Pesquisa propõe alternativas para solos degradados

Recuperar áreas improdutivas é desafio para se vencer os grandes vazios demográficos no Ceará

Escrito por Redação ,
Legenda: Grandes vazios demográficos ocorrem em 106 cidades, por conta da desertificação
Foto: fotos: cid barbosa

Quixadá. Desde 2011 o Ceará está em alerta para o êxodo rural. Segundo dados do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece) no início desta década 106 cidades do Ceará perderam população rural. Esses números representam 57,6% do total de municípios e poderão aumentar ainda mais quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizar o próximo censo, em 2020. Segundo os especialistas o quadro pode se tornar ainda mais negativo. A maior dificuldade está em manter o homem no campo. Além da seca, muitas terras estão deixando de produzir. O solo está se tornando cada vez mais infértil.

Por ser um problema que somente vem-se agravando ao longo do tempo, novas iniciativas se juntam a antigos centros de pesquisas que buscam a reabilitação de solos degradados. O principal deles é a Embrapa Caprinos, localizada em Sobral, onde o monitoramento da esterilidade do solo de Irauçuba já é considerada como uma dos modelos de reversão do problema.

Uma pesquisa científica concluída recentemente pode somar nas alternativas para o enfrentamento da degradação provocada por sais no solo do semiárido. Os estudos, iniciados em 2009, realizados pelo professor do Departamento de Química Orgânica e Inorgânica da Universidade Federal do Ceará (UFC), Lindomar Roberto Damasceno da Silva, levaram o especialista a produzir um mineral sintético. O insumo auxilia na recuperação da fertilidade de solos degradados.

Segundo o professor pesquisador, o produto é utilizado por meio da aplicação direta no solo, antes de iniciar a irrigação com água salobra, salgada ou doce. Um processo de troca iônica ocorre durante a ação do produto quando ele absorve as partículas de cálcio e magnésio ao entrar em contato com a água.

De acordo com o professor, o interesse na recuperação dos solos surgiu inicialmente por conta da situação presenciada no município cearense de Irauçuba. Ele também chama a atenção para a situação enfrentada no tabuleiro de Limoeiro do Norte e Morada Nova. Naquela região está ocorrendo um problema que vem se agravando a cada momento. "Está havendo itinerân-cia nas culturas que estão sendo produzidas lá", alerta.

Solos

"No momento, consegue-se produtividade porque as culturas são melhoradas geneticamente. No entanto, com o tempo, o solo começará a manifestar problemas graves, refletidos na produtividade", acrescenta.

Os solos usados como substratos naturais para reabilitação e posterior cultivo estão em uma área localizada no município de Irauçuba e na fazenda experimental da UFC em Pentecoste. Todavia, conforme levantamentos feitos pelo pesquisador, com dados de 2010, no Nordeste do Brasil há mais de nove milhões de hectares com problemas de salinidade ou alcalinidade.

Na Bahia encontra-se a maior área de solos afetados por sais, com cerca de 44% de áreas salinizadas. O Ceará tem aproximadamente 25,5% do seu território com esse problema.

Sobre a porcentagem de recuperação de solos, o professor afirma que "não dá para tratar em termos percentuais, tendo em vista que o projeto ainda não foi finalizado. Até porque a recuperação total dos solos pode levar décadas". No entanto, acredita que alternativas buscadas pela ciências deverão possibilitar o aumento de produtividade das comunidades, pois os solos improdutivos tornarão a ser usados para produção agrícola.

FIQUE POR DENTRO

Represa também produz água salobra

Tecnicamente, considera-se água salobra a que possui entre 0,5 e 30 gramas de sal por litro. Ela tem mais sais dissolvidos que a água doce e menos que a água do mar. Pode resultar da mistura da água do mar com água doce, como em estuários, ou pode ocorrer em aquíferos. Certas atividades humanas podem produzir água salobra, como em represas. A água salobra é típica dos estuários e resulta da mistura da água do rio correspondente com a água do mar. Também se encontra água salobra de origem fóssil em certos aquíferos.

Mais informações:
Embrapa Caprinos
Telefone: (88) 3112.7455
IBGE
Telefone: (85) 3464.5342

Alex Pimentel
Colaborador