Padre Francisco Pinto pode ser canonizado

Primeiro missionário jesuíta no Ceará, ele foi morto durante a evangelização indígena na Chapada da Ibiapaba

Escrito por Marcelino Júnior - Colaborador ,
Legenda: Nascido na Ilha de Angra, nos Açores, em 1552, padre Francisco Pinto entrou no noviciato dos Jesuítas, em Salvador, em dezembro de 1568, aos 16 anos

Tianguá. A cerimônia que inicia oficialmente o processo de canonização do padre Francisco Pinto, mártir jesuíta morto na campanha de evangelização de indígenas na Chapada da Ibiapaba, foi realizada nessa segunda-feira (11), na Igreja Matriz de Sant'Ana, em Tianguá, tendo à frente o bispo diocesano dom Francisco Xavier, da Ordem dos Agostinianos Recoletos. O padre foi o primeiro missionário do Ceará, e consta na relação de pessoas influentes na formação de Messejana, onde se encontra memorial construído em homenagem a essa história.

"Essa cerimônia inicia o processo de canonização do homem que nos deixa como legado sua doação até à morte para a evangelização dos povos. É um modelo a ser seguido por todos, pois foi um homem simples, que foi além na sua crença", disse o bispo dom Francisco Xavier.

Pesquisa

A ideia de canonização do Padre Francisco Pinto partiu do professor Adauto Leitão. Após celebrações em nome do jesuíta, realizadas em Messejana, ele resolveu buscar subsídios para o processo. "No percurso, procurei orientação com o postulador da canonização de São José de Anchieta, Padre César Augusto. A sequência era iniciar o processo com anuência de um arcebispo ou bispo. Com o consentimento, ele buscou o apoio de religiosos que se interessaram pelo assunto. Um facilitador disso, conforme suas informações, foi o fato de o legado do padre Francisco Pinto unir Messejana à Ibiapaba.

Nascido na Ilha de Angra, nos Açores, em 1552, Francisco Pinto entrou no noviciato dos Jesuítas, em Salvador, em dezembro de 1568, aos 16 anos. Na Bahia, fez seus estudos superiores, formando-se em Latim, sendo perito em Tupi-Guarani, principal grupo indígena do Brasil.

As viagens do padre pelo nordeste datam do século XVII, nas capitanias de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Em 1607, ao receber a missão de realizar uma jornada do Ceará ao Maranhão, chamada de "Jornada do Maranhão", na companhia do auxiliar padre Luís Figueira, estabelece um núcleo com os índios potiguares num aldeamento denominado, então, "Paupina", hoje, o centro de Messejana.

Martírio

A pioneira Missão Evangelizadora do Ceará, foi registrada no diário de um dos companheiros de viagem do padre, o jesuíta Luís Figueira. Neste diário é contado o martírio sofrido na Serra da Ibiapaba, ocorrido no dia 11 de janeiro de 1608, quando índios da etnia dos "carijus", numa emboscada no alto da Serra da Ibiapaba, atacaram violentamente o grupo e, segundo o relato, a cabeça do religioso teria sido esmagada com um tacape. A Iconografia de época, que é o estudo descritivo da representação visual de símbolos e imagens, mostra uma flecha no peito do padre Francisco Pinto, significando, simbolicamente, a morte por martírio. Uma gravura do trágico evento publicada por Michel Cnobbaert (artista flamengo, radicado na Antuérpia), se encontra na Biblioteca Nacional de Portugal.

Fique por dentro

Conheça as etapas para a santificação

Com a prova de que praticou em grau heroico todas as virtudes cristãs, o bispo instaura a cerimônia de abertura do processo e é declarado Servo de Deus. Depois, os documentos, vão para Roma, para análise pelos peritos da Causa dos Santos. Com o parecer favorável, é declarado Venerável. Na segunda etapa, para os mártires, não são exigidos milagres. O candidato é proclamado Beato ou Bem Aventurado e já pode ser venerado. Na terceira etapa, a Igreja pede um milagre comprovado. Só depois é canonizado, incluído no Cânone ou seja, na lista dos Santos.