Produção de banana em Iguatu enfrenta crise

A persistir o quadro, Iguatu vai sofrer um baque em um setor da economia agrícola que gera emprego e renda

Escrito por Honório Barbosa - Colaborador ,
Legenda: Na cidade de Iguatu, há cerca de 400 famílias que trabalham diretamente na produção de banana irrigada em uma área de 500 hectares nas localidades de Penha, Cardoso, Quixoá e Gadelha
Foto: FOTO: HONÓRIO BARBOSA

Iguatu. Depois de enfrentar destruição por ventania em três anos seguidos, parte dos produtores de banana deste Município, na região Centro-Sul do Ceará, agora amarga a ausência de compradores. Há também queda de preço do fruto em torno de 30%. O quadro vem desanimando os fruticultores e alguns já anunciam redução de área de cultivo ou mesmo abandono da atividade.

A persistir o quadro, o Município vai sofrer mais um baque em um setor da economia agrícola que gera emprego e renda para milhares de famílias. De acordo com levantamento da Secretaria de Agricultura do Município, Iguatu tem cerca de 500 hectares de cultivo irrigado de banana das variedades nanica (casca verde) e pacovan, alcançando o terceiro maior núcleo de produção no Ceará.

"Só está conseguindo vender, quem já tem mercado externo, transporte próprio, para fábricas de doce e distribuidores locais", observa o produtor rural Ivo Antunes. "O preço caiu e os atravessadores sumiram". Segundo Antunes, o comércio de compra e venda na roça, que já perdurava mais de três décadas, está se acabando. "Novas áreas de produção em outros Estados surgiram a partir do uso de irrigação localizada, moderna, micro aspersão, que exige pouca água".

O produtor rural Francisco Bezerra disse que amarga prejuízo. "A gente colhia os frutos, deixava na roça e os compradores chegavam a cada semana. Aqui o fluxo era intenso, mas de uns meses para cá, eles não vêm mais", explicou. "Isso traz perda e se continuar assim vou parar com o cultivo".

O produtor Armando de Souza é um dos antigos fruticultores e consegue se manter na atividade porque dispõe de camionete e faz venda própria, sem intermediários, para lojas em Iguatu e em outras cidades. Recentemente, vendeu uma carga para uma fábrica de doces em Limoeiro do Norte, no Vale do Jaguaribe. "A alternativa é vender para fora, mesmo com o preço reduzido".

O técnico da secretaria de Agricultura do Município, José Teixeira Neto, confirma que aqueles produtores que não têm canal de escoamento de produção passam por dificuldades, mas ressalta que o setor vai superar dificuldades. "Esperar para vender na roça não está dando mais certo e os mais afetados são os produtores de banana nanica", frisou. "Quem tem rota continua vendendo mesmo com queda de preço e de quantidade para cidades da região Centro-Sul, Inhamuns e Sertão Central".

Escassez

Os produtores que investiram em aquisição de camionetas ou caminhões, mesmo de pequeno porte, conseguem escoar a produção semanal. "Há escassez de banana, em particular das variedades pacovan e prata", pontuou Teixeira. "Iguatu continua como centro produtor importante e o produtor mais estruturado não foi afetado".

O técnico da unidade regional da Agência de Defesa Agropecuária (Adagri), Cristiano Benedito, que acompanhou durante vários anos os produtores de banana, em Iguatu, observa que a crise pode ser sazonal. "Há aquele período de menor e maior produção ao longo do ano", explicou. "No início do ano, no primeiro semestre, temos recuo e aquele comprador que vem de fora e não encontra o produto em quantidade suficiente, não volta nunca mais", explica.

Para Cristiano Benedito, a falta de organização dos pequenos produtores é o principal fator da atual crise de comercialização. "Para quem depende da venda no local de produção, a situação está difícil", pontuou. "É preciso uma associação, uma articulação entre os produtores que poderiam vender carga fechada, semanalmente para Fortaleza, que tem mercado aberto".

Famílias

Estima-se que, na cidade de Iguatu, há cerca de 400 famílias que trabalham diretamente na produção de banana irrigada em uma área de 500 hectares nas localidades de Penha, Cardoso, Quixoá e Gadelha, que formam o cinturão produtivo nas várzeas do Rio Jaguaribe. A variedade nanica (casca verde) é a mais cultivada e apresenta média de produção anual por hectare entre 40 toneladas e 50 toneladas ou 100 milheiros.

Após a mudança de irrigação localizada em substituição à antiga técnica de inundação e uso de manejo moderno, houve aumento da produtividade, que era considerada muito baixa. O preço de venda do milheiro da banana nanica varia entre R$ 90,00 e R$ 110,00. Já o quilo está em torno de R$ 0,30. Esse valor já foi melhor, no início de 2017, chegando a R$ 120,00, o milheiro.

O preço da variedade pacovan é superior. O milheiro da fruta é vendido entre R$ 180,00 e R$ 200,00. Em janeiro passado, era R$ 280,00. "É preciso melhorar a qualidade do fruto, adotar técnicas corretas de colheita, armazenamento e transporte para que o fruto tenha boa aparência", defende Cristiano.

Supermercados

A banana nanica, historicamente, foi mais direcionada para a produção de doces, enquanto que a pacovan é direcionada para o consumo na mesa. "Essa realidade está mudando. A gente já vê nos supermercados a banana nanica, em particular quando amadurecida em câmara fria, que fica com a cor amarelada", contou Cristiano Benedito. "Os consumidores estão gostando do sabor e o preço fica em torno da metade da banana prata".