana destacou que vem investindo na construção de um presídio de segurança máxima estadual, que deve abrigar e isolar chefes de organizações criminosas.

"Entregamos em três anos três mil novas vagas nos presídios cearenses. Vamos entregar mais duas mil vagas para garantir que não exista superlotação. A Polícia trabalha mais, prende mais, e isso superlota os presídios. Todo um planejamento está sendo feito para que possamos garantir mais eficiência nos presídios", disse o chefe do Executivo.

Para o agente entrevistado, solucionar a superlotação é tarefa básica dos chefes do Poder Público e já devia ser um ponto superado. "Nenhum governo tem obrigação de trazer o paraíso para a terra, mas todos têm obrigação de fazer com que o inferno não aconteça. E o inferno acontece justamente por causa da superlotação. Isso gera doença, estresse no preso que, por consequência, se volta contra o agente penitenciário. Hoje, no presídio, é totalmente tenso, porque não sabemos se vai vir ataque de fora e em que momento pode haver uma rebelião", destacou.

Déficit

Outra reivindicação da categoria envolve o déficit de profissionais. A informação é que, nas unidades com cerca de dois mil presos, apenas oito agentes são responsáveis por controlar a segurança interna.

"Pelo ínfimo número de agentes não tem como acompanhar o número de pessoas que circulam nos presídios. Quando eu saio para trabalhar, passo orientações para meus familiares para que tenham cuidado. Nunca sabemos quando constituímos um desafeto lá dentro", disse o profissional.

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