Trabalhadores encaram o desafio de sair da informalidade

Moradores de Sobral passaram a atuar em outras atividades para conseguir renda e sustentar a família. A Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Econômico de Sobral também tem auxiliado quem está buscando emprego

Escrito por Marcelino Júnior , regiao@verdesmares.com.br
Legenda: Na porta de casa, Antonísia Oliveira atende a clientela que busca comida caseira
Foto: Foto: Marcelino Júnior

A dona de casa Antonísia Oliveira, moradora do Bairro Terrenos Novos, na periferia de Sobral, é a cara da informalidade. Aos 47 anos, se viu sem emprego e sem carteira assinada, mas não sem força para trabalhar. As poucas experiências no mercado formal, por hora, foram deixadas de lado para dar lugar a uma atividade exercitada todos os dias em casa mesmo: a de cozinheira.

Ao lado do marido, que se encontra afastado do trabalho por questões de saúde, Antonísia luta para ajudar a manter as contas pagas e sustentar a casa com 8 pessoas. Apenas a filha mais velha trabalha de carteira assinada. "Eu vendo sopa, mugunzá e canja de galinha. No começo foi um pouco difícil, mas com o tempo, as pessoas foram chegando, se acostumando com o serviço, e hoje, as vendas são diárias", comemora, enquanto serve mais um prato de sopa, a R$ 3.

Iniciado há dois meses, o pequeno comércio logo caiu no gosto dos moradores próximos. O fogão teve de ser substituído pelo fogareiro. Uma medida necessária para a economia de gás. Por volta do meio-dia, os panelões começam a borbulhar sobre a lenha ardente, enchendo a casa com o aroma da comida caseira manipulada com cuidado e bastante higiene.

E apesar de tomar gosto pelo que faz, a cozinheira ainda aguarda voltar ao mercado de trabalho. Um sonho acalentado entre um prato e outro de sopa, colocada estrategicamente na calçada de casa. "Para poder ter uma renda, eu resolvi voltar a cozinhar, já que trabalhei por 14 anos na cozinha de uma escola. Mas estou à procura de trabalho. Prefiro a certeza de estar empregada", desabafa.

Capacitação

A Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Econômico de Sobral (STDE) tem um programa que atende pessoas com o perfil de dona Antonísia. Aquelas que perderam o emprego e necessitam retornar ao mercado de trabalho. O Segunda Chance qualifica profissionais com idades acima dos 30 anos e os reconduz ao emprego formal. "Esse programa, assim como o Ocupa Juventude, de geração de oportunidade para os jovens em busca de trabalho, oferece a chance de profissionalização em diversas áreas, como serviços, indústria e comércio, para que eles aprendam uma profissão que não dependa de um empregador direto. Podendo se tornar empreendedores para obter renda e dignidade", explica o secretário da STDE, Inácio Ribeiro.

"Desde que foi criado, no fim de 2017, o Segunda Chance já qualificou pouco mais de 600 pessoas acima dos 30 anos. E no que se refere ao mercado formal, tivemos cerca de mil contratos de trabalho em 2018, assegurando algo em torno de 500 novos postos de trabalho, apesar da queda das exportações de calçados", reflete Inácio Ribeiro, e complementa. "Isso repercutiu na saída de 713 empregados, no Município, só na indústria de transformação".

Para a economia local, o setor responde por 25% dos empregos formais. Ainda não temos números reais da quantidade de pessoas na informalidade, em Sobral, pois trabalhamos com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e do Ministério do Trabalho e Emprego, com dados de quem realmente está à procura de emprego. Nosso desafio é a formalização, por meio dos programas. Muitas vezes, cabe ao trabalhador a escolha de retornar ao mercado", finaliza.

Empreendedor

Segundo Suilanny Teixeira, articuladora do Escritório Regional Norte do Sebrae, "em números gerais, segundo o IBGE, cerca de 40% das pessoas que estão ativas vivem na informalidade. Os dados são nacionais, mas se refletem da mesma forma na região Norte, e mais especificamente em Sobral. A proposta da parceria com a Prefeitura é criar a oportunidade para essas pessoas, para aqueles que querem realmente empreender. A figura do Microempreendedor Individual (MEI) dá o resguardo legal para sua existência. A Sala do Empreendedor, por exemplo, acompanha, treina e qualifica esses possíveis novos empresários", explica.

2.620
Pessoas buscaram o Sebrae pra empreender. O número foi registrado no ano passado. Em 2017, apenas 628 pessoas haviam procurado o órgão de Sobral para se tornarem empreendedores.

Do outro lado da história está Erilene Siridó, 32. Com vasta experiência no comércio, a jovem também se viu desempregada. Há pouco mais de um ano, a cozinha foi a salvação para manter as contas em dia e a dignidade em alta. Erilene chega a atender a 30 pedidos de cuscuz por dia, ao preço de R$ 4 reais cada. A maioria pelas redes sociais. "Essa fase na minha vida me fez ver que posso, sim, ser dona do meu próprio negócio. Antes, nem imaginava isso. Neste ano, devo buscar apoio para me tornar microempreendedora e seguir com a atividade, que tem dado certo", comemora Erilene.

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