Sobral oferece atendimento a portadores do HIV na região Norte

A cobertura de saúde com ações sociais serve como suporte a quem vive sob o estigma da doença. A Casa de Apoio Madre Anna Rosa Gattorno, instalada em Sobral, tem sido um porto seguro para os pacientes

Escrito por Marcelino Júnior , marcelino.junior@diariodonordeste.com.br
Legenda: A criatividade e a arte são algumas das ferramentas utilizadas no tratamento dos soropositivos e parentes
Foto: FOTO: MARCELINO JÚNIOR

Criada há 16 anos para dar suporte às pessoas que vivem com o HIV na região Norte, a Casa de Apoio Madre Anna Rosa Gattorno, instalada em Sobral, tem sido um porto seguro para os pacientes. Ao longo dos anos, e dos avanços relacionados à prevenção e tratamento da doença no País, o estigma que o portador do vírus ainda carrega faz do sigilo sobre a sua situação uma ferramenta de sobrevivência social. E uma das palavras-chave, ao longo dessa jornada, muitas vezes solitária, em busca de tratamento, chama-se discrição.

As parcerias que mantêm a Casa em plena atividade, apesar das dificuldades financeiras, contam com apoio da Rede de Solidariedade Positiva (RSP), organização civil formada por pessoas que vivem e convivem com HIV/Aids; do Município; Estado e Governo Federal.

O repasse financeiro para a manutenção mensal do acolhimento, na única casa de apoio com esse perfil que se mantém em atividade fora da Capital, abrange o total de 30 pessoas, mas a necessidade, principalmente no que se refere à hospedagem temporária, infla esse número para 250 hóspedes, de um total de 64 municípios. "Nós sempre temos uma despesa extra. Com a doação financeira e a ajuda de voluntários, temos buscado equilibrar as contas, que dificilmente fecham ao fim do mês", lamenta Valdeisa Sampaio, coordenadora de projetos da Casa Rosa Gattorno, que está há meses com um dos dois veículos parado, por falta de manutenção.

"O perfil da nossa clientela é de pessoas pobres, doentes, sem benefício previdenciário, sem trabalho, e que ainda sofrem discriminação e preconceito dentro de seus municípios. Tudo que é relacionado a exames, medicamentos e outros procedimentos, não realizados pela Atenção Básica. Daí a necessidade de passar pela Casa", desabafa.

Atividades

Entre os adultos que utilizam os serviços da Casa Rosa Gattorno, os homens lideram. Atualmente, são atendidas cerca de 120 crianças, entre as que vivem com o HIV e as que se encontram expostas, por conta da situação de saúde de suas mães que, nos momentos de permanência no local de apoio, são estimuladas a utilizar a criatividade contra o estresse, e obter uma certa renda financeira para manutenção de suas necessidades.

A dona de casa de 54 anos, que prefere não se identificar, é quem acompanha o marido, de 59, nos atendimentos de saúde. O choque ao saber que esteve exposta ao vírus, há cerca de 15 anos, quando soube da doença do companheiro, foi substituído pelo trabalho voluntário. "Quando ele começou o tratamento, nós encontramos aqui uma família. Logo eu abracei a causa e ajudo como posso", explica.

Ações

A solidariedade nesse trabalho também vem das mãos de Antonieta Arruda Prado, uma das 10 voluntárias que ajudam nas atividades diárias. "A necessidade aqui é tão grande que acabamos fazendo muita coisa, até buscar por mais doações. Eu ainda me emociono com o empenho de todos em manter a Casa em atividade. Ao chegar aqui, eu achava que iria dar muito de mim, como apoio às pessoas, mas vejo que tenho recebido muito mais, emocionalmente", diz, a dona de casa, enquanto prepara pincéis e tintas, para mais uma leva de panos de prato que serão expostos, com roupas e outros objetos nesse dia 1º de dezembro, Dia Mundial de Combate à Aids, em um bazar, próximo ao Mercado Municipal, para ajudar na arrecadação.

"No dia 11 de dezembro, também teremos a comemoração antecipada de Natal, aqui mesmo na Casa Rotta Gattorno, com as famílias atendidas, para isso, também precisamos de doações", lembra Valdeisa Sampaio.

Profilaxia

É no Centro de Referência de Infectologia de Sobral (Cris) que as pessoas da região Norte, com HIV, são atendidas. O primeiro caso diagnosticado, em 1989, iniciou o tratamento para infectologia no Município. Ao longo dos anos, o serviço vem sendo ampliado, tanto em apoio sorológico, como tratamento dos doentes e treinamento para as equipes de saúde da região.