Colina do Horto amanhece vazia pela primeira vez na Semana Santa

A caminhada até o principal cartão-postal reúne milhares de fiéis entre quinta e sexta-feira da Paixão. Neste ano, foram colocados bloqueios em todos os acessos até a estátua do Padre Cícero.

Escrito por Antonio Rodrigues e Toni Sousa , regiao@svm.com.br
Legenda: Todos os acessos foram fechados
Foto: Foto: Toni Sousa

Um dia “atípico” para a sexta-feira da Paixão de Cristo: a Colina do Horto, em Juazeiro do Norte, vazia. Costume tradicional que acontece na Semana Santa desde a época em que o Padre Cícero (1844-1934) era vivo, a caminhada até o ponto mais alto do município reúne milhares de pessoas, mas, este ano, foi suspensa para conter o avanço coronavírus. Mesmo assim, alguns fiéis, rezaram isoladamente aos pés das estações da Via Sacra, simbolizando a fé depositada o ano inteiro.  

Em todos os acessos ao Horto há barreiras com cerca de 30 homens da Guarda Civil Metropolitana (GCM), equipes do Departamento Municipal de Trânsito (Demutran), além da Polícia Militar.   

O inspetor da Guarda Civil, Francisco Carlos, explica que o bloqueio ao cartão-postal da cidade começou na última quinta-feira, pela manhã, e segue até às 18h deste domingo. “Aqui só tá sendo permitido circular os moradores do Horto. Ninguém desobedeceu até agora. Se desobedecer, vamos apresentar às autoridades”, adverte o agente.  

Natural do estado de Pernambuco, a aposentada Maria do Carmo, 76, que há 26 anos mora em Juazeiro do Norte, na Rua do Horto, mesmo sozinha resolveu acordar às 4h da manhã, com o céu ainda escuro, para subir até a colina. “Nunca tinha acontecido. Aqui eu sempre saia para as igrejas, como não podem entrar lá, vim fazer minhas orações aqui. Quando terminar, vou para casa”, enfatizou.  

Outro morador do Horto, o aposentado Antônio Raimundo ressalta que nunca viu o lugar assim, vazio, na Semana Santa. De todo modo, não achou ruim. “Aqui era gente demais, a bagunça era grande também. Nunca imaginei de ver isso, tudo parado”, conta.  

Tradição  

A tradição oral conta que a caminhada até o Horto na Semana Santa surgiu porque o próprio Padre Cícero frequentava o local. “Ali era um oratório privativo. Era uma capelinha da residência dele. Ele se recolhia ali. De modo particular, neste período de Páscoa, era um momento que ele ia para lá”, explica o pesquisador e professor Renato Casimiro. Com isso, muitos romeiros acabavam subindo o Horto para encontrar o sacerdote. “Era um momento de reclusão, de oração”, define.  

O cancelamento do evento, que “nasceu da informalidade”, como define Casimiro, é a primeira vez em toda a história de Juazeiro do Norte. “Nunca houve isso. Já passamos por coisas muito severas, como a cólera, varíola, gripe asiática, gripe espanhola. Tivemos surtos mundiais, mas nunca uma coisa que o governo declarasse isolamento social. Havia recomendações”, descreve o pesquisador.

Em Juazeiro do Norte, os contágios já têm ocorrido de forma comunitária. No último boletim epidemiológico da Secretaria Municipal de Saúde, a terra do Padre Cícero contabiliza três casos confirmados de Covid-19 e mais 50 suspeitos. Outros 25 pacientes foram descartados com o novo coronavírus.

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