Retomada de óleo pode atingir berçários de lagostas e algas no CE

Resquícios são observados desde a semana passada em Amontada, Itarema e Itapipoca. Especialistas apontam que a região concentra expressivo número de bancos naturais, importantes na reprodução de lagostas, crustáceos e peixes

Escrito por Redação , regiao@svm.com.br
Legenda: Em toda a costa brasileira, a Marinha já identificou manchas de óleo em 998 localidades
Foto: FOTO: HELENE SANTOS

As manchas de óleo cru que voltaram a aparecer no fim de semana no litoral cearense reacenderam o novo alerta para pescadores e órgãos de preservação ambiental que atuam nas regiões impactadas. No último domingo (5), resquícios do material foram avistados nas praias de Tijuca e Almofala, em Itarema, e na Praia do Jiqui, em Amontada. Moradores também denunciam a chegada do óleo em Itapipoca.

Essas regiões concentram berçários naturais de espécies marinhas. Segundo a coordenadora de ações de campo do Instituto Terramar de Pesquisa e Assessoria à Pesca Artesanal, Rogéria de Oliveira Rodrigues, o ressurgimento do óleo na região é preocupante. "É uma região que tem muitos bancos naturais, que são os principais criatórios da lagosta no Ceará", pontua.

Berçário Natural

Os bancos naturais, ou 'berçários', ocorrem em regiões entre marés e concentram variedades de algas e corais, elementos que tornam o ambiente propício à manutenção de espécies, como de lagostas, crustáceos, moluscos e peixes. "As espécies de algas ocorrem em grande diversidade nesses espaços, que acabam funcionando como abrigo e um local apropriado para reprodução dos animais", explica Dárlio Inácio Alves Teixeira, presidente da Sociedade Brasileira de Ficologia, que realiza estudos voltados a algas. Para o especialista, até o momento, como o Estado registrou pouca quantidade do material, os impactos nos berçários são mínimos, situação que pode ser alterada caso o óleo comece a aparecer em grande quantidade.

Porém, segundo ele, por ser a primeira vez que um incidente desta dimensão atinge o litoral cearense, "é preciso haver estudos para analisar melhor a situação". Uma das soluções viáveis é a utilização de barreiras de contenção, "como as que foram usadas em regiões de mangues", aponta Dárlio.

Itarema

Itarema foi um dos que registrou resquícios do material na última semana. Segundo a Marinha do Brasil, por meio da Capitania dos Portos, equipes estiveram por cinco dias contínuos na cidade. As atividades de monitoramento foram encerradas na noite do domingo (5), e chegaram a ser "encontrados pequenos vestígios esparsos, recolhidos. Avaliamos todo o litoral de Itarema como limpo", informou o órgão.

Ainda segundo a Marinha, a Secretaria de Meio Ambiente de Itarema continua alerta a qualquer aparecimento de vestígios de óleo em todo o litoral da cidade. "Diariamente, são enviadas equipes para realizar monitoramento e limpeza das praias atingidas por resíduos de óleo nos municípios de Amontada, Itapipoca e Itarema. As atividades serão realizadas até que as localidades estejam livres da poluição", acrescentou.

Prejuízo econômico

Além da questão ambiental, a região concentra uma grande quantidade de pescadores artesanais, impactados diretamente com a chegada do óleo. "Nós estamos muito preocupados porque é uma atividade riquíssima e que tem uma relevância muito grande no equilíbrio costeiro do Estado", lamenta Rogéria de Oliveira, coordenadora de Ações de Campo do Instituto Terramar.

Na Praia da Barrinha, em Itapipoca, a pesca representa parte significativa da renda de pescadores artesanais. Francisco Gaspar dos Anjos, morador do Assentamento Maceió, que abrange 12 comunidades no Município, lamenta a situação. "O pessoal que vive da pesca fica prejudicado porque tem medo de consumir e até mesmo de colocar o material de trabalho no mar, que pode ser danificado", explica o pescador. Preocupado com este cenário, o Terramar está se mobilizando junto a outras instituições para realizar, esta semana, ações para enfrentamento às manchas.

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