Profetas ainda apostam em bom período chuvoso

Escrito por Redação ,
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Profetas de Tejuçuoca dizem que o inverno será de muita chuva. Já em Camocim, a previsão popular é diferente

Tejuçuoca. Nesta cidade, a 140 quilômetros de Fo´rtaleza, cidade onde o bode é rei, desta vez o símbolo do município deu lugar aos estudiosos da natureza no VII Encontro dos Profetas Populares, evento que é coordenado pela Prefeitura.

Eles fizeram previsões, discutiram experiências e no final deram seus depoimentos de que este ano será de muita chuva no sertão. Francisco Rodrigues Adrade, 84 anos, residente no Riacho das Pedras, conhecido na região como "Mata onça", afirmou que suas experiências são as melhores possíveis. "Quando o João de Barro faz sua morada com a frente protegida para o sul é sinal de muita chuva, porque usa dessa artimanha para proteger seus filhotes. Em todos os lugares que andei o pássaro fez sua morada com a frente protegida", diz o profeta.

Outro que aposta num grande inverno é José Alvério Martins, 64 anos, o "Zé Nambú" que reside no Assentamento Macacos. Segundo ele, as formigas estão trabalhando durante a noite para levar alimento para suas moradas. "Quando elas fazem esse ritual, é porque vai chover muito. Venho observando o comportamento dos insetos e pela minhas experiências é sinal de muita chuva em 2010".

As previsões de Francisco Teixeira Carlos, 58 anos, o "Chico Flor" também são as melhores possíveis. "A rolinha fogo está construindo seu ninho em partes altas e quando ela age dessa maneira é porque vai rolar muita água no chão. Para se ter uma ideia, os pássaros dessa espécie estão fazendo os ninhos em juazeiros porque fica mais difícil da água penetrar na morada dos filhotes", observa o estudioso da natureza.

Para o idealizador do evento, Elizeu Joca, mesmo com os estudos da ciência, a previsão dos profetas só tem ajudado na preservação da natureza e na manutenção dessa cultura popular. "Os profetas são a essência e a sabedoria do homem do campo que, em muita das vezes, passa a acreditar mais nesses estudiosos do que na própria ciência", ressalta Elizeu Joca.

O prefeito da cidade, Edilardo Eufrásio, disse que o encontro tem um significado muito grande para a cultura da região. "Quando eles se juntam dá de tudo. Histórias, experiências, relatos do dia a dia, enfim, é um tempero a mais para o cotidiano de Tejuçuoca".

Francisco Rodrigues Andrade é conhecido como "Mata onça" porque ele insiste em dizer que já matou três onças com um tiro só. Ao ser indagado como tudo isso aconteceu, ele emenda, "estava em uma caçada e quando avistei a bicha dei um tiro de espingarda no meio do coração, quando abri, a onça tinha dois filhotes dentro".

Já José Alvério Martis é conhecida na região onde mora por Zé Nambú porque um dia ele espalhou pela região que havia abatido duas nambus com o arremesso de uma pedra de mão. Segundo ele, muitos acreditam em sua história.

Oposição

Já o profeta e pesquisador de Camocim, Luiz Gonzaga, diz que janeiro e fevereiro será de pouca chuva e que os meses seguintes, de março a maio, ficarão na média ou abaixo da média. "Este ano não será de muita chuva. Nada será acima da média", diz. Suas pesquisas, iniciadas há mais de 50 anos, são baseadas nas temperaturas dos oceanos Pacífico e Atlântico, correntes marítimas quentes e frias do Atlântico e do Pacífico, como também na observação dos elementos da natureza: temperatura, umidade do ar, pressão atmosférica e a força dos ventos.

Além disso, Gonzaga diz que a posição e o monitoramento dos fatores indutores de chuva são imprescindíveis para detectar se o primeiro semestre do ano será ou não de muitas precipitações. "Faço as pesquisas nos fundos da minha casa, onde tenho uma estação meteorológica amadora, em que faço as observações", relata. Por mais que os aspectos locais tenham interferência, ele ainda utiliza as observações que faz de outras regiões do País, como Sul e Sudeste.

"Observo também as chuvas na Venezuela e nas Guianas, além de acompanhar como está o clima na América do Norte e no norte da Europa", completa o pesquisador e profeta da chuva de Camocim.