CGD instaura procedimentos contra delegada e três inspetores

Processos vão apurar o uso de um veículo cedido pela Justiça à Divisão de Combate ao Tráfico de Drogas e um suposto caso de extorsão. Os quatro agentes são investigados no âmbito da Operação ‘Vereda Sombria’

Escrito por Redação , seguranca@verdesmares.com.br

Quase um ano após a deflagração da Operação ‘Vereda Sombria’, da Polícia Federal (PF), a Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário do Ceará (CGD) abriu processos administrativos disciplinares contra uma delegada e três inspetores lotados na Divisão de Combate ao Tráfico de Drogas (DCTD), investigados num suposto esquema criminoso que objetivava a subtração de drogas ou anabolizantes.

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Agentes denunciados. O MPF indicou a participação de uma delegada, 13 inspetores da Polícia Civil e mais um policial rodoviário federal na teia criminosa investigada dentro da Operação Vereda Sombria

Em duas portarias publicadas na última quarta-feira (14), a CGD determinou o afastamento da delegada Patrícia Bezerra de Souza, ex-titular da Especializada, e dos inspetores Raimundo Nonato Nogueira Júnior, Fábio Oliveira Benevides e Petrônio Jerônimo dos Santos, “por prática de ato, em tese, incompatível com a função pública”.
Um procedimento investigará o uso de um automóvel da marca Jeep, modelo Renegade, apreendido na primeira fase da Operação, em dezembro de 2017. O veículo foi encontrado na residência de Fábio Benevides, com placas “frias”, ou seja, sem cadastro no Departamento Estadual de Trânsito (Detran-CE).

O automóvel foi requerido por Patrícia Bezerra à 1ª Vara de Delitos de Tráfico de Drogas, para uso na DCTD. A autorização judicial indicava que o carro seria destinado “exclusivamente no interesse de prevenção e repressão ao tráfico ilícito de drogas”.

R$50 mil
Cobrados em extorsão. O valor teria sido sugerido pelo inspetor Petrônio Jerônimo dos Santos para não prender o receptador de um automóvel roubado no bairro Sapiranga, em outubro de 2017

No entanto, mesmo sem certificação do Detran, o veículo foi acautelado a Raimundo Nonato, em julho de 2017. Quando da apreensão, o Jeep continuava sem os registros legais. A portaria reconhece a “necessidade de apurar a procedência dos recursos utilizados no abastecimento e na manutenção” do carro.
Outra portaria tem como alvo a conduta de Petrônio. O documento aponta que o policial civil teria concordado em receber R$ 10 mil para recuperar um veículo Toyota Hilux roubado em outubro de 2017, no bairro Sapiranga. A PF descreve que Petrônio teria exigido ao receptador o valor de R$ 50 mil para não prendê-lo.

Defesa

A defesa da delegada Patrícia Bezerra, representada pelo advogado Leandro Vasques, informou que a situação do veículo “já foi exaustivamente esclarecida perante a Justiça Federal e será igualmente explicada junto à CGD”. Ele afirma que o veículo foi apreendido em operação da DCTD e, depois, foi utilizado por policiais da Divisão, “com autorização judicial, nos exatos termos do artigo 62 da Lei de Drogas”.

O advogado Kaio Castro, que defende os inspetores, declarou que Fábio e Raimundo ainda não foram intimados sobre o procedimento. “O que deve ser considerado é que existia autorização judicial e não cabe aos policiais questionar as condições do veículo, sobretudo ter ciência de uma possível adulteração, até porque caberia ao órgão competente, a Perícia”, informou.

Já no caso de Petrônio, o advogado ressaltou que, nesta semana, a vítima do assalto do veículo negou à CGD que tenha oferecido qualquer valor ou que algum policial tenha aceitado ou solicitado vantagem para encontrar o carro. “O depoimento já foi bem esclarecedor e esperamos o arquivamento direto”, afirma

Esquema complexo

O Operação 'Vereda Sombria' revelou que policiais civis recrutavam criminosos envolvidos com o tráfico de drogas para exercerem o papel de "informantes", para ganhara confiança de outros traficantes e combinar a compra de drogas. Depois, policiais e "informantes" abordavam o traficante, subtraindo a droga e os valores, e, mediante ameaças e torturas, solicitavam mais bens. Por fim, os policiais formalizavam a apreensão de quantidade inferior e desviavam a diferença para revenda ou sequer reportavam os fatos, ficando com toda a substância apreendida.

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