Operação Carro-Pipa mantém rotas durante período de chuva

31 municípios dos Inhamuns e Sertões Central e de Canindé continuam sendo abastecidos por caminhões-pipa. Apesar de estar chovendo, há problemas com a distribuição, que não garante o reabastecimento em todo o Estado

Escrito por Honório Barbosa , regiao@svm.com.br
Legenda: Operação Carro-Pipa continua ativa para atender a comunidades do Sertão onde a demanda por água é maior do que a oferta
Foto: Foto: Alex Pimentel

Apesar de as chuvas no Estado terem superado a média histórica pelo terceiro mês consecutivo, 31 municípios das regiões Inhamuns, Sertão Central e Sertões de Canindé ainda estão sendo atendidos pela Operação Carro-Pipa (OCP), realizada por meio de cooperação técnica e financeira entre os Ministérios do Desenvolvimento Regional e da Defesa. O cenário contraditório pode ser explicado pelas chuvas irregulares. Enquanto uma região recebe generoso volume pluviométrico, outra sofre com baixos índices de chuva.

As regiões contempladas pelos Carros-Pipas apresentam registros de chuvas insuficientes para recarga das cisternas e recuperação do volume dos poços e açudes. De acordo com o Sindicato dos Pipeiros do Estado do Ceará (Sinpece), há cerca de 400 caminhões abastecendo mais de 170 mil habitantes rurais.

Entre os municípios assistidos está Tauá, na região dos Inhamuns, que conta com 65 caminhões-pipa. A água é captada em poços da cidade de Pio IX, no Piauí, distante 100km. É uma das rotas mais extensas do interior. "A salvação tem sido o caminhão que abastece as cisternas e assim nós temos água para beber e cozinhar", destaca a dona de casa Maria Augusta Silva.

Parambu, também nos Inhamuns, tem 45 caminhões para atender à demanda por água potável. No Sertão Central, Quixadá e Quixeramobim dispõem, cada, de 10 caminhões.

Chuvas localizadas

O meteorologista da Funceme, Raul Fritz, explicou que é comum o sertão cearense ter chuvas mal distribuídas. "Recebemos ligações de pessoas que se espantam diante da falta de chuva em determinados municípios ou distritos ao alegarem que em regiões vizinhas está chovendo bem".

Fritz entende que, apesar da média municipal ou da macrorregião apresentar índices percentuais acima do esperado, determinadas localidades mais afastadas registram déficit hídrico. "Esse é um cenário comum", reconhece.

O presidente da Associação dos Municípios do Estado do Ceará (Aprece), Nilson Diniz, avalia que os poços profundos, adutoras e cisternas de placas são alternativas à distribuição de água por carros-pipa. "Existe a necessidade emergencial que não pode ser deixada de lado, mas é preciso investir cada vez mais em perfuração de poços, instalação de dessalinizadores e de adutoras, que distribuem água com mais eficiência".

O presidente da Aprece ponderou, entretanto, que as ações tidas como alternativas dependem da chuva. "A fonte é chuva para recarga de açudes e do lençol freático". O secretário Executivo da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), Aderilo Alcântara, destacou o programa 'Malha D'água', que prevê a implantação de redes de adutoras em açudes para atender cidades e localidades rurais. "A água quando é distribuída por meio de canos a partir de um açude atende de forma otimizada a demanda, diferentemente quando escorre em leito natural, com elevado desperdício, acima de 70%".

Problemas

Apesar de o programa estar em andamento em três regiões, pipeiros reclamam do atraso no pagamento dos dois primeiros meses deste ano. "Se não recebermos até o próximo dia 20, a categoria deve paralisar a distribuição de água", contou o diretor geral do Sinpece, Eduardo Aragão.

De acordo com o Sindicato, cada pipeiro recebe, em média, R$ 8 mil por mês com lucro de R$ 2.500. "Esses valores dependem de cada rota", ressalta Aragão. "A cada fim e início de ano é comum ocorrerem atrasos e o Exército nos informa que é devido ao repasse de verba do Ministério".

O Ministério do Desenvolvimento Regional não esclareceu o porquê do atraso. Em nota, a pasta informou que "a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec) destaca que a Operação Carro-Pipa (OCP) consiste na mútua cooperação técnica e financeira entre o MDR e o Ministério da Defesa para atender a comunidades rurais".

Ainda conforme o MDR, o Exército Brasileiro - responsável pela contratação, seleção, fiscalização e pagamento de pipeiros - "solicita repasses financeiros ao MDR conforme a necessidade de pagamentos. Em fevereiro, 395 carros-pipa estiveram em operação, atendendo uma população de 174.796 habitantes. Os dados são dinâmicos e podem mudar mês a mês, de acordo com a demanda", completou a nota.