Pecuária leiteira pode chegar a áreas irrigadas

Escrito por Redação ,
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Projeto articulado pela Adece vai promover a produção leiteira nas áreas ociosas dos perímetros irrigados

Iguatu. Mercado favorável, lucratividade garantida, terras planas, conhecimento tecnológico, infraestrutura de irrigação. Com esses fatores na ponta do lápis, a Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece) quer ampliar a produção de leite a partir da utilização de áreas ociosas em perímetros irrigados administrados pelo Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs). O órgão já concedeu a anuência para a criação de gado leiteiro e agora a Adece tenta vencer o desafio de sensibilizar produtores e atrair novos empresários a investirem na atividade.

O projeto Leite Ceará prevê a produção em perímetros irrigados e com isso garantir o aumento na oferta de lácteo e de seus derivados. O autor da ideia, o presidente da Adece, Francisco Zuza de Oliveira, mostra-se empolgado e, com entusiasmo, aponta o quadro favorável: "O Ceará importa 450 mil litros de leite, indústrias vão chegar expandindo o parque produtivo e o consumo é crescente".

O déficit de produção do Estado demonstra a necessidade de aumento da produção em pelo menos 260 mil litros/dia. Seriam implantados quatro mil hectares irrigados para a criação de gado leiteiro. A Adece encomendou, em 2010, à empresa Leite & Negócios Consultoria, um estudo de viabilidade econômica na exploração da atividade leiteira em perímetros irrigados no Ceará.

O foco principal seriam os modernos perímetros irrigados do Tabuleiro de Russas e do Baixo Acaraú, que apresentam vantagens para a cadeia produtiva do leite, dentre elas: melhor aproveitamento das áreas irrigadas, ocupação de apenas 30% das áreas agrícolas, utilização de infraestrutura disponível, redução da inadimplência, maior oferta de adubo orgânico nas unidades.

O consultor empresarial, Raimundo Reis, autor do estudo sobre a viabilidade econômica da atividade leiteira em perímetros irrigados não tem dúvida: "A avaliação foi amplamente favorável e a pecuária intensiva, segundo as modernas técnicas de criação, dará lucro certo". Reis lembrou que o leite é um produto nobre complementando que o manejo é "intrínseco à cultura do cearense".

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A Adece já divulgou em revistas especializadas, em feiras e eventos nacionais da pecuária leiteira o projeto Leite Ceará, que nos últimos meses vem ganhando espaço a partir das oportunidades que o Estado oferece. "A nossa expectativa é que vai aportar um projeto de grande magnitude e o Ceará vai ampliar a sua produção leiteira nos próximos anos", frisou Reis.

O estudo da consultoria Leite & Negócios teve por base modelos produtivos considerando seis tamanhos de lotes de oito a 210 hectares. A renda líquida por hectare/mês varia entre R$ 456,00 a R$ 639,00, conforme a dimensão da unidade. O período de recuperação do capital mostrou-se compatível com a atividade. No lote de 24ha foi de 95 meses. O menor custo total foi verificado no lote de 210ha. Em comparação com propriedades rurais, a implantação de projetos de pecuária de leite em áreas de perímetros irrigados apresenta vantagens que foram destacados no estudo: custo baixo da terra, facilidade de pagamento, solo plano e com boa drenagem, garantia de fornecimento de água, estrutura de irrigação pronta, aproveitamento total da área, isto é, sem necessidade de reserva legal, porquanto já existente no perímetro, utilização de estruturas comuns de captação e armazenamento do produto, facilidade para contratar serviços e mão-de-obra.

O modelo de produção proposto nos perímetros irrigados tem por base a produção de leite em sistema intensivo. A alimentação do rebanho no período chuvoso em pastagens nativas, tropicais, e na época seca, em pastejo rotacionado irrigado.

Para o presidente da Adece, Zuza de Oliveira, a resposta do Ceará tem de ser rápida. "A instalação de novas indústrias e o crescimento do consumo impõem o aumento na oferta em pelo menos 260 mil litros de leite por dia", frisou. "Os perímetros apresentam áreas ociosas, com ocupação de apenas 30% e dispõem de infraestrutura de irrigação", afirma.

Zuza Oliveira observa que é preciso com urgência haver produção nessas áreas ociosas. "Não queremos substituir a fruticultura, mas ampliar a produção de leite, que dá lucro e tem demanda, um mercado amplamente favorável".

Nos perímetros irrigados, a principal atividade explorada é a fruticultura, mas segundo estudos haveria limitação de mercado, havendo necessidade de um trabalho prévio na área comercial, tornando a expansão da atividade um negócio que exige cautela. Segundo a Adece, no período de 2009 a 2018, a expectativa de crescimento da produção de fruteiras será em torno de 4% ao ano.

Saiba Mais

Produção leiteira

A cadeia produtiva do leite vem se transformando na região Nordeste, na última década, impulsionada pelo aumento do consumo. A produção de leite/dia, no Ceará, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é de 1,165 milhão. O Estado importa cerca de 450 mil litros de leite/dia. O projeto Leite Ceará quer aproveitar as áreas ociosas dos perímetros irrigados do Baixo Acaraú e Tabuleiro de Russas. Os dois somam 19 mil hectares de área disponível para produção, mas apresentam ocupação de apenas 30%. Fora dos perímetros existem, ainda, cerca de 50 mil hectares com potencial para irrigação imediata no Ceará.

MAIS INFORMAÇÕES

Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece)
Av. Barão de Studart, 598 - Bairro Meireles - Fortaleza (CE) - (85) 3244.7980

PERÍMETROS IRRIGADOS

Dnocs quer facilitar acesso de produtores aos lotes públicos

Instituição concederá lotes para irrigantes que realmente querem produzir. Uma revisão no processo foi realizada

Iguatu. A atual diretoria do Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs) corre contra o tempo e tenta por meio de decisões administrativas facilitar o acesso aos lotes dos perímetros irrigados, em particular nos projetos Tabuleiro de Russas e no Baixo Acaraú para o "bom irrigante", aquele que realmente quer produzir. "Estamos indo atrás de produtores e, de forma mais rápida, conceder o direito de exploração dos lotes", disse o diretor de produção do órgão, Rennys Aguiar Frota.

Quanto à implantação de projetos de produção de leite nos perímetros do Dnocs, Frota esclarece que é uma atividade agropecuária e que não há impedimento algum. "O projeto da Adece é bom e tem viabilidade econômica", disse. "Há muitas vantagens como a forte demanda no mercado interno". A exploração da atividade iria ocupar áreas disponíveis e ociosas que estão em mãos de irrigantes que não produzem nada.

Outras experiências

O diretor de produção lembrou que nos perímetros mais antigos já há criação de vacas leiteiras, com destaque para a unidade instalada em Morada Nova. Nos perímetros de Tabuleiro de Russas e no Baixo Acaraú alguns projetos já foram iniciados, mas para atrair novos empresários o Dnocs está revisando o modelo de concessão dos lotes com o objetivo de facilitar o acesso aos irrigantes.

Uma das medidas é retomar os lotes que não estão produzindo. Outra é estabelecer contratos administrativos de concessão de direito real de uso com prazo de 15 anos e três de carência. "Precisamos de mais agilidade porque quem quer investir não pode esperar muito tempo", explicou.

Segundo Frota, há um grupo de empresários de Ribeiro Preto, cidade paulista, que quer produzir leite no Baixo Acaraú, e produtores locais da Associação dos Produtores de Leite do Ceará (Aprolece) interessados em 800 hectares no Tabuleiro de Russas.

Para os projetos saírem do papel e chegarem ao campo, o Dnocs corrigiu falhas no modelo de entrega dos lotes e tenta retomar aqueles que têm "donos" e estão ociosos. "Houve erro no modelo de escolha de irrigantes no passado", disse Frota. "O processo era pouco eficiente e muitos adquiriram lotes para especular e para outros faltam capacidade e condições de exploração econômica".

Uma das mudanças é que o lote somente seja concedido quando o projeto produtivo já estiver aprovado no banco para o financiamento de investimentos e custeio.

A exemplo disso, o pedido de financiamento, junto ao BNB, da Agropecuária Vale do Castanhão, está em fase final. A empresa implantará 60ha no Tabuleiro de Russas.

Outra mudança é a seleção dos interessados, agora, mais rigorosa. "Vamos retomar os lotes ociosos e já fizemos revisão no modelo de concessão", reforçou Rennys Aguiar Frota. Continua na página 2





Honório Barbosa
Repórter