Após duas semanas, Ceará tem dia sem registro de ataques

Entre a madrugada de terça-feira e a noite de ontem, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) não contabilizou ocorrências. Já o número de presos e apreendidos sob suspeita de envolvimento nos ataques subiu para 376

Escrito por Redação ,

Catorze dias após o início da sequência de ataques criminosos no Ceará, uma notícia carregada de otimismo reitera a vontade do povo de ocupar novamente os espaços de estudo, de trabalho e de lazer. Conforme a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), o Estado não registrou nenhuma ação de violência entre a madrugada até a noite de ontem (15).

A última ocorrência aconteceu na noite de segunda-feira (14) no distrito de São Jerônimo, em Guaiúba, na Região Metropolitana de Forrtaleza (RMF), quando um ônibus foi incendiado. Segundo a Polícia Militar do Município, homens atearam fogo no veículo que trafegava em uma estrada carroçável. O Corpo de Bombeiros foi ao local para apagar as chamas. Não há informações sobre o número de feridos e nem se o grupo já foi capturado.

Ao mesmo tempo, subiu para 376 o número de pessoas presas ou apreendidas por suspeita de envolvimento nos casos de vandalismo a equipamentos públicos e privados. A tendência é que o total de capturados possa aumentar ainda mais, já que entre os dias 2 a 13 de janeiro, as forças de segurança receberam 3.725 denúncias anônimas.

Recomeço

"Graças a Deus tudo parece voltar ao normal". O relato da ambulante Camila Sousa, 31, sintetiza o clima de quem frequenta a Praça do Ferreira, em Fortaleza. Na medida em que os ataques cessam, o comércio da Capital tenta voltar a sua normalidade. A exemplo do vai e vem de vendedores com pés apressados ou dos clientes com olhos atentos e curiosos às vitrines das loja, o Centro resgata, aos poucos, a movimentação intensa a que está acostumado e vai deixando para trás o fechar das lojas mais cedo.

Camila Sousa lembra que, dias atrás o cenário era outro. "Semana passada, isso aqui estava quase um 'breu'. Pouquíssima gente teve coragem de vir. E, quem veio, parecia muito tenso e com medo". Inclusive ela. A autônoma precisou encerrar o serviço de venda de bombons "mais cedo" por conta da sensação de insegurança, compartilhada por muitos frequentadores até hoje, só que em menor intensidade.

Perigoso

À procura de um novo tênis para o neto, a camareira Cristiane Miranda, 40, havia planejado fazer a compra já nos primeiros dias do ano, mas resolveu "esperar a poeira baixar porque estava muito perigoso", conta. A decisão de sair de casa rumo ao Centro foi tomada depois que ela soube do reforço de policiais no local, o que, ainda assim, a fez ter receio. "Às vezes, fico olhando se tem alguém suspeito, mas sem dúvida, ver os PMs aqui me deixa muito mais aliviada", afirma.

E se tem cliente nas lojas, a retomada nas vendas é uma garantia para quem lucra com os produtos. Segundo Rogério Rodrigues, gerente de uma loja de calçados, o fluxo de compradores "normalizou" nesta terça-feira, mesmo com a forte chuva.

"Muita gente não comprou na semana dos ataques e estão vindo com força agora pagar os seus carnês, aproveitar as ofertas e fazer as compras do colegial. Estamos nos recuperando, tanto da parte de profissionais, já que os vendedores não estão faltando mais. Eles estavam sem poder vir ao trabalho porque não tinha ônibus circulando", diz.

Serviços

Apesar de não ter registros de ataques no Estado, a Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor) informou que vai manter para hoje a frota de coletivos reduzida na Capital e com policiais embarcados a partir das 20h. Após as 21h, apenas 161 ônibus deverão operar em regime semelhante ao do Corujão.

Outro serviço com execução prejudicada pela onda de violência e que está sendo retomado é o da coleta domiciliar de lixo. Por meio de nota, a Ecofor Ambiental informou que está operando com 100% da frota. "Estão sendo realizados mutirões de limpeza em bairros onde ainda existe acúmulo de resíduos para que, em até 72 horas, a situação esteja normalizada", complementa o órgão.

Apesar disso, a cidade ainda exibe um cenário de acúmulo de lixo anormal. É o caso da Rua General Mário Hermes, no Jardim Iracema. O lixo acumulado chega a tomar parte da via e dificulta o tráfego de pedestres, ciclistas e motoristas. Para a moradora Luiza Alves, 44, junto ao entulho, o mau cheiro atrapalha até na hora da refeição. "É bem ruim comer sentindo o odor que vem desse monte de lixo. Estamos esperando há dias o caminhão para fazer a limpeza do local", revela.

Energia

Os ataques afetaram ainda o serviço de energia no Ceará. Ao todo, 11 carros de prestadoras de serviço da Enel Distribuição Ceará foram incendiados desde o início das ações criminosas. Conforme a empresa, as lojas estão funcionando normalmente em todo o Estado, mas os atendimentos seguem com alterações. "A Enel Distribuição Ceará informa que está mantendo o atendimento dos serviços da companhia no Estado, exceto em locais onde identificar situação de risco, que são executados com apoio da Polícia Militar. Durante o período da noite, por medida de segurança, estão sendo realizados somente atendimentos emergenciais", informa.

Tranquilidade

Sobre as ações policiais realizadas pelas forças de segurança cearenses e de entidades parceiras, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social, informou que o reforço em locais estratégicos permanecerá por prazo indeterminado. A pasta diz que o objetivo é promover a tranquilidade dos cearenses e a normalidade dos serviços públicos.

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.