Professores e alunos apontam estrutura precária nos campi

Escrito por Redação ,
Legenda: Para muitos dos estudantes do IFCE, a ausência de equipamentos e o acervo escasso das bibliotecas dificultam o aprendizado
Foto: Fotos: Melquíades Júnior
Ausência de professores e laboratórios é um dos problemas apontados pelos alunos de cursos tecnológicos do Estado

Limoeiro do Norte
Foi por motivos como os colocados na primeira página deste Caderno que, todos os anos, milhares de alunos tentam ingressar nos cursos técnicos e de nível superior do Instituto Federal do Ceará (Ifce) e nos Centros Vocacionais Tecnológicos (CVTs). Curiosamente, a maior concorrência enfrentada pelos alunos não é com os outros candidatos, mas com o ritmo de operação da própria instituição. Em miúdos, a expansão do ensino tecnológico tem se acompanhado de dinamismo e, ao mesmo tempo, da precarização em alguns setores.

Cursos que são implantados faltando professor, laboratórios e livros. Casos de alunos de cursos novos que se autodeclaram "cobaias", chegam ao 6º período do curso sem laboratório próprio e com pouco acervo bibliotecário e professores, os quais estariam acumulando disciplinas para além das suas especialidades. E há casos de CVTs em processo de sucateamento.

Professores e estudantes abrem as discussões com uma ressalva: a expansão do ensino tecnológico é necessária, gera bons frutos, mas reclamam do que denominam de "discurso do agradecimento". Isso para dizer que o benefício gerado pela implantação de novas unidades de ensino, novos cursos e até laboratórios em processos de construção não pode justificar as carências sofridas hoje pelos alunos desses mesmos novos cursos.

No Campus Avançado do IFCE em Baturité, estudantes de Gastronomia estão no segundo ano do curso e não têm um laboratório. Eles têm que percorrer 330 km para fazer o uso dos equipamentos de Iguatu.

No Campus de Limoeiro do Norte, estudantes do 6º período de Nutrição não possuem laboratório próprio, assim como os de Educação Física. A alternativa é usar o laboratório de Biologia ou Tecnologia de Alimentos, que, segundo os estudantes, não atende a toda a demanda das ementas do curso de Nutrição.

"O fato de não termos um laboratório próprio acaba dificultando a realização de trabalhos de pesquisa de extensão. O laboratório de Biologia ajuda? Ajuda. Mas o correto não é o curso ter o seu laboratório próprio com os seus devidos equipamentos?", indaga Diego Malveira, do 5º semestre do curso de Nutrição em Limoeiro do Norte.

"O grande problema que temos enfrentado é a expansão da quantidade sem o acompanhamento da qualidade. Não é certo abrir um curso e deixar que as coisas (laboratórios, livros, professores etc.) só venham depois, sacrificando e desestimulando os primeiros alunos", afirma o professor Diego Gadelha.

Outro curso recém-implantado é o de Agronegócio. Nada mal, se o Vale do Jaguaribe detém, por exemplo, os principais polos fruticultores do Estado. Mas é outro curso que não tem laboratório próprio.

Para as atividades de ordem agrária, existe a Unidade de Pesquisa e Extensão (UEP), uma fazenda na Chapada do Apodi.

O diretor do campus de Limoeiro do Norte, José Façanha admite que alguns cursos não têm laboratório próprio, mas nega que eles tenham deixado de fazer as aulas práticas conforme regimenta a grade curricular. "Os cursos que não tenham laboratório nós temos convênios que viabilizam as aulas de campo. É o caso da Betânia (fazenda leiteira), que é uma das maiores do Ceará. E para o setor de agropecuária temos parceria com o IFCE de Iguatu".

O diretor ainda justifica a eficiência no campus com as boas avaliações do Ministério da Educação. O curso de Irrigação foi o único do Interior a tirar uma nota máxima na avaliação do MEC. Saneamento ambiental foi outro a tirar uma das melhores notas.

"Eu até entendo a ansiedade dos alunos. Se eles pedem o laboratório, isso é bom, porque é sinal de interesse, mas não estamos deixando de dar as aulas práticas. Temos vários ex-alunos professores, pesquisadores, ou empregados em vários Municípios. Existem equipamentos em processo de aquisição, mas a nossa estrutura é como poucas do Nordeste", afirma Façanha.

Bolsistas

Um problema apontado por estudantes e professores diz respeito à ocupação dada aos bolsistas da instituição, que informalmente assumem cargos de recepcionista, atendimento em biblioteca, laboratórios e sala de audiovisual. Eles recebem meio salário mínimo e cumprem expediente nessas funções. O problema existe em outros campos, com bolsistas exercendo funções de auxiliar de consultório e no setor de protocolo. Essa prática é ilegal, conforme decreto de 2010 do Programa Nacional de Assistência Estudantil. A Secretaria Especial de Educação Tecnológica referenda que não haja contrapartida em troca de auxílio financeiro ao estudante.

Façanha admite que bolsistas ocupam funções. "Mas se ele está na recepção, a gente entende que também é uma forma de o indivíduo aprender com o atendimento público", diz. O Diretório Central dos Estudantes, em Fortaleza, entrou com representação no Ministério Público Federal para denunciar o trato com bolsistas no IFCE.

CVTs

A expansão tecnológica no Ceará, depois referendada pelo Governo Federal para outros Estados, deu-se inicialmente com os Centros Vocacionais Tecnológicos (CVTs), submetido ao Instituto Centro de Ensino Tecnológico (Centec). O órgão faz a capacitação da população, como uma unidade de formação profissional básica, oferecendo cursos em diversas áreas para além dos estudos em química, física e biologia: recursos naturais, ambiente, saúde, segurança, produção alimentícia etc.

As escolas de educação profissional tecnológica passaram para a esfera federal, e o Centec e CVTs viram recursos mais minguados. A consequência é o sucateamento de algumas unidades dos CVTs, como em Tabuleiro do Norte, onde há laboratórios parados e cursos sem funcionar. Segundo a Diretoria de Extensão Tecnológica e Inovação do Centec, os CVTs serão revitalizados em breve, a partir da liberação de recursos de emenda parlamentar, por meio da Secretaria de Ciência e Tecnologia.

Unidades expandem a capacidade

São muitos os cursos para quem quer capacitação tecnológica no mercado de trabalho. Pode ser um curso de Apicultura (produção de mel) no Centro Vocacional Tecnológico (CVT) de Icó, ainda Técnico em Refrigeração ou superior em Mecatrônica no Instituto Federal do Ceará (IFCE).

Para atender à demanda de cursos, novos professores deverão ser contratados no Estado. Hoje, acontece a primeira fase do concurso público para professores efetivos de 18 unidades do IFCE no Interior.

Ao todo, houve 2.433 inscritos para 95 vagas ofertadas nos campi de Acaraú, Aracati, Baturité, Camocim, Canindé, Caucaia, Crateús, Iguatu, Jaguaribe, Limoeiro do Norte, Maracanaú, Morada Nova, Quixadá, Sobral, Tabuleiro do Norte, Tauá, Tianguá e Ubajara.

Novos alunos

O ingresso de novos alunos nos cursos superiores do IFCE se dá por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Desse modo, a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é usada como critério de classificação - as exceções para esse processo são as licenciaturas em Artes Visuais e em Teatro. Cada campus possui sua página virtual, mas o aluno pode ver a seleção de cursos e as unidades de cada região pela página eletrônica do instituto (http://www.ifce.edu.br).

Extensão

O IFCE também possui trabalhos de extensão, participação ativa na sociedade. É o caso das incubadoras tecnológicas e da Educação à Distância. Por meio do sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) e Escola Técnica Aberta do Brasil (e-TEC), são ofertados cursos de ensino técnico e superior gratuito para todo o País. O diploma dos cursos à distância possui a mesma validade dos de cursos presenciais.

O Instituto Centec é composto por cinco órgãos: Faculdades de Tecnologia Centec, que são instituições de ensino localizadas no interior do Estado e que oferecem cursos regulares para a formação de técnicos e tecnólogos de nível superior nas áreas de Irrigação, Saneamento, Eletromecânica e Alimentos, além de Centros Vocacionais Técnicos, que oferecem educação profissional técnica gratuita, realizando atividades de expansão técnica a fim de ampliar o acesso da população à profissionalização.

Existem também os Centros Vocacionais Tecnológicos, os quais oferecem cursos de formação inicial e continuada a trabalhadores. Há ainda o Centro de Formação de Instrutores, que tem como objetivo promover a melhoria do ensino de Ciências através de cursos de aperfeiçoamento científico e pedagógico de professores e de cursos técnico-científicos básicos para ensino profissionalizante.

Mais informações

Instituto Centro de Ensino Tecnológico (Centec)

http://www.centec.org.br

Instituto Federal do Ceará

http://www.ifce.edu.br

Melquíades Júnior