Grupos organizados fraudam o Sistema Financeiro no Ceará

Os crimes de 'colarinho branco' demandam investigações longas.Os suspeitos, geralmente, têm alto poder aquisitivo, costumam levar vidas luxuosas e respondem aos processos em liberdade

Escrito por Redação , seguranca@verdesmares.com.br

Milhões de reais, mansões luxuosas e veículos importados, obtidos de forma fraudulenta estão, cada vez mais, no alvo da polícia. Os responsáveis por cometer os conhecidos crimes de 'colarinho branco' são, na maioria das vezes, empresários e servidores públicos. As apurações demonstram que ações de grupos articulados contra o Sistema Financeiro Nacional (SFN), tem jogado muito dinheiro público pelo ralo.

"Os crimes financeiros são cometidos por executivos de empresas, pessoas envolvidas no mundo do negócio, ligadas ao Sistema Financeiro Nacional. São pessoas da 'alta sociedade'. O criminoso comum, que chamo de 'baixo criminoso', costuma não se envolver com esses crimes", diz a chefe da Delegacia da Polícia Federal de Juazeiro do Norte, Josefa Maria Lourenço da Silva.

Segundo a delegada, os crimes financeiros ocorrem tanto no setor público, como no privado. A Lei nº 7.492/86 define as fraudes em 35 artigos. Entre as práticas criminosas estão evasão de divisas (que consiste na remessa de dinheiro para o exterior; gestão fraudulenta de instituição financeira; e obtenção fraudulenta de financiamento.

Um dos exemplos mais recentes no Ceará, é o golpe na Caixa Econômica Federal (CEF) que resultou na 'Operação Fidúcia'. O empresário Ricardo Alves Carneiro, que seria parte do esquema montado para fraudar financiamentos, foi condenado a 29 anos de reclusão pela Justiça Federal, no dia 5 de novembro.

R$ 15,8
milhões foi o rombo descoberto pela PF. O esquema criminoso de financiamentos fraudulentos junto á CEF, era liderado por 'Ricardinho' Carneiro, condenado pela Justiça Federal a 29 anos de prisão

Conforme a investigação da PF, o empresário - que dava festas frequentadas pela elite cearense - liderava um esquema criminoso que causou um rombo de R$ 15,8 milhões aos cofres da CEF.

A sentença também determinou a apreensão de quatro veículos luxuosos, sendo uma Toyota Hilux; um Porsche 911; uma BMW M5; e uma BMW X6M; e a fração de 12,5% da propriedade de um condomínio localizado na Rua José Vilar, no bairro Aldeota.

Apesar da decisão judicial, Ricardo Carneiro recebeu o direito de recorrer em liberdade, e segue levando uma vida de luxo, sem sequer ser monitorado por tornozeleira eletrônica. O réu condenado reside em uma mansão que se estende por quase um quarteirão, na Praia do Porto das Dunas, em Aquiraz. O imóvel não foi confiscada pela Justiça.

Legenda: Ricardo Alves Carneiro dava festas frequentadas pela elite do Ceará

Conforme a ação penal, o empresário informou à Receita Federal que o imóvel custava R$ 200 mil, nas declarações do Imposto de Renda de 2010 a 2013. 'Ricardinho' é conhecido na vizinhança. Uma pessoa que trabalha na região conta que ele sai de casa todos os dias, cedo, "para trabalhar". A reportagem procurou por ele na residência, e foi informada que ele não estava e que nenhum familiar falaria.

Além do rombo à Caixa, Ricardo acumulou uma dívida de R$ 6,5 milhões com a Receita Federal, em 2015 - ano em que a 'Operação Fidúcia' foi deflagrada. Questionada sobre a dívida, a assessoria de comunicação da Receita respondeu que "as informações solicitadas estão protegidas por sigilo fiscal". Em 2018, o empresário declarou à Receita que não teve nenhum centavo de rendimento.

Prejuízo

A delegada federal Josefa Lourenço afirma que os crimes financeiros prejudicam diretamente a população. "A vítima é difusa, porque é a própria coletividade. Mesmo quando a vitima é um banco público, toda a coletividade sofre, porque deixa de ter aquele recurso aplicado corretamente".

Conforme a delegada, a pena para crimes financeiros varia de 1 a 6 anos de reclusão, mas há exceções, como na gestão fraudulenta de instituição financeira, que a pena pode chegar a 12 anos. Os processos, porém, costumam se arrastar por muito tempo.

"A investigação é mais difícil, porque envolve grandes sistemas financeiros, quebra de sigilo bancário e fiscal. Se os suspeitos chegarem a ser denunciados, são pessoas com alto poder aquisitivo, que conseguem contratam grandes bancas de advogados para entrarem com vários recursos. Isso protela o julgamento", afirma.

A credibilidade que os membros da 'alta sociedade' possuem com as instituições financeiras fazem com que sejam cedidos créditos seguidos, segundo a delegada. Foi assim que o esquema montado por Ricardo Carneiro conseguiu 17 empréstimos ou financiamentos junto à Caixa. O empresário chegou a utilizar um documento falsificado para adquirir os créditos. "É muito comum pessoas de elevado status financeiro conseguirem empréstimos com um 'jeitinho' do banco, sem as garantias necessárias. Em outras oportunidades, essas garantias também são fraudadas", aponta. A defesa de Ricardo Carneiro não foi localizada pela reportagem.

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