Pai realiza a cerimônia de casamento da própria filha em Milagres

Diácono há quase três anos, Raimundo levou a filha Rebeca ao altar como 'pai', vestiu a batina e realizou o rito religioso

Escrito por Antonio Rodrigues ,
Legenda: Raimundo e Rebeca entraram juntos na igreja.
Foto: Foto: Vinícios Diniz/Arquivo pessoal

Momento aguardado por muitos casais, o casamento religioso teve um sabor especial para Rebeca Sampaio, de 29 anos. O pai dela, o marceneiro Raimundo Tarcísio Cabral, de 64 anos, ordenado diácono há quase três anos, foi quem realizou a união matrimonial da filha caçula, em Milagres, no Cariri cearense, na noite do último sábado (8). A celebração foi na Paróquia de Nossa Senhora dos Milagres. 

O fato - inusitado - é permitido pela Igreja Católica. O diácono é um título de terceiro grau da Ordem do Sacramento, abaixo de bispos e padres. Como parte do clero, são responsáveis por trabalhos administrativos nas dioceses, mas também podem realizar cerimônias como batismos e casamentos.  

Em caso de solteiros e viúvos, o homem diácono deve permanecer celibatário pelo resto da vida, assim como os padres. Porém, muitos diáconos permanentes, como Raimundo, foram ordenados após terem se casado e constituído família.  

Assim, na cerimônia, o marceneiro entrou na igreja cumprindo o ritual de um pai, levando Rebeca até o altar, para, em seguida, vestir-se como sacerdote. Após a troca de alianças, ele tirou a batina e voltou à condição de patriarca da família.

“É sempre um momento de muita emoção, de a gente até achar que não tem o merecimento, que jamais sonharia com um momento desse. É uma graça muito grande. Momento de louvar e agradecer a Deus”, definiu Raimundo.  

Educadora Física, Rebeca conheceu Danilo Alvar Araújo, 32, na época da rede social Orkut. Ela nasceu em Brejo Santo e ele é natural de Barbalha. Os dois namoraram por sete anos e sete meses e, há três anos, ficaram noivos.

A noiva não escondeu a ansiedade de percorrer a Igreja de braços dados com o pai para, em seguida, encontrá-lo no altar como celebrante. "A emoção foi diferente. Todos os convidados estavam com uma expectativa muito grande. Foi muito marcante, pois ele me entregou ao noivo e foi se vestir para celebrar o casamento. Aquele momento ficou marcado para o resto da minha vida. Um momento inesquecível”, define Rebeca.

Legenda: Diácono, o pai assumiu o papel de celebrante e realizou o casamento da filha Rebeca com Danilo
Foto: Foto: Bruno Yacub/Arquivo pessoal

Trajetória 

Nascido em uma família cristã, Raimundo se afastou da Igreja Católica na juventude e passou a frequentar igrejas evangélicas. Só voltou ao catolicismo aos 34 anos, quando era espírita kardecista e já tinha dez anos de casado. No grupo do Encontro de Casais com Cristo (ECC), se reconciliou com a doutrina. “Foi minha conversão”, lembra.  

De volta à Igreja Católica, começou a fazer parte das pastorais, realizando trabalho missionário em Brejo Santo. “Aí fui convidado para ser ministro da eucaristia pelo monsenhor Dermival Gondim. Com algum tempo, me convidou para ser diácono permanente, mas não estava preparado”, lembra. Dez anos depois, recebeu o mesmo convite e entrou no Seminário São José, em Crato. “Já estava consciente de minha missão”, acredita.  

Após seis anos de seminário, Raimundo foi ordenado no dia 23 de abril de 2017. De lá para cá, já realizou casamentos e batizados em Brejo Santo. Casado há 39 anos com Goreth Cruz Cabral, é pai de três filhos, sendo Rebeca a caçula. “Tive a graça de realizar esse casamento”, comemorou.  

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