Acusado de matar Dandara é condenado a 16 anos de prisão

O julgamento começou às 14h e terminou por volta das 22h30 horas. Segundo a Justiça cearense, Júlio César Braga da Costa participou de forma torpe e usou de meio cruel no crime, que aconteceu em fevereiro do ano passado

Escrito por Emanoela Campelo de Melo / Messias Borges , redacao@diariodonordeste.com.br
Legenda: "Fora gay, fora viados" são ordens escritas ontem por criminosos nas placas de ônibus localizadas no bairro Parque Manibura
Foto: Foto: Thiago Gadelha

"Fora gay, fora viados", são ordens ditadas por criminosos encontradas ontem nas placas de ônibus, no bairro Parque Manibura. Enquanto isso, na mesma data, precisamente no Fórum Clóvis Beviláqua, mais uma pessoa era julgada por matar a travesti 'Dandara dos Santos'. Júlio César Braga da Costa, o sexto condenado por matar Dandara, foi sentenciado a cumprir 16 anos de prisão.

A decisão foi proferida por volta das 22h30, pela juíza Danielle Pontes de Arruda Pinheiro, da 1ª Vara do Júri de Fortaleza, após 8h30 de julgamento. A magistrada acatou a denúncia do Ministério Público do Ceará (MPCE) de que o acusado participou de um homicídio triplamente qualificado (por motivo torpe, meio cruel e recurso que impossibilitou a defesa da vítima). O regime da pena é inicialmente fechado.

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Quando ouvido, Júlio César confessou sua participação no crime realizado com requintes de crueldade em fevereiro de 2017 e que impressionou milhares de pessoas e evidenciou o preconceito que existe contra os Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais ou Transgêneros (LGBTQ+). "Não tinha intenção de matar, nem executar. Tinha consciência que estava fazendo mal a ela. Peço desculpas à família, eu errei", disse o condenado quando ouvido.

Segundo o promotor Marcus Renan Palácio, o réu julgado ontem foi "tão covarde quanto os demais": "Júlio César, quando Dandara já se encontra prostrada no chão, toda desfalecida, ele tem a insensibilidade de dar dois chutes no rosto dela e ajuda aos demais ao colocá-la no carrinho, que a leva ao local em que ela é atingida com um disparo de arma de fogo", descreveu. A defesa do réu, representada pelo advogado Sérgio Ângelo, sustentou que o cliente não matou a travesti e deveria responder apenas pelo crime de lesão corporal gravíssima. O defensor levantou uma nova tese no plenário para o assassinato de Dandara: o homicídio teria motivação passional.

"O crime foi totalmente planejado pelo namorado da Dandara, isso está robustecido nos autos. Francisco Welinton preparou, por conta de saber que Dandara tinha HIV e ela não tinha revelado a ele, o que passou a ser uma traição. Ele faz essa armadilha para matar e eliminar Dandara", alegou.

O julgamento, previsto para começar às 9h30, se iniciou às 14h. A ausência de "testemunhas imprescindíveis" pela defesa do réu, adiou a sessão. A Polícia Militar foi acionada para cumprir mandados de condução coercitiva, expedidos pela juíza. A defesa promete recorrer em cinco dias.

Um dos irmãos da vítima, Antônio Vagner Ferreira Vasconcelos, afirmou, perante à Justiça, que desconhece a motivação da morte da irmã. "Não sei dizer pelo que ela foi morta. Quando soube da notícia, não acreditei. Fui lá ver ela e o corpo já estava com uma manta coberta. Achei muita crueldade", detalhou.

Outros envolvidos já cumpriam penalidades

Um grupo acusado de matar a travesti Dandara já havia sido sentenciado. Em julgamento no dia 5 de abril deste ano, Francisco José Monteiro de Oliveira Júnior, o 'Chupa Cabra', foi punido com 21 anos de prisão; Jean Victor Silva Oliveira e Francisco Gabriel Campos dos Reis, o 'Didi' ou 'Gigia', com 16 anos; Rafael Alves da Silva Paiva, o 'Buiú', com 15 anos; e Isaías da Silva Camurça, o 'Zazá', com 14 anos. Quatro adolescentes foram apreendidos por também participarem do assassinato e cumprem medidas socioeducativas determinadas pela Vara da Infância e da Juventude.

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