Briga entre detentos termina com sete mortos e 13 feridos na CPPL I

Escrito por Redação ,
A confusão começou logo após a visita de domingo. Os presos queimaram colchões e 7 foram carbonizados

O confronto entre detentos da Casa de Privação Provisória de Liberdade Agente Luciano Andrade Lima (CPPL I), em Itaitinga, na Grande Fortaleza, terminou com sete presos mortos e 13 feridos por queimaduras. A briga começou quando um interno da ´Rua´ E, do Pavilhão 1, foi agredido por outro da ´Rua´ F. Isso ocorreu por volta de 16 horas de domingo, quando ainda havia visitantes no presídio. Os presos não aceitam que rixas sejam resolvidas em dia de visita.

Quando o dia amanheceu, o clima na CPPL I parecia já estar tranquilizado com a retirada dos feridos e dos corpos dos mortos. A segurança foi reforçada FOTO: ALEX COSTA


Por volta de 23 horas, os presos da ´Rua E´ resolveram ir à forra. Para chegar até lá, os revoltados destruíram os cadeados e grades das ´Ruas´ D, E, G e H.

Os detentos não tiveram dificuldade em romper as barreiras, principalmente as grades que separam as ruas. "Existem muitos ´espirros´ (grades serradas não perceptíveis a olho nu). Por isso, os presos chegaram logo à Rua F", contou Valdemir Barbosa, presidente do Sindicato dos Agentes e Servidores do Sistema Penitenciário (Sindasp).

Logo que chegaram à ´Rua´ E, os detentos ansiosos por vingança pegaram todos os colchões e atearam fogo. Muitos presos já estavam dormindo e não conseguiram escapar da fúria dos inimigos. Sete tiveram morte imediata. Treze foram levados ao Instituto Doutor José Frota (IJF) com queimaduras.

Mortos

Segundo a Secretaria da Justiça e Cidadania (Sejus), oficialmente, a lista dos mortos é a seguinte: Antônio Maurício dos Santos Aguiar, Benedito Freitas Vieira, Jonathan de Oliveira Albuquerque, José Reinaldo de Lima e Paulo Roberto Pinto de Oliveira, além de outros dois que não haviam sido, oficialmente, identificados até o começo da noite de ontem. Dos 13 detentos que foram encaminhados ao hospital, três já receberam alta médica e foram levados de volta para a unidade prisional. Já dos dez que permanecem hospitalizados, nove estão no Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) e um na Emergência.

No momento do confronto, quatro agentes penitenciários estavam de plantão, além de cinco policiais militares. Sessenta detentos foram retirados das celas da Rua F por dois agentes e três PMs. "Se eles não tivessem sido retirados rapidamente, teriam morrido asfixiado", ressaltou Valdemir Barbosa.

Na manhã de ontem, vários familiares dos detentos foram à CPPL I, à procura de informações. Muitos terminaram sabendo que o ente querido havia falecido. Os sete corpos das vítimas do incidente foram encaminhados para a Coordenadoria de Medicina Legal (Comel) da Perícia Forense do Ceará (Pefoce).

Dez pacientes correm risco de morte

Ao todo, 13 feridos na briga entre os detentos da CPPL I deram entrada no Instituto Doutor José Frota (IJF), ontem. De acordo com o cirurgião plástico, Francisco das Chagas Ley, do Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) do hospital, todos os internados correm risco de morte.

Um dos presos que sofreram queimaduras durante o incidente recebeu alta médica no fim da tarde de ontem. Mesmo com o corpo todo enrolado em gazes, ele retornou para o presídio. Outros dez presos continuam no IJF-Centro FOTO: KLÉBER GONÇALVES


O médico disse que nenhuma substância tóxica provocou, ou, potencializou as queimaduras que os detentos sofreram. As chamas que eles próprios causaram, teriam sido as responsáveis pelas muitas lesões.

Francisco Ley disse, ainda, que todos os presidiários que estão internados tiveram mais de 40 por cento do corpo queimado. "Todos estão na mesma escala de gravidade. Em termos de tratamento estão estáveis, mas todos correm risco de morte".

Segundo o médico, o tratamento que vem sendo usado, chamado de balneoterapia, é baseado em banhos para reidratação da pele e retirada do tecido danificado pelas chamas. "Eles também foram anestesiados para que fossem feitas as limpezas das feridas. Estão sonolentos, por conta do medicamento, mas todos lúcidos".

Francisco Ley afirmou que não há previsão de alta para nenhum deles nos próximos 14 dias. "Diante do estado em que se encontram, podem passar de 14 a 28 dias internados. O quadro inspira muitos cuidados", afirmou o cirurgião.

Retornaram

Três presos que deram entrada no IJF já receberam alta e retornaram à CPPL I. Rodrigo Sales de Almeida, Francisco Arlindo Silva dos Santos e Francisco José Alves foram levados na tarde de ontem de volta ao presídio, após serem medicados.

A ambulância, conduzida por um funcionário da Secretaria de Justiça (Sejus), levou os presos escoltados por PMs.

De acordo com informações do IJF, permanecem no CTQ dez feridos na confusão. São eles, Anderson Pinheiro da Rocha, 23; Wesley Lopes do Nascimento, 19; Estênio Pereira Carneiro, 28; Cássio da Cunha Cavalcante, 35; Ítalo Leite da Silva, 30; Egnaldo Alves Soares, José Fernando de Abreu, Igor de Lima Junior, Francisco Alexandre Félix do Nascimento e Raimundo Nonato Silva de Lima Junior.

Raimundo Nonato Junior era o único que não havia sido identificado até a tarde de ontem. No entanto, quando acordou da anestesia, ele mesmo revelou seus nome aos médicos. Portanto, todos os detentos que estão se recuperando no hospital já foram identificados.

Familiares não localizam presidiários

Os familiares de um detento, que não quiseram se identificar, reclamavam da confusão causada pelas informações dadas na CPPL I sobre a verdadeira situação dos presos. A mãe, a irmã e a esposa de um dos detentos procuravam pelo corpo dele na Coordenadoria de Medicina Legal (Comel) depois de já terem ido duas vezes ao Instituto Doutor José Frota (IJF).

"A esposa dele soube pela internet que tinha acontecido essa rebelião. Quando chegamos ao presídio, vimos que ele estava na lista dos mortos. Depois, fomos informadas de que ele estava no IJF. Por fim, não o encontramos em lugar algum", afirmou a irmã do preso.

A mãe do detento, a quem elas chamam apenas de ´Paulo´, participou do reconhecimento dos corpos e disse que seu filho não é nenhum dos sete cadáveres. Depois de ir duas vezes ao IJF, revelaram que a entrada dele não constava na emergência nem no CTQ.

"Nossa esperança é que a direção do presídio tenha se enganado em colocar o nome dele na lista de mortos", disse a mãe de ´Paulo´, abalada pela angústia da procura pelo filho.

Outra família, que também se identificou, estava em situação parecida. "Eles nos disseram que ele estava no IJF, mas não está. Suspeitamos que, infelizmente, esteja morto. Estou aguardando para reconhecer o corpo", afirmou outra mãe.

As pessoas que estavam na Comel se diziam indignadas com as informações desencontradas prestadas na CPPL I.

Defensoria iria começar um mutirão na unidade

Na manhã de ontem, vários familiares dos detentos foram à CPPL I, à procura de informações. Muitos se desesperaram diante das poucas informações que obtiveram. Algumas esposas, mães e irmãs dos detentos que estão na CPPL I preferiram seguir direto para o IJF-Centro buscar informações sobre o ocorrido.

O que restou dos colchões foi levado para uma lixeira e o rescaldo feito pelos Bombeiros FOTO: ALEX COSTA


Alguns familiares de presos conversaram com defensores público, que deveriam ter iniciado ontem um mutirão para verificar a situação jurídica de cada detento. "O mutirão tem duração prevista pra uma semana. São 900 presos provisórios e o nosso objetivo é verificar todos os casos", informou o defensor público Bruno Neves.

Orientação

Os familiares dos presos, mortos e feridos, que aguardavam notícias do lado de fora da CPPL I, foram orientados a procurar a Defensoria Pública, para que todas as providências legais sejam tomadas. Os defensores públicos esperam que os trabalhos possam começar hoje.

SAIBA MAIS

Conforme a Secretaria da Justiça e da Cidadania (Sejus), é a seguinte a lista oficial dos mortos no incidente nas dependências da CPPL I: Antônio Maurício dos Santos Aguiar, Benedito Freitas Vieira, Jônathas de Oliveira Albuquerque, José Reinaldo de Lima, Paulo Roberto Pinto de Oliveira, além de outros dois que não foram ainda oficialmente identificados. No IJF-Centro deram entrada apresentando queimaduras os seguintes detentos, Pinheiro da Rocha, Wesley Lopes do Nascimento, Estênio Pereira Carneiro, Cássio da Cunha Cavalcante, Ítalo Leite da Silva, Ednaldo Alves Soares, José Fernando de Abreu, Igor de Lima Júnior, Rodrigues Sales de Almeida, Francisco Arlindo Silva dos Santos, Francisco Alexandre Félix do Nascimento, Francisco José Alves, Raimundo Nonato Silva de Lima Júnior. Conforme os médicos de plantão no hospital, a maioria dos pacientes apresenta até 40 por cento do corpo com queimaduras graves. Todos estão sendo submetidos a tratamento à base de banhos e estão sob o efeito de anestésicos. Os médicos informaram que eles poderão permanecer por até cerca de um mês internados. Três dos 13 atendidos no hospital já receberam alta e retornaram para a CPPL I

FERNANDO RIBEIRO/FERNANDO BARBOSA/MÁRCIA FEITOSA
EDITOR/REPÓRTER/ESPECIAL PARA POLÍCIA
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