Técnica milenar da radiestesia é alternativa para enfrentar a seca

Tratada como uma ciência por produtores e agricultores, o método consiste em utilizar varas e pêndulos para indicar locais ideais para a perfuração de poços profundos. A prática está sendo adotada no semiárido cearense

Escrito por Alex Pimentel , regiao@verdesmares.com.br

Uma ciência milenar, mística e intuitiva, a radiestesia, continua sendo considerada a solução mais segura para um grave problema no semiárido cearense: a falta d'água. A escassez do líquido é hoje o maior empecilho à sobrevivência animal e vegetal. Onde não há água não há vida.

Por esse motivo, quando bate o desespero, pequenos produtores do semiárido cearense recorrem a especialistas nesse assunto. Um deles é o técnico agropecuário Antônio Rivaldo Leite.

Seu Menino, como é mais conhecido, tem a habilidade de localizar água debaixo do solo. A cada poço cavado, o radiestesista de 61 anos conquista mais fama e respeito. Como em um ritual, ele mexe varas, gira pêndulos e dá passos de um lado para o outro. Quando se certifica dos sinais, aponta: "É aqui!" O resto do trabalho fica por conta da máquina perfuratriz. Em um dia, é possível constatar a eficiência do prognóstico, com água jorrando do subsolo. O acerto estatístico é superior aos 90%.

Ele descobriu a habilidade nessa ciência no início da década de 1980, a convite do Governo do Estado. Na época, 43 técnicos agropecuários participaram de um curso realizado pela Universidade Estadual do Ceará (Uece). O objetivo era capacitá-los para demarcarem locação de águas subterrâneas no Projeto Pingo D'água. Apenas três desenvolveram aptidão para o ofício.

Ao longo de três décadas e mais de uma centena de poços indicados, Seu Menino garante nunca ter decepcionado seus clientes. O agricultor João Leite Pessoa, 68, é um deles. Ele mantém com os filhos uma propriedade, a Fazenda Exu, no distrito de Tapuiará, a pouco mais de 25 km do Centro de Quixadá. No auge da última seca, ele cogitou deixar seu domínio. No entanto, foi convencido a ficar e aconselhado a buscar os trabalhos do "Pajé das águas", como Rivaldo também é conhecido.

Deu certo. Seu Menino indicou o local do terreno e de lá surgiu um poço com vazão de 36 mil litros por hora. Hoje, além da capineira para as criações, com a ajuda dos filhos, João Leite tem no criatório de peixes o maior tesouro da propriedade. São cinco tanques com capacidade para dois mil alevinos cada. Eles adaptaram a água do poço e estão garantindo boa renda para a família, tudo mantido com recursos próprios.

Investimento

O serviço de um radiestesista custa em média R$ 700. Seu Menino ressalta, no entanto, que o valor só é cobrado se for detectado algum ponto de perfuração na propriedade do cliente. Os proprietários das máquinas perfuratrizes estão cobrando R$ 70 pelo metro quadrado (m²). Levando em consideração todas as despesas, incluindo a instalação do motor-bomba, o valor total gira em torno de R$ 10 mil.