Projeto capacita e incentiva mulheres a terem a sua renda

As 20 mulheres da Associação de Artesãs de Alencar, após curso de corte e costura, começam a sonhar alto

Escrito por Honório Barbosa - Colaborador ,
Legenda: Linhas e tecidos, aos poucos, começam a tomar forma e dar novas esperanças
Foto: Foto: Honório Barbosa

Iguatu. Ter uma ocupação e ampliar a renda familiar. Esse é o objetivo de um grupo de mulheres do distrito José de Alencar, na zona rural deste município na região Centro-Sul cearense que acabam de implantar um ateliê comunitário. Após um período de capacitação, as costureiras sonham com a possibilidade de driblar a crise, vencer a ociosidade, buscar uma alternativa mediante a falta de emprego formal.

Reunidas em torno da Associação de Artesãs de Alencar, o grupo de 20 mulheres, após participar de um curso de corte e costura ofertado em uma parceria firmada entre a unidade local do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) e do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) - Campus Iguatu, começa a sonhar alto.

O treinamento impulsionou a vontade de produzir as peças e comercializá-las, inicialmente no entorno da comunidade onde moram e, posteriormente, ampliar para a cidade de Iguatu e para outras áreas rurais. A atividade integra o projeto Linhas, que nasceu em um salão de uma antiga unidade de saúde da sede do distrito de José de Alencar.

O treinamento foi de 220h e o objetivo, de preparar as mulheres para a profissionalização, oferecendo oportunidade de trabalho e renda no campo, foi alcançado", pontuou a presidente da Associação de Artesãs de Alencar, Gorete Freire. "O clima é de animação e acreditamos que é por meio de cursos que vamos superar as nossas dificuldades e encontrar espaço no mercado".

O começo

O Projeto Linhas foi desenvolvido por estudantes do Time Enactus do IFCE - Campus Iguatu para incentivar o empreendedorismo a partir da valorização e qualificação da mão-de-obra e do empoderamento feminino. A confecção foi montada em uma casa às margens da CE-282.

"Essas mulheres, que estavam cuidando de suas casas, são capazes, podem trabalhar como costureiras, contribuir para o sustento da família e ser donas do próprio negócio", afirmou Kevin Brasil, líder geral do Time Enactus do IFCE - Iguatu. "O primeiro passo foi a realização do curso profissionalizante de corte e costura, e depois veio o incentivo para o grupo abrir a microempresa", conta.

O ateliê começa a ser implantado, com orientação do Senac e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Ceará (Sebrae-CE), mas as costureiras terão que bancar o funcionamento. A expectativa é que logo comecem a faturar com a venda das peças e, posteriormente, possam investir na melhoria das instalações. "A ideia é tornar a fábrica uma fonte de renda alternativa para elas. Por isso o aperfeiçoamento é fundamental, para a garantia da qualidade", comentou Kevin.

O projeto trouxe novas perspectivas para as mulheres, que estão tendo a oportunidade de ter uma profissão, melhorar a renda da família, sem a necessidade de sair da comunidade onde moram. "Esse era um sonho antigo, que agora estamos podendo realizar. Estamos em uma atividade que gostamos, aprendendo a cada dia, mas o melhor é que não precisaremos ir para outra cidade em busca de emprego", frisou Gorete Freire.

Para a estudante Karine Soares, coordenadora do curso, as artesãs apresentaram bom resultado e estão motivadas. "Isso mostra que, quando as pessoas têm a possibilidade de apreender, conseguem, e, no caso delas, repassam os conhecimentos para outras mulheres que também querem ser costureiras", avaliou. "Até agora tudo que foi planejado pelo projeto vem acontecendo e transformando a vida das pessoas beneficiadas".

O Projeto linhas foi beneficiado por parceria com a distribuidora que oferta energia para o Ceará - Enel - com o valor de R$ 25 mil, que serão investidos na parte estrutural, compra de equipamentos e matéria-prima. Por enquanto, as artesãs trabalham com máquinas emprestadas por meio do Campus do IFCE.

A jovem Rogevânia Dias é uma das empreendedoras. Por meio do projeto, vem aperfeiçoando o trabalho que já desenvolve de costureira. "Aprendi sozinha a costurar, aos 12 anos, Abracei essa atividade como minha profissão e o curso me ajudou muito, principalmente pela facilidade no trabalho. Estou muito feliz e agora é só trabalhar", afirma com entusiasmo.

A pequena unidade de confecções foi implantada recentemente, e agora faz parte da Vila e da vida de donas de casas, agricultoras e costureiras, que se organizam na produção das peças de vestuário. "O ateliê representa o sonho realizado para todas nós mulheres, que agora contamos com um espaço para desenvolver nossa atividade", enfatizou a costureira Gorete Matias.

Sonhos a realizar

Ao lado de uma das máquinas profissionais de costura, um radinho ligado tocava a música interpretada por Fagner, "Guerreiro Menino", cuja letra lembra que o sonho de uma pessoa é a vida e a vida é o trabalho, a possibilidade de ser feliz. O grupo de mulheres de Alencar, que se tornam costureiras-artesãs, vivenciam a expectativa de obter uma ocupação e concretizar a ideia de manter por meio do ateliê, uma renda mensal.

Nos últimos anos, a estiagem seguida afetou severamente a produção agrícola. A renda entre os pequenos produtores rurais despencou. A safra de grãos tornou-se inviável. "As mulheres que cuidavam da casa agora precisam encontrar alternativas para melhorar a renda familiar", frisou a líder comunitária, Gorete Freire.

Em uma mesa ampla estão tecidos, marcadores, agulhas, linhas, moldes, tesoura e outras ferramentas. Na mente de cada uma, ideias surgem, modelos servem de inspiração, as peças são delineadas, cortadas e costuradas. Concretiza-se o sonho de jovens costureiras e de quem tem mais idade, que pesam sobre os seus ombros os anos de caminhar na vida árida do sertão. Mas todas, no ateliê, mantêm a esperança de que o projeto Linhas alcance seus objetivos.

Fique por dentro

Conheça o Enactus do IFCE Campus Iguatu

Há quase três anos, o time Enactus do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) - Campus de Iguatu desenvolve, na região, projetos que já beneficiaram diretamente cerca de mil pessoas e mais de 3 mil de forma indireta.

A equipe é formada por 21 estudantes voluntários dos cursos superiores do IFCE (Licenciatura em Química, Bacharelado em Serviço Social e Tecnologia em Irrigação e Drenagem) e conta com o apoio pedagógico de professores e técnicos administrativos da Instituição.

O time realiza três projetos principais: 1) Projeto Cooperar, que visa o empoderamento e a formação adequada de 25 catadores de resíduos sólidos de Iguatu; 2) Projeto Linhas, que abrange 20 mulheres da Associação de Artesãs do Alencar, de capacitação em costura e oferecer às participantes uma fonte alternativa de renda; 3) Projeto Mudas, que objetiva apresentar e reproduzir um sistema de irrigação mais eficiente e mais barato para pequenos agricultores.

Além de atender comunidades rurais, o time também realiza palestras sobre Educação Ambiental e convivência com o Semiárido em escolas particulares e públicas da região, alcançando mais de 2 mil crianças.

Enquete

Que impacto o curso teve?

"A nossa expectativa é produzir peças variadas e comercializá-las inicialmente na comunidade e depois ampliar para outros sítios e para a cidade de Iguatu, para obter renda e ocupação profissional"

Jardênia Lima

Costureira

"Eu sempre quis me aperfeiçoar na arte da costura e o curso me deu essa oportunidade. Todos estão muito empolgados, querendo produzir cada vez mais e iniciar a comercialização das peças"

Maria Gorete Matos

Costureira