Tradicional desfile de músicos agricultores é destaque no Ceará

Da história que começou em 1963, quando a Escola de Samba Unidos do Roçado de Dentro (Esurd) surgiu, até hoje, tradição se mistura a inovações em um Carnaval com tons singulares no Ceará

Escrito por Honório Barbosa , regiao@verdesmares.com.br
Legenda: Bateria da Escola de Samba Unidos do Roçado de Dentro (Esurd), em Acopiara
Foto: FOTO: ANDRÉ COSTA

Uma brincadeira iniciada em 1963 por um grupo de agricultores, em Várzea Alegre, na região Centro-Sul do Ceará, transformou-se na Escola de Samba Unidos do Roçado de Dentro (Esurd), a primeira do sertão nordestino, considerada um ícone de manifestação cultural popular. A tradição é mantida há 56 anos por trabalho voluntário, em clima de alegria e superando as dificuldades.

A emoção sentida hoje pelos componentes da escola foi vivenciada por um grupo de agricultores quando em 1963 resolveu sair tocando sanfona, zabumba e pandeiro e foi até a cidade. Usavam máscaras de papelão, rostos pintados de carvão, carregavam galhos e temiam zombaria, mas foram bem recebidos e moradores passaram também a acompanhar o desfile.

No ano seguinte, repetiram a proeza e tocavam frevo, marchinhas e forró em ritmo de Carnaval. Sanfona, zabumba, pandeiro, maracas e outros instrumentos eram tocados por mãos hábeis do mestre Tim, Pedro de Souza, Josimar, Chico Menezes, Matias Souza, Antão, Lázaro, Assis de Souza, Antonito e outros que integraram inicialmente o grupo.

A brincadeira não parou até hoje. O antigo bloco transformou-se em escola de samba, após regresso de um morador da comunidade rural que viveu alguns anos no Rio de Janeiro e foi influenciado pelo ritmo do Carnaval carioca, o samba enredo. Surgiram alas, enredo próprio, tema e alegorias diferentes a cada ano.

A Esurd é formada por maioria de agricultores e seus filhos, mas tem também a participação de moradores da cidade, profissionais liberais e comerciantes. A escola mantém a tradição e é uma expressão viva da cultura carnavalesca brasileira.

Ritmos

O repicar dos tamborins e o som dos tambores no ritmo do samba já ecoam no Sítio Roçado de Dentro, distante apenas 3 km da sede urbana. Neste domingo de Carnaval acontece o tradicional desfile que, em 2019, leva para a avenida o tema 'A Esurd conectada pelos ritmos". Serão 15 alas, 350 integrantes e um carro alegórico. Tudo isso para mostrar o poder da música, nos mais diversos gêneros: samba, funk, rock, sertanejo e forró.

A letra do samba enredo foi composta por Menezes Filho, e a música é de autoria de Nonato Sousa e será puxada pelo intérprete, Manoel Dias. O carnavalesco Leonardo Souza explica. 

Vamos mostrar a cultura da dança, os ritmos diversos da música brasileira."

A comissão de frente vai retratar o tema em um resumo dos ritmos nacionais. "Neste ano, estamos mais simples, mas vamos manter a tradição e procurar fazer o melhor", disse o vice-presidente da Esurd, Lázaro Bezerra. "Os moradores nos abraçam, vibram com o desfile e nos contagiam com muita alegria".

A presidente da Esurd, Maria da Conceição Souza, mantém a expectativa de que a boa vontade dos voluntários vai superar os desafios dos recursos escassos. "Somos ousados, todos têm gosto de participar e vamos mostrar a beleza da nossa escola, a nossa força, com muita raça, na avenida", comemorou.

Na comunidade, todos estão engajados, a maioria trabalha por prazer e amor à escola com a expectativa de que vai dar tudo certo. Muitos dividem o trabalho na roça, iniciando o plantio de milho e feijão com os ensaios da bateria, da coreografia e a confecção das alegorias.

Rita de Cássia Oliveira, voluntária há dois anos, destaca que o trabalho é gratificante. "Trabalho dentro da comunidade e esse clima de união nos dá emoção, as pessoas tratam a gente muito bem e tudo é maravilhoso, com muita folia e amor".

O agricultor Valdir Menezes já fez o plantio de milho em janeiro passado, aproveitando as primeiras chuvas. Neste domingo, deixa a luta na roça, vai trocar a enxada pelo tamborim, e assim, vai brincar o Carnaval, como ritmista.

Vicente Menezes, diretor há 40 anos, é um eterno entusiasta da Esurd. "A gente representa a cultura viva que ainda existe no roçado. Se não tiver a Esurd desfilando, o Carnaval perde a metade", pontuou. "É trabalhoso, mas é gratificante", completou.

A agremiação carnavalesca surgiu do sonho de agricultores da zona rural de Várzea Alegre. Este ano, o desfile conta com 350 integrantes, distribuídos em 15 alas. A Escola de Samba também possui um carro alegórico