Marcola ainda não foi julgado por roubo no Ceará

Dezenove anos após ser acusado de roubar, com mais 19 comparsas, R$ 1,4 milhão de uma empresa de valores, Marcos Herbas Camacho ainda aguarda sentença

Escrito por Redação , seguranca@verdesmares.com.br
Sede da Nordeste Segurança de Valores (NSV), em Caucaia, alvo de roubo em 2000
Legenda: Sede da Nordeste Segurança de Valores (NSV), em Caucaia, alvo de roubo em 2000
Foto: FOTO: LUÍS CARLOS MOREIRA

Bastaram 10 minutos para que uma quadrilha roubasse cerca de R$ 1,4 milhão da sede da Nordeste Segurança de Valores (NSV), localizada em Caucaia. O crime ocorrido em fevereiro de 2000 impressionou a população, repercutiu na mídia nacional e mostrou o poder da articulação de uma organização criminosa no Ceará. Mesmo com a repercussão, quase 20 anos depois, parte dos acusados pelo roubo milionário ainda não foi sentenciada pela Justiça.


Pelo menos 20 pessoas atuaram no ataque contra a Nordeste Segurança. Naquela época, um nome ainda não tão conhecido no ‘mundo do crime’ foi apontado como participante da ação: Marcos William Herbas Camacho, o ‘Marcola’. Nos anos seguintes, ‘Marcola’ passou a ser um dos criminosos mais procurados do Brasil e há mais de uma década é considerado o líder máximo da Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa que nasceu em São Paulo e se espalhou pelo Brasil e América Latina. 


Hoje, Marcos Herbas Camacho continua encarcerado em um presídio federal de segurança máxima, mas não pelo roubo milionário contra a NSV. Ainda em 2000, o Ministério Público do Ceará (MPCE) denunciou os 20 responsáveis pelo ataque. No dia 7 de abril de 2000, o Poder Judiciário acolheu a denúncia e, meses depois, uma parte do bando foi sentenciada. Outro grupo segue impune até hoje. Marcola está entre estes que ainda não receberam condenação pelos crimes de roubo qualificado e associação criminosa.


A legislação prevê que em 20 anos, contados a partir do dia do recebimento da denúncia, se não houver sentença, os crimes atribuídos a eles prescrevem. Marcola e os comparsas ainda não julgados poderiam ficar impunes pelo roubo em abril de 2020. No entanto, o juiz interrompeu o prazo prescricional por conta dos acusados não terem sido localizados. O prazo só começou a contar quando Herbas Camacho foi localizado em novembro de 2001. Ou seja, ele terá que ser julgado até novembro de 2021.


Além dele, ainda não foram julgados os réus Francisco de Assis Barroso Braga, Josimar de Assis, Paulina Irala, Fábio Augusto Nogueira Fitze, Iris Ferreira de Araújo e Djalma Enio Toshiaki Suwaki. Conforme os autos, até então, a instrução criminal prosseguiu para os denunciados Sebastião Nunes Siqueira, Francisco Felipe do Nascimento, Wellyngton Gabriel de Sousa, Ionete Ferreira de Oliveira, Reinaldo Teixeira Campos, Uel Leite de Souza, Maurício Alves Ribeiro, Normando Moreira Silva, José Wilton Cosmo Alves, Aiderval Barbosa Carvalho, Giulliano Veiga Ferreira e Sílvio Carvalho Junqueira. Quase todos eles foram sentenciados a décadas de prisão, exceto Ionete Ferreira, absolvida pela Justiça ainda no ano de 2002.


Movimentação
No início deste mês de agosto, ocorreu uma movimentação no processo acerca do roubo qualificado. O caso que tramitava na 3ª Vara Criminal da Comarca de Caucaia foi enviado para a Vara de Delitos de Organizações Criminosas do Estado do Ceará. No pedido do declínio de competência, o juiz Francisco Marcello Alves Nobre alegou que os fatos narrados evidenciam a probabilidade de os réus constituírem uma organização criminosa.


A reportagem solicitou ao Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) entrevista para esclarecer por que somente agora, no último dia 1º, o processo foi transferido para a Vara de Delitos de Organizações Criminosas. Em nota, o TJCE informou que é vedado ao magistrado manifestação ou opinião sob processo pendente de julgamento ou já julgado. O Tribunal de Justiça também não respondeu ao questionamento acerca do que difere o processo tramitar em Caucaia ou na Vara especializada. 


Ataque premeditado


De acordo com a denúncia do MPCE, o roubo de R$ 1,4 milhão aconteceu com apoio de sofisticado armamento a partir de um alto investimento. A ação teve início com a aproximação de Djalma Enio Toshiaki Suwaki da irmã do supervisor de segurança da NSV, José Wilton Cosmo Alves. O plano foi informado para Wilton que concordou participar em troca de R$ 35 mil. A quadrilha conseguiu a senha de acesso ao cofre e alugou imóveis no entorno da empresa a fim de estudar toda a rotina de quem trabalhava lá.


Para garantir o transporte e a segurança da quadrilha foram roubados carros e feita uma série de sequestros contra familiares de funcionários do estabelecimento que seria alvo em breve. Um dos funcionários rendido foi utilizado para que os portões da Nordeste Segurança fossem abertos. Em posse de metralhadoras, fuzis e granadas, começou o assalto. Nos autos consta que Marcola foi um dos criminosos a invadir a empresa. Ainda segundo a denúncia, após a fuga o grupo se dirigiu até Sobral, onde havia um avião e um piloto comparsa à espera dos malotes de dinheiro.


Em abril de 2001, sete réus foram condenados a 29 anos de prisão por roubo qualificado e associação criminosa. A defesa de Marcola alegou que na época do roubo ele estava preso na cadeia de Taubaté.


Considerando a inflação e que parte do montante roubado pela quadrilha na época foi em dólar, hoje, o R$ 1,4 milhão levado da empresa equivale a, aproximadamente, R$ 4,3 milhões. 


Ao PCC também foram atribuídos outros crimes com prejuízos milionários ocorridos no Ceará, são eles: o roubo à empresa Corpvs Segurança, em 1999, de onde foram levados R$ 6,3 milhões; e o furto ao Banco Central, ocorrido em agosto de 2005, quando subtraíram aproximadamente R$ 165 milhões. Até hoje, o furto é considerado o segundo maior ataque a banco no Brasil. Para ter sucesso na empreitada e invadir o Banco Central, os criminosos escavaram um túnel em três meses. 
 

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