Médicos registravam fluxo de cirurgias e materiais em cadernos

Servidora relatou que profissionais lidavam diretamente com fornecedores de suas preferências e costumavam optar por próteses importadas, em vez de nacionais, revelam investigações da Operação Fratura Exposta

Escrito por Redação , seguranca@verdesmares.com.br
Legenda: Hoje, o sistema de organização das cirurgias é acompanhado regularmente pela Justiça Federal e pelo MPF, segundo o HUWC
Foto: FOTO: NAH JEREISSATI

As investigações da Operação 'Fratura Exposta', da Polícia Federal (PF), seguem apurando a suposta comercialização indiscriminada de próteses ortopédicas e produtos afins entre uma empresa de importação e médicos ortopedistas cearenses. O esquema de negociações pode ter sido favorecido pela ausência de um sistema de controle de cirurgias, até 2015, no Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), no bairro Rodolfo Teófilo. Na unidade, os próprios médicos eram responsáveis pela organização dos procedimentos, além de tratarem diretamente com os fornecedores.

De acordo com uma funcionária do HUWC ouvida pela investigação, antes da instituição do sistema de auditoria de prontuário cirúrgico, em meados de 2015, ocorriam mediações diretas entre os próprios médicos e fornecedores para a realização de procedimentos cirúrgicos de joelho, quadril e demais intervenções ortopédicas. Eles ligavam para as empresas "de suas respectivas preferências" e escolhiam os materiais.

A servidora disse que a maioria dos médicos relatava preferir trabalhar com próteses importadas, sob o argumento de que tais produtos teriam maior durabilidade. Eles alegavam que um produto estrangeiro deveria durar até 15 anos, enquanto o similar nacional duraria apenas cinco.

Transparência

"No entanto, essa superioridade na qualidade não possui comprovação científica, sendo algo meramente empírico ou intuitivo", destacou ela.

O que variavam mesmo eram os preços, visto que os importados chegavam a ter valor "três vezes maior que o repassado pelo SUS (Sistema Único de Saúde)". A servidora reconhece que havia ausência de transparência na organização das filas para cirurgia, acarretando que os médicos "adotavam as mesmas práticas que já tinham no ambiente privado, tendo em vista que a gestão hospitalar não apresentava um controle".

Segundo ela, após a implantação das novas rotinas administrativas, os materiais são comprados pelo preço da tabela SUS. Além disso, afirma que a Ortogênese Comércio e Importação de Materiais Médicos e Cirúrgicos Ltda., empresa investigada no esquema, ainda fornece próteses nacionais para quadril e joelho e placas para cirurgias de coluna.

O inquérito policial também chama a atenção para o repasse de cheques compensados dos representantes da empresa a dois profissionais que atuavam no HUWC, no ano de 2013, no período em que "eram realizadas compras diretas, sem licitação", conforme a funcionária.

Fornecimento

O Hospital confirmou à reportagem que, até 2015, "a organização das filas era feita diretamente pelos médicos ortopedistas". Situação bem diferente da atual, quando o controle ocorre por meio do Sistema UniSUS Web, de responsabilidade da Secretaria da Saúde de Fortaleza, com supervisão do Núcleo Interno de Regulação do Hospital e acompanhamento regular da Justiça Federal e do Ministério Público Federal (MPF).

A unidade também reiterou que a Ortogênese ainda fornece materiais ortopédicos, completando que os preços de compra de próteses e órteses hoje seguem a tabela SUS, "exceto para atender ordens judiciais específicas".

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