Nove municípios têm centros de tratamento de zoonoses no Ceará

O número é considerado insuficiente por especialistas e afeta o controle de doenças como a leishmaniose canina. Até outubro de 2019, quatro cidades que não apresentavam casos da enfermidade passaram a notificar

Escrito por Redação , regiao@svm.com.br
Legenda: Campanhas de prevenção e controle da Leishmaniose são fundamentais para romper o ciclo de transmissão
Foto: FOTO: REINALDO JORGE

Na edição de ontem (17) do Diário do Nordeste, mostramos que a Leishmaniose Visceral (LV), conhecida popularmente como calazar, teve expansão territorial no Ceará, apesar da redução no número de casos. Outro fator que gera preocupação é a propagação da doença em cães (LV Canina), que traz riscos à população humana.

Na área urbana, o animal é a principal fonte de infecção. Segundo o último Boletim Epidemiológico da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), 83 municípios tiveram casos de LVC, em 2018. Já em outubro de 2019, quando foi feito o último balanço, o número saltou para 87, "evidenciando a expansão geográfica no Estado", afirma a Sesa.

Preocupação

Para o vice-presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Ceará (CRMV-CE), Dr. Daniel de Araújo Viana, o impacto da expansão "pode ser desastroso". "Quatro municípios a mais notificaram casos da doença (em animais) em apenas um ano e, certamente, há subnotificação, pois não temos Unidades de Vigilância de Zoonoses (UVZs - antigos Centros de Controle de Zoonoses) suficientes", lamenta.

As unidades realizam a prevenção e o controle de doenças como raiva e calazar, e desenvolvem ações de vigilância sanitária, epidemiológica e ambiental em saúde para evitar situações de epidemia. "Muitas delas (UVZs) são mal equipadas e ao longo dos anos desvirtuaram suas atividades para realizar assistência médico veterinária a cães e gatos. É obrigação do poder público fornecer atendimento veterinário à população, mas não nas UVZs", ressalta Dr.Daniel.

No Ceará, apenas nove municípios contam com Centros de Controles de Zoonodes. Para Dr.Daniel, o baixo número está diretamente ligado à quantidade reduzida de médicos veterinários. Apesar dos avanços observados, atualmente, 136 municípios possuem registros dos profissionais em instituições públicas. Em 2016, apenas 123 cidades contavam com pelo menos um veterinário registrado.

Mauriti

O Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE), aponta que os equipamentos são essenciais e, por isso, precisam ser implantados. Hoje, somente Sobral, Maracanaú, Fortaleza, Cariús, Crateús, Crato, Iguatu, Juazeiro do Norte e Quixadá possuem CCZs. Diante disso, no último dia 7, o MPCE firmou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o município de Mauriti, no Sul cearense, para a construção de um equipamento na cidade, sob pena de multa diária ao gestor municipal.

A justificativa do órgão é o número elevado de casos, em humanos, nos últimos sete anos na cidade. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de Mauriti, neste período foram 52 casos de pessoas contaminadas com calazar - seis incidências somente em 2019. Neste período, duas mortes foram confirmadas. O equipamento fica responsável pelo controle de populações de animais e de vetores.

O tempo exigido para a finalização da unidade é março de 2021. Segundo a Prefeitura de Mauriti, o Município já havia apresentado estimativa para a construção de uma CCZ Tipo 4, com 600 m², na localidade de Sítio Pombos, distrito de Palestina. "Contudo, não há qualquer vinculação nesse sentido, podendo haver alteração diante de eventuais fatores supervenientes ou elementos que melhor beneficiem a população", informou o assessor jurídico da Prefeitura, Daniel da Costa Bezerra.

Orçado em R$ 720 mil, este modelo (Tipo 4) é recomendado pela Fundação Nacional da Saúde (Funasa) para cidades com até cinquenta mil habitantes. "O Município já solicitou parceria junto ao Ministério da Saúde, o qual foi encaminhado pela Funasa", garantiu o assessor jurídico. "Consta ainda a ressalva que possibilita o aditamento dos termos, podendo ser determinada a implantação de equipamento análogo que atenda à demanda do Município".

Em 2018, a administração municipal realizou concurso público para diversas categorias, inclusive para médico veterinário, já tendo nomeado, em 2019, um profissional aprovado no certame, "considerando-se que, atualmente, o município não tem demanda que justifique a convocação de outros veterinários". Apesar disso, "o concurso pode ter validade até dezembro de 2022 diante da necessidade de mais veterinários", justifica.

Transmissão e Cuidados

O contágio ao homem ocorre pela picada das fêmeas do inseto vetor infectado (mosquito-palha). O inseto tem contato com cães ou outros animais que contêm o protozoário Leishmania chagasi e depois transmite ao homem. A contaminação não se dá de humano para humano. Segundo a Sesa, o mosquito-palha está "presente em todos os municípios do Estado" e pode ser encontrado dentro e fora do ambiente domiciliar. 

O representante do CRMV do Ceará, Daniel de Araújo, orienta sobre como evitar a contaminação: telar portas e janelas, usar repelentes e evitar exposição nos horários de maior atividade do vetor (crepúsculo e noite). Além disso, o especialista adverte que "o acúmulo de lixo e água ajudam na proliferação do insetor transmissor". Por isso, são indicadas medidas simples de limpeza.