Ex-guerrilheiro das Farc afirma que prisão tem motivação política

‘El Patrón’ acredita que o alvo dos Estados Unidos era um general do Exército venezuelano e a sua detenção é uma “retaliação”. O governo norte-americano considera o colombiano, detido em Fortaleza, um traficante internacional

Escrito por Messias Borges , messias.borges@svm.com.br

O colombiano Guillermo Amaya Ñungo, conhecido como ‘El Patrón’, de 55 anos, afirmou ao Supremo Tribunal Federal (STF) – em audiência realizada na 11ª Vara da Justiça Federal no Ceará, em Fortaleza, ontem – que a motivação da sua prisão é política. Para o Governo dos Estados Unidos da América, que requisitou a extradição do preso, ele é um ex-guerrilheiro das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e traficante internacional de drogas.

Ao ser interrogado pela juíza Suzana Massako Hirama, do STF, ‘El Patrón’ negou as acusações de tráfico de entorpecentes e disse que trabalhava na Venezuela como produtor agropecuário, sendo proprietário de uma fazenda, que começou – junto de outros territórios – a ser utilizada pelo governo do então presidente Hugo Chávez para se reunir com grupos de guerrilha.

‘El Patrón’ garantiu que os encontros aconteciam sem o seu consentimento e contou que, por ser o responsável pela propriedade, começou a ser obrigado a transmitir mensagens e documentos entre o Exército Nacional e os grupos de guerrilha. “Eu fui vítima das circunstâncias”, alegou.

Para o colombiano preso em Fortaleza, o alvo dos Estados Unidos é o ex-chefe da inteligência militar da Venezuela, o general Hugo Carvajal, que comandava as tropas que ocupavam a sua fazenda. O governo norte-americano também pediu a prisão de Carvajal, que foi efetuada na Espanha. Entretanto, a Alta Corte da Espanha foi contra a extradição do militar, em decisão proferida no dia 16 de setembro último – um dia antes da prisão de ‘El Patrón’. “Eu penso que (a minha prisão) é uma retaliação dos Estados Unidos, porque não conseguiu prender o general”, concluiu

Carvajal também é acusado de tráfico internacional de drogas pelas autoridades norte-americanas, sendo apontado como membro de um cartel colombiano que enviava cocaína para a América do Norte. Ele e outros 12 oficiais foram expulsos das Forças Armadas da Venezuela, pelo presidente Nicolás Maduro, em abril deste ano, motivado pelo fato de os militares passarem a reconhecer Juan Guaidó como presidente do País.

Medo
Guillermo Amaya Ñungo ressaltou que fugiu da Venezuela por medo de ser assassinado pelas forças que se reuniam em sua fazenda. Um capitão que levava ordens para os grupos de guerrilha teve este fim. O preso afirmou que recebeu ameaças de que sequestrariam a filha dele adolescente.

O colombiano revelou ainda que estava em Fortaleza há cerca de um ano, ao contrário do que tinha dito para a Polícia Federal (PF) no dia em que foi preso, 17 de setembro deste ano, quando contou que estava na capital cearense há apenas três meses. Questionado pela juíza sobre como se mantinha com a esposa e dois filhos, ele afirmou que ninguém trabalhava, mas o casal estava planejando construir um restaurante e, por enquanto, vivia de doação de amigos da Venezuela.

O preso começou a ser representado, na última terça-feira (3), pelo advogado Luiz Gustavo Battaglin, do Mato Grosso do Sul, já acostumado a defender estrangeiros no País e atuar em casos de extradição, expulsão e deportação. Um dos clientes do defensor foi o também colombiano Juan Carlos Ramírez Abadía, o ‘Chupeta’, apontado como um dos maiores traficantes internacionais do mundo. A juíza deu dez dias para o advogado apresentar a defesa escrita de ‘El Patrón’ no Supremo Tribunal Federal.
 

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