Homicídios no CE crescem 98%; relação com isolamento ainda é incerta

De 19 a 29 de março deste ano, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) contabilizou 125 Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLIs) no Estado. Em igual período de 2019, foram registradas 63 ocorrências

Escrito por Emanoela Campelo de Melo , seguranca@svm.com.br
Legenda: De 1º até 29 de março deste ano foram registrados 338 homicídios no Ceará
Foto: Foto: Helene Santos

A quarentena decretada no Estado do Ceará desde o último dia 19 de março não vem sendo sinônimo de mais segurança. De 19 a 29 de março deste ano, pelo menos, 125 pessoas foram assassinadas no Ceará. Comparado a igual período de 2019, quando foram registrados 63 Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLIs), o número é 98% maior.

De 1º até 29 de março deste ano foram registradas 338 mortes violentas, que englobam homicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte. A estatística de todo o último mês de março ainda não foi consolidada pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). Há chances de os dados serem ainda maiores, quando somados casos, por exemplo, de vítimas que chegaram a ser socorridas até uma unidade hospitalar e não resistiram aos ferimentos.

O Ceará enfrenta uma onda de violência percebida a partir dos registros da Pasta, antes mesmo de começar o período de isolamento domiciliar. Em janeiro de 2020 a SSPDS contabilizou 265 CVLIs, seguidos por outros 456 homicídios no mês de fevereiro.

O pico de mortes violentas em fevereiro aconteceu enquanto grupos de policiais militares paralisaram as atividades e comprometeram o policiamento ostensivo nas ruas. Fontes ligadas ao setor de Inteligência da SSPDS já presumiam que mesmo após o dia 1º de março, data do fim do motim, não seria tão breve a retomada das rédeas por parte das autoridades.

Longo prazo

O sociólogo e coordenador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), César Barreira, considera que é preciso olhar a longo prazo e entender a incidência de uma série de fatores para o aumento de mortes percebido nos últimos dias. Para o especialista, a crescente onda da violência não é uma consequência direta da quarentena e, independentemente desse isolamento social, já era esperada.

"O primeiro aspecto é que a tendência deste aumento começou a aparecer ainda no mês de janeiro. Em fevereiro teve o forte agravante do motim e em março continuou a tendência. Em 2019, tivemos um decréscimo muito grande e 2020 vem com esse aumento. A questão das taxas de homicídio deve ser observada a longo prazo, é uma tendência histórica", opinou Barreira.

Esforços

De acordo com o secretário da Segurança Pública, André Costa, a Pasta e as vinculadas, principalmente, Polícia Militar e Polícia Civil, vêm se preparando e trabalhando para enfrentar o que pode acontecer neste cenário de quarentena. O gestor destaca que há números positivos em meio ao isolamento social, como a queda dos índices de furto em todo o Ceará.

Segundo André Costa, comparados 20 a 31 de março de 2019 e 2020, neste ano aconteceu redução de 38% nos furtos. "Muito se fala do risco da prática de saques e aí temos este dado sobre furtos contra estabelecimentos comerciais. Os dados demonstram que não há esse aumento de violência, um aumento de criminalidade por conta das ações de isolamento social", disse.

O secretário destaca que as vinculadas chegaram a ter dificuldades devido ao grande volume de chamadas recebidas via Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops) para atender a casos de aglomerações e ordens de fechar comércio durante a quarentena.

"Continuamos com as nossas ações preventivas, com as nossas ações de patrulhamento. Trabalhamos sempre com a análise de dados de georreferenciamento e desta forma planejamos ao máximo o patrulhamento, assim como trazemos todas as ferramentas tecnológicas que estão disponíveis", afirmou o titular da Secretaria da Segurança, delegado federal André Costa
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