Projeto recupera área em processo desertificação no Jaguaribe

Entre as novas ações visando ampliar e atualizar as atividades de mitigação e combate à desertificação, está o inédito levantamento de solos do Ceará, que está sendo avaliado e validado pela equipe técnica da Funceme

Escrito por Honório Barbosa , regiao@verdesmares.com.br
jaguaribe
Legenda: A cidade já é conhecida pelo calor elevado e o registro de altas temperaturas
Foto: Honório Barbosa/SVM

Depois de seis anos, o projeto de recuperação de solo em curso na localidade de Brum, zona rural de Jaguaribe, apresenta bons resultados. São tecnologias simples que foram implantadas. A unidade é referência, atrai técnicos, estudantes, produtores e tornou-se área de estudo por universidades.

No Semiárido nordestino, o Estado mais degradado é o Rio Grande do Norte (12,87%), seguido do Ceará (11,45%) e em terceiro, a Paraíba com 8,12%. Atualmente, as regiões cearenses mais atingidas são os Inhamuns, Médio Jaguaribe e parte do Centro-Norte, onde está localizado o Município de Irauçuba e seus circunvizinhos.

Os dados são da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), que tem em andamento pesquisas e projetos de recuperação do solo. "O Ceará é o mais susceptível a esse fenômeno, embora não esteja no topo da lista", explica a pesquisadora da Funceme, Sônia Perdigão. A classificação segue a convenção da Organização das Nações Unidas (ONU) e a vulnerabilidade decorre do clima Semiárido nordestino.

Em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, o projeto de recuperação de solo foi implantado há seis anos, na localidade de Brum, que apresenta um solo degrado. A camada superficial, em torno de 20 cm, já foi embora e fragmentos de rocha são facilmente visíveis.

"O experimento em Brum mostra que é possível reverter a degradação ambiental", pontua Sônia Perdigão. "O nosso esforço é divulgar o programa e prevenir avanços na deterioração do solo em outras áreas", completa. O Ceará apresenta mais de 11% de seu território com áreas degradadas em processo de desertificação. "Isso é preocupante", frisa a pesquisadora da Funceme. "Estamos buscando novas parcerias para ampliar o projeto".

As próprias condições do solo no Semiárido, a ação do vento, as práticas agropecuárias inadequadas, queimadas e o desmatamento contribuíram para a degradação ambiental.

Recuperação

Em Brum ainda é visível o processo de erosão e a perda da camada fértil do solo. Mas em uma área de cinco hectares renasce a esperança. Morador da região, Francisco Nogueira Neto, o 'Neto do Brum', é um dos adeptos e defensor de novas práticas de manejo sustentável. Ele é uma espécie de "guardião do projeto".

"Olha aqui um novo morador", aponta, entusiasmado, Neto do Brum para um pequeno pé de pereiro que nasceu e está com cerca de 20 cm. Com alegria, mostra toda a área e explica as novas tecnologias conservacionistas: pequenos barramentos de madeira e de pedras, sulcamento, curvas de nível, colocação de matéria orgânica (esterco, folhagem, sementes, camada superficial do solo).

"A gente criou gado, plantou algodão, feijão, fez tudo errado, desmatando, queimando, agredindo o solo", disse. "O estrago foi grande, mas hoje estou conscientizado e aprendi com o passar do tempo", diz o agricultor.

Ao lado da área que está sendo recuperada foi mantida uma unidade em estado de degradação. A comparação é visível. Há poucas árvores e ausência de capim, mesmo no período chuvoso.

Na área em recuperação, as árvores já crescem e impedem a visão das casas da localidade, da capela de São José, no sopé da Serra do Pereiro que divide o Ceará do Rio Grande do Norte. "Essa paisagem já mudou muito nesses seis anos e vai ficar melhor ainda. O homem destruiu, mas pode recuperar", diz Neto.

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