Redes do CE podem ter reconhecimento nacional

Jaguaruana espera receber a 1ª Identificação Geográfica de Procedência do Estado. O título, concedido pelo INPI, reconhece determinado produto ou lugar como único. O processo agrega valor à produção e inibe a pirataria

Escrito por Redação , regiao@svm.com.br
Legenda: As mercadorias são vendidas em cidades como Fortaleza, Canindé e Beberibe
Foto: Foto: SILVANA TARELHO

O vinho espumante oriundo da região de Champagne, na França, é reconhecido mundialmente por sua qualidade e particularidade. Do outro lado do Oceano Atlântico, os produtores das redes feitas na cidade de Jaguaruana, no Vale do Jaguaribe, vivem a expectativa de garantir o mesmo reconhecimento.

A atividade pode receber uma Indicação Geográfica (IG) de Procedência, título do Governo Federal que atesta a particularidade na feitura de determinado produto. Se aprovado, será o primeiro no Ceará.

No início deste mês, o Núcleo de Tecnologia e Qualidade Industrial do Ceará (Nutec) solicitou a indicação junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), órgão vinculado ao Ministério da Economia responsável pela certificação. Com a IG de Procedência, as redes fabricadas na cidade receberão um selo garantindo que aquele produto é específico dali, o que dificultaria, por exemplo, a pirataria.

Benefícios

Para o presidente da Associação de Fabricantes e Artesãos de Jaguaruana (Asfarja), José Pinheiro, a indicação dará legitimidade à produção. "Nós temos um produto que é reconhecido nacionalmente e nossos concorrentes estão se aproveitando desse nome para venda própria", ressalta. "A gente está tentando dar uma certificação para que o consumidor tenha certeza que está recebendo um produto de qualidade". A Asfarja conta, hoje, com 16 produtores associados. "Mas, em Jaguaruana, há uma média de 150 fabricantes", garante.

Dono da ArtesaoNato, empresa familiar que produz uma média de 2 mil peças por mês, Pinheiro voltou ao Ceará em 1985 para seguir no ramo da família. Hoje, conta que boa parte da sua produção é comercializada no mercado externo, principalmente para países europeus.

O preço das redes varia entre R$ 25 e R$ 200, a depender do modelo. "As vendas são mais intensas no período de alta estação, que vai de novembro até próximo ao Carnaval", avalia Pinheiro. "Com a IG, vamos investir ainda mais no marketing, na divulgação, na marca, que já é bem forte".

Destino

Embora muitos comerciantes vendam para o mercado externo, o principal destino das redes produzidas na cidade é a própria Região Nordeste, conforme relatório enviado pelo Nutec ao INPI. Nesse cenário, o Ceará fica com 90,5% dos produtos. Mais de 60% são para Fortaleza. As mercadorias também são comercializadas em cidades como Canindé, Beberibe e Cascavel, e para outros Estados, como Bahia, Rio de Janeiro, Amazonas e Pará.

Pedido

Para requerer a IG de Procedência, o INPI exige elementos que comprovem o local de extração, produção ou fabricação do material, além da existência de estrutura de controle. A validade do registro permanece em vigor enquanto o produto ou serviço apresentar características específicas.

Em Jaguaruana, o pedido está na fase "depositado" e depois será submetido ao exame preliminar para verificar se a documentação apresentada está correta. Participaram do processo de pedido a Asfarja, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) de Jaguaruana e da Secretária de Cultura do Estado do Ceará (Secult), além do Nutec.

A pesquisa para adequação às exigência do INPI foi iniciada ainda em 2018, com a criação da Ata de Fundação da Asfarja, além de um caderno de especificações técnicas para a produção dos 11 tipos de rede no Município.

"Fizemos um levantamento inicial e regularizamos a Asfarja em cartório", lembra a coordenadora do Núcleo de Inovação Tecnológica do Nutec, Silvanira de Oliveira. "Cada produtor tem seu modo de fabricar, mas o INPI pede um padrão". Algumas das especificações são a utilização de quatro a seis fios na etapa de torcimento da rede e de 20 pares de cordões para punho do tipo trancelim fino. Somente seguindo o mesmo padrão, o produto receberá um selo, transportado na mercadoria, comprovando que o material é de Jaguaruana.

Estudos técnicos

Após observada a potencialidade do Município para receber a Identificação Geográfica, o Nutec entrou em contato com o IFCE de Jaguaruana para avançar nos estudos técnicos. "Surgiu como um projeto de pesquisa, com bolsistas. Depois, trabalhamos com a Associação, que já vinha castigada com a economia da rede e ainda não tinha incentivos, sofrendo muito com a concorrência de outros países e com a pirataria", explica o diretor geral do Campus, Evandro Melo. "Fizemos um levantamento de dados e uma sistemática do projeto de pesquisa".

Camarão da Costa Negra

Além da Indicação de Procedência, o INPI certifica na categoria de Denominação de Origem. O título é destinado a produtos ou serviços com características ligadas essencialmente ao meio geográfico. Concedido em 2011, o Camarão da Costa Negra, produzido na região do Acaraú, foi o primeiro crustáceo do mundo certificado com Denominação de Origem.

O produto também é um dos dois únicos reconhecidos na região Nordeste. "Impactou de forma positiva na economia", garante Maria Socorro Lima, gestora da Associação dos Criadores de Camarão da Costa Negra (ACCCN). "É uma ferramenta de desenvolvimento sócioeconômico".

A melhoria, segundo Socorro, pode ser observada na região, que abrange de Itarema à Jijoca. Além do aspecto econômico, a representante avalia o impacto cultural. "Realizamos diversos eventos científicos e culturais. A região se beneficia com restaurantes e hotéis lotados, contratação de mão de obra local, participação em massa dos estudantes", avalia.

Hoje, existem 58 empresas de pequeno, médio e grande portes produtoras de camarão em cativeiro na Costa Negra, com uma produção de 8 mil toneladas por ano. Além disso, são quatro indústrias de beneficiamento e um laboratório de larvicultura.

"O setor passou por muitos problemas de 2016 até 2018. Em 2019, voltou a produzir melhor. Esse ano a expectativa é de dobrar a produção", comenta Maria Socorro. "O Ceará tem produtos com um potencial bem interessante. O que está faltando é recurso, organização e consultorias para os produtores", conclui.

Sebrae

Em parceria com outras entidades, como Governo do Estado e Fiec, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) começará, este mês, estudos para pedido de indicação de oito produtos cearenses junto ao INPI. "A primeira coisa que a gente tem que verificar é qual é a modalidade. Nós temos a proposta de iniciar essa ação com mais ou oito produtos", garante Herbart Melo, articulador de Inovação e Sustentabilidade do Sebrae.

 

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