Mais membros da GDE irão para presídios federais

Principais líderes da facção já tinham sido transferidos em janeiro deste ano. Entretanto, fontes ouvidas pela reportagem apontam que as ordens, agora, estão partindo de fora do cárcere

Escrito por Messias Borges , seguranca@verdesmares.com.Br
Legenda: Em um dos ataques, 16 veículos foram incendiados em uma concessionária na Av. Santos Dumont, no Papicu
Foto: Foto: Carlos Marlon

A Onda de ataques criminosos continua a se alastrar pelo Ceará. Além da reação nas ruas, o Estado aposta na transferência de presos ligados à facção Guardiões do Estado (GDE) para outros presídios estaduais e até para unidades federais.

O governador Camilo Santana confirmou, nas redes sociais, que conversou com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, sobre a situação do Estado, e vagas nos presídios federais foram cedidas. A quantidade de vagas não foi divulgada, segundo o Ministério da Justiça, "por questões de segurança".

Em relação às transferências entre as unidades estaduais, a Secretaria da Administração Penitenciária do Ceará (SAP) informou que 257 detentos da Penitenciária Francisco Hélio Viana de Araújo, em Pacatuba; do Centro de Triagem e Observação Criminológica (CTOC); e da Cadeia Pública de Quixadá mudaram de unidades. Todos pertencem à GDE e foram recambiados entre o último domingo (22) e a segunda-feira (23).

O Ministério Público do Ceará (MPCE) já tinha afirmado que pediria a transferência de lideranças dos ataques para presídios federais. Ontem, o Ministério da Justiça, também em nota, afirmou que acompanha a situação do Ceará e disponibilizou vagas no Sistema Penitenciário Federal para receber líderes criminosos envolvidos nas ações. O Departamento Penitenciário Nacional, segundo o Ministério, aguarda a lista de presos por parte do Governo do Ceará e a autorização judicial.

O secretário da Administração Penitenciária, Mauro Albuquerque, diz que "é um grupo específico que estamos isolando, para termos um melhor controle sobre os mesmos, não deixando que eles tenham contato externo tão facilmente". "O Sistema (Penitenciário) está totalmente tranquilo, controlado, com suas atividades normais, sala de aula, atendimento jurídico e atendimento da saúde, totalmente na rotina", garantiu.

Conforme o secretário da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), André Costa, algumas lideranças que ordenaram os ataques já foram identificadas. "Parte deles são pessoas de um segundo ou terceiro escalão, que têm uma maior facilidade de acesso a informações. Aqueles (presos) do maior escalão já estão em um Regime Diferenciado, dentro dos presídios. Eles, hoje, têm mais dificuldades de passar informações, ordens, mas não são incomunicáveis, têm acesso a familiares e advogados, e essa é uma forma possível de comunicação".

Efeitos

Uma fonte ligada à Inteligência da SSPDS e a presidente do Conselho Penitenciário do Ceará (Copen), advogada Ruth Leite Vieira, contaram à reportagem que as ordens para os ataques estão partindo de lideranças locais da GDE que estão soltas. "Acho que da outra vez, em janeiro, a transferência foi uma medida que teve muito resultado. Desta vez, não considero um resultado muito positivo, porque as ordens são de fora (dos presídios). Os líderes foram substituídos. A demora para voltar a atacar foi um tempo de reorganização. Como não estão na tutela do Estado, fica mais difícil de controlar", analisa.

Pelo menos, 20 lideranças da GDE já tinham sido transferidas para presídios federais, em janeiro, como estratégia do Governo para frear a maior série de ataques criminosos da história do Ceará. Daquela vez, as facções Comando Vermelho (CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC) também confrontaram o Estado e tiveram líderes transferidos.

Os ataques criminosos se espalham pela Capital, Região Metropolitana (RMF) e Interior. Durante toda a terça-feira (24), foram contabilizadas 13 ações criminosas, com concentração expressiva na Capital. Do total de ataques, dez ocorreram em Fortaleza. Todas em bairros distintos. Em uma das ocorrências, 16 veículos foram incendiados em uma concessionária localizada na Avenida Santos Dumont, no bairro Papicu, no período da manhã. Responsáveis pela loja confirmaram que o prejuízo é de cerca de R$ 2 milhões.

Prisões

A Secretaria da Segurança traçou um plano emergencial para combater os ataques criminosos; convocou policiais militares que estavam de folga e de férias, o que significou um incremento de 170 equipes nas ruas; e pediu o empréstimo de 200 radiocomunicadores à Força Nacional, para otimizar a comunicação dos agentes de segurança. Os esforços resultaram na captura de 31 suspeitos de participar das ações criminosas.

"A nossa determinação é intensificar as operações policiais. As nossas Forças de Segurança têm combatido essas ações e prendido esses bandidos. Vamos intensificar as ações, com blitz, operações em toda a Capital e cidades cearenses. Estamos também com parcerias importantes com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), a Polícia Federal (PF) e o Ministério Público, e a Guarda Municipal e a AMC (Autarquia Municipal de Trânsito) em Fortaleza", pontuou o governador.

O secretário André Costa reafirmou que os ataques são motivados pela forte ação do Estado nos presídios, o que desagradou presos que estavam acostumados com "regalias", como visitas íntimas e acessos a aparelhos celulares e outros eletrônicos. "Já é determinação do governador Camilo Santana para que, dentro e fora dos presídios, o Estado não ceda um milímetro sequer. Essas ocorrências não vão adiantar de nada. E só o que eles (criminosos) vão ganhar é serem presos e vão entrar no mesmo sistema penitenciário - que eles querem com regalias - sem regalias nenhuma".

Questionado por que a Polícia não conseguiu impedir as ações criminosas, o titular da SSPDS alegou que

"o Estado se antecipou a outras situações, evitando que crescesse qualquer tipo de movimento neste sentido. Mas são crimes, como outros crimes, e a gente não consegue evitar que todo e qualquer crime aconteça", disse André Costa.

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