Projeto criado por estudantes promove preservação de memória

Crianças e idosos criam laços e compartilham conhecimento durante o Projeto Backup, no município de Mulungu. Atividades promovem a inclusão social e criam uma 'cópia de segurança' da história da região

Escrito por Alex Pimentel , regiao@verdesmares.com.br
Legenda: Velhos e jovens interagem durante o Projeto Backup
Foto: FOTO: DIVULGAÇÃO

A relação entre duas gerações distintas, com uma lacuna temporal de, no mínimo, meio século de memórias, histórias e conhecimento, está ganhando uma espécie de "cópia de segurança" no município de Mulungu, a 117 Km de Fortaleza. É o "Projeto Backup" ou "Backup Intertemporal", que aproxima crianças e idosos na cidade serrana, com um modelo de interação social comunitária de sucesso.

Os idealizadores da iniciativa, que começou em 2017, são dois ex-alunos da Escola Estadual de Ensino Médio Milton França Abreu. Vinícius Magalhães e Vivian Martins concluíram o ensino médio no ano passado, mas continuam ligados à instituição, auxiliando no elo entre os dois grupos.

Como baliza, o Projeto Backup utilizou dados estatísticos sobre o público idoso do município, que sofria com a falta de interação social, decorrente do abandono familiar e esquecimento da sociedade.

O diretor da escola, Luiz de França, explica que foi percebido também um interesse dos moradores de conhecerem a história da cidade. "Começamos então a nos questionar. Nada melhor do que unir as duas pontas desse ciclo para estimular e preservar nossas memórias".

Os participantes recebem orientação da professora Deborah Freire. Além de cumprir um riquíssimo itinerário nas regiões do município, valorizando os idosos como protagonistas na transmissão dos conhecimentos, o "Backup" elimina a exclusão social do segmento da terceira idade. "Os alunos reagem com doçura e alegria", ressalta a educadora Deborah.

Para a estudante Vivian Martins, "havia carência sobre a trajetória histórica do nosso município, devido à escassez de documentos. Esses entraves foram superados com o auxílio dos nossos idosos. Vamos onde eles estão".

Museu Móvel

Na bagagem, os mediadores transportam o baú do Museu Móvel. Como a cidade não possui um museu físico, objetos antigos, doados pelos mais velhos, são levados aos pontos de encontro com as crianças. Elas entram em contato com equipamentos considerados antigos, como rádios de pilha, lamparinas, lanternas, obras literárias, bem diferentes dos instrumentos eletrônicos atuais. Os mais velhos exibem utensílios indígenas antigos, como machadinhas, e relatam passagens históricas.

Nos encontros, as contações de histórias se estendem por horas e fortalecem os laços. Luiz Morais da Silva, 76, e Maria Leonora Morais, 73, por exemplo, se conheceram nos encontros. Hoje, formam o "Casal 20", como chamam os integrantes. "É muito interessante participar de algo tão simples e tão precioso. Eu não imaginava ter uma velhice tão feliz e cheia de vida", conta Maria.

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