Centro de Inteligência trocou mais de mil documentos em um ano

O equipamento, que foca no enfrentamento às organizações criminosas, intercambiou documentos secretos com agências de inteligência do Nordeste e da Federação. Apesar da colaboração, o Centro não evitou ataques no Ceará

Escrito por Messias Borges , messias.borges@svm.com.br
Legenda: Em janeiro e setembro, duas ondas de ataques assustaram a população do Estado
Foto: FOTO: JOSÉ LEOMAR

Um equipamento instalado para reunir informações de investigações policiais do Nordeste, com caráter extremamente sigiloso. O Centro Integrado de Inteligência de Segurança Pública Regional do Nordeste (CIISPR-NE), sediado em Fortaleza, completou um ano, ontem (7), e já trocou mais de mil documentos, segundo informações do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) - o número exato não foi divulgado.

Conforme o Ministério, os documentos foram trocados com agências de inteligência dos estados do Nordeste e da Federação. "Além de assessorar os gestores de inteligência da Região Nordeste e tornar o fluxo de informações entre as Agências de Inteligência estaduais mais rápido, o CIISPR-NE também tem como objetivo fortalecer a atividade de inteligência na região", destaca, em nota.

O principal foco do Centro é o combate ao crime organizado, principalmente às quadrilhas interestaduais. Atuam, no equipamento, servidores das polícias estaduais, do Sistema Penitenciário, da Polícia Federal (PF), da Polícia Rodoviária Federal (PRF), da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), da Secretaria Nacional de Política Sobre Drogas (Senad), do Ministério Público e do Poder Judiciário.

Crimes

O Ministério da Justiça cita que o Centro de Inteligência colaborou no enfrentamento a "duas 'crises' no Ceará, onde membros de organizações criminosas afrontavam o Estado com ações contra órgãos públicos e privados. Durante essas ondas de ataques ocorridas nos meses de janeiro e setembro, o CIISPR-NE apoiou os órgãos de Segurança Pública no que foi necessário, com informações estratégicas para auxiliar no processo decisório e fazer cessar as agressões ao Estado".

Em janeiro deste ano, três facções - Comando Vermelho (CV), Guardiões do Estado (GDE) e Primeiro Comando da Capital (PCC) - se voltaram contra o Estado e promoveram a maior série de ataques criminosos da história do Ceará. Foram mais de 200 ocorrências. Com apoio de tropas nacionais e de outros estados, foram capturados mais de 400 suspeitos e transferidos líderes das organizações criminosas para presídios federais.

A motivação das facções era uma reação ao endurecimento no Sistema Penitenciário, com a chegada do secretário Mauro Albuquerque. As mudanças nos presídios motivaram uma nova revolta, em setembro deste ano. Desta vez, a GDE, sozinha, realizou 110 ataques. Pelo menos, 230 suspeitos foram capturados. Nas duas ocasiões, a Inteligência atuou para enfrentar os atos criminosos, mas não conseguiu evitá-los.

A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS-CE) afirma que "o equipamento traz um impacto positivo direto no combate a crimes interestaduais, como roubo a bancos e cargas, e a grupos criminosos organizados com atuação em vários estados. O Centro também facilita a troca de informações sobre sistemas penitenciários".

Sigilo

O funcionamento do Centro Integrado de Inteligência de Segurança Pública Regional do Nordeste é tratado com extremo sigilo pelas forças de segurança federais e estaduais. O Ministério da Justiça e a SSPDS-CE não aceitaram conceder entrevista sobre o assunto. O acesso ao equipamento também não é permitido à imprensa e ao público.

O Centro de Inteligência funciona no Palácio de Iracema, em Fortaleza. A promessa inicial do MJSP era de investir R$15 milhões no equipamento e reunir 38 bancos de dados, nacionais e internacionais, para as investigações.

O então ministro Raul Jungmann veio à capital cearense para inaugurar o Centro, com a presença de governadores da Região, inclusive Camilo Santana, no dia 7 de dezembro de 2018. O lançamento foi ofuscado por um episódio ocorrido horas antes no Ceará, que ficou conhecido como Tragédia em Milagres. A ação da Polícia Militar para evitar ataques a bancos, que seriam cometidos justamente por uma quadrilha interestadual, no Município, matou 14 pessoas, sendo seis reféns.

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