Mata Atlântica, no Ceará, está em nível zero de desmatamento

Apesar do resultado positivo, especialistas indicam que políticas de combate ao desflorestamento ainda são importantes

Escrito por Redação , regiao@verdesmares.com.br
Legenda: Mudas de pequi na Chapada do Araripe, região que faz parte da Mata Atlântica cearense.

No dia da Mata Atlântica, celebrado nesta segunda-feira (27), há motivo para comemorar: o trecho cearense da floresta está em nível zero de desmatamento, conforme o relatório elaborado pela Fundação SOS Mata Atlântica. A pesquisa, realizada em 2017 e 2018, indicou uma queda de 9,3% no desmatamento, em relação ao biênio anterior, e o Ceará é destaque com o menor índice de desflorestamento entre os estados que compõem o bioma.

Da região, nove estados apresentam nível de desmatamento zero, com desmatamento abaixo de 100 hectares, ou 1 Km². São eles: Ceará (7 ha), Alagoas (8 ha), Rio Grande do Norte (13 ha), Rio de Janeiro (18 ha), Espírito Santo (19 ha), Paraíba (33 ha), Pernambuco (90 ha), São Paulo (96 ha) e Sergipe (98 ha). Outros três estados estão a caminho desse índice: Mato Grosso do Sul (140 ha), Rio Grande do Sul (171 ha) e Goiás (289 ha).

Esses dados comprovam como o acompanhamento da sociedade civil e investimentos dos governos no cumprimento da Lei da Mata Atlântica, por meio dos órgãos de conservação, fiscalização e controle, trazem resultados concretos. Este tipo de ação precisa ter continuidade

A observação é da Marcia Hirota, diretora executiva da Fundação SOS Mata Atlântica, que atribui o resultado positivo as ações afirmativas de monitoramento e combate ao desmatamento por órgãos ambientais estaduais, polícia ambiental, Ministério Público e Ibama nos últimos anos.

Riqueza natural

A Mata Atlântica é uma das florestas mais ricas em diversidade de espécies e uma das mais ameaçadas do planeta. O bioma abrange área de cerca de 15% do total do território brasileiro, o que inclui 17 Estados (Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe).

Hoje, restam apenas 12,4% da floresta que existia originalmente e, desses remanescentes, 80% estão em áreas privadas, conforme a Fundação SOS Mata Atlântica. O bioma abriga cerca de 72% da população, sete das nove maiores bacias hidrográficas do país e três dos maiores centros urbanos do continente sul americano. Através da floresta também surgem atividades ligadas à economia como agricultura, pesca, geração de energia, turismo e lazer.

Legenda: Trilha na Chapada do Araripe.
Foto: Roberta Sousa


Ainda é preciso ter atenção

Apesar de resultados positivos, a edição do Atlas da Mata Atlântica aponta cinco estados onde os índices de desmatamento ainda são elevados como: Minas Gerais (3.379 ha), Paraná (2.049 ha), Piauí (2.100 ha), Bahia (1.985 ha) e Santa Catarina (905 ha).

Ieda Del’Arco Sanches, pesquisadora e coordenadora técnica do estudo pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), indica que os resultados da pesquisa são positivos mas que é necessário combater o desmatamento. “Interessante notar que desde o período 2010-2011, quando o mapeamento começou a ser feito anualmente, essa é a primeira vez que o desmatamento diminuiu em dois anos consecutivos. O quadro é bastante promissor, mas é preciso manter o ritmo no combate ao desmatamento para não retroceder”, reforça.

A pesquisadora ressalta que após o aumento do desmatamento no biênio 2015-2016, quando atingiu 29.075 ha, o desmatamento decresceu nos dois últimos anos. Foi registrado 12.562 ha desmatados em 2016-2017 e 11.399 ha em 2017-2018, o que corresponde aos menores índices de desflorestamento desde o início do monitoramento do Atlas.

Para Mario Mantovani, diretor de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica, é importante ter atenção sobre as mudanças propostas pelo governo federal que, em sua análise, podem reverter os resultados alcançados. “Não podemos permitir o enfraquecimento da gestão ambiental e nenhuma tentativa de flexibilização da legislação”, ressalta.
 

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