Novo coronavírus já preocupa municípios do interior

A suspeita de infecção pelo Covid-19 chegou às cidades interioranas. Crato, Quixeramobim, e Juazeiro do Norte estão em alerta. No Cariri, o intenso fluxo de pessoas preocupa. Por lá, empresários já registram prejuízos

Escrito por Antonio Rodrigues , regiao@svm.com.br
Legenda: O aeroporto de Juazeiro recebeu, em 2019, quase 500 mil passageiros
Foto: FOTO: ANTONIO RODRIGUES

A disseminação do novo coronavírus pelo mundo já colocou em alerta alguns municípios do interior do Estado, que já adotam medidas para impedir a rápida transmissão da doença. Em Juazeiro do Norte, cidade que recebe, anualmente, em torno de 2 milhões de visitantes, a preocupação é com o calendário de eventos religiosos, que atrai pessoas de várias partes do Nordeste. Dois casos em Crato e um em Quixeramobim, também são suspeitos de portarem a Covid-19.

Município que mais preocupa no momento, Crato tem duas pessoas com suspeita da doença e outras duas, que estavam na lista da Secretaria de Saúde do Estado até ontem (11), já foram descartadas como portadores do vírus. Segundo o secretário municipal de Saúde, André Barreto, os dois estão em isolamento domiciliar. "Clinicamente, estão bem. Já não têm febre, a tosse diminuiu, pouca secreção", descreve. O resultado do exame deve sair até a próxima segunda-feira. "Se der negativo, seguirão suas atividades normais", enfatiza.

Lá, as equipes estão adotando as medidas orientadas pela Secretaria de Saúde do Estado e pelo Ministério da Saúde. O isolamento domiciliar foi uma delas. "Já tivemos palestra, orientações a distância e teremos reunião com todos os médicos. Nela, vamos apresentar o fluxo que definimos, caso apareça novos suspeitos", completa Barreto.

Maior município do interior do Estado, com cerca de 270 mil habitantes, Juazeiro do Norte preocupa por sua população flutuante. Em época de romaria, o número de pessoas em seu território chega a duplicar. Além disso, o Município tem um aeroporto considerado estratégico por ficar próximo às principais capitais do Nordeste. A partir disso, a Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), em parceria com a Secretaria Municipal de Turismo e Romaria (Setur) convidou representantes do setor hoteleiro para tirar dúvidas sobre a doença.

"Queremos mobilizar o máximo de pessoas possível, restaurantes, rede hoteleira e os próprios ranchos, que recebem muitas pessoas idosas, que são as que mais têm sofrido com a doença", explica o titular da Setur, Júnior Feitosa. No próximo dia 24, são celebrados os 176 anos de nascimento do Padre Cícero, e o secretário não descartou o cancelamento do evento. "Andamos conversando, haja vista que o evento é aberto. Até agora, não foi registrado caso. Se mantendo dessa forma, não temo que possa ser cancelado. Mas nada é descartado, depende do que seja observado", completa.

Prejuízo

Gerente de um hotel em Juazeiro do Norte, Júlio Ferreira enfatiza que sua equipe de funcionários tem se mobilizado sobre os cuidados e prevenção com a doença. "Está alarmante", ressalta. Sua média na taxa de ocupação sempre foi de 60% a 70%. Já nas últimas semanas está oscilando entre 15% e 30%. "Isso afeta nosso ganho e consequentemente mais pessoas ficam propícias às demissões", lamenta. O fator econômico preocupa, já que o setor de Comércio e Serviços representa mais de 91,2% do Produto Interno Bruto (PIB) de Juazeiro do Norte. "Já estamos vendo a Itália e outros países consolidados como destino turístico recebendo um grande abalo nos empreendimentos", alerta Júnior Feitosa.

Atualmente, o Aeroporto Orlando Bezerra de Meneses conta com voos com destino a Campinas e Guarulhos (SP), Recife (PE) e Fortaleza (CE). O terminal representa uma importante ferramenta para o desenvolvimento econômico e mobilidade da população para várias áreas do Cariri, não somente para o Sul e Centro-Sul do Ceará, mas também para outros estados. Atende ainda a população do Noroeste de Pernambuco, do Alto Sertão da Paraíba e Sudoeste do Piauí.

Somente nos últimos 15 anos, o número de viajantes que utilizam anualmente o terminal saltou de 30 mil para mais de 560 mil, com recordes consecutivos de movimentação nos últimos cinco anos. "Nós temos um aeroporto com um volume considerado. Nossa maior oferta é São Paulo, maior mercado emissor e o Estado com mais atingidos pela doença. Esperamos que se chegar, que possa ter controle", completa Júnior.

A Sesau visitou o aeroporto de Juazeiro do Norte e se reuniu com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que monitora o equipamento. "Nós repassamos as ações, mas eles já têm um plano de contingenciamento", explica a diretora de Vigilância em Saúde, Evanusia de Lima.

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