Monitoramento integrado identifica focos do mosquito Aedes em Juazeiro do Norte

Implantado de forma pioneira na região do Cariri, o Sistema de Monitoramento Integrado do Aedes aegypti captura os mosquitos que são submetidos a teste viral. As informações orientam ações de prevenção e combate, interrompendo o ciclo de transmissão

Escrito por Antonio Rodrigues , regiao@verdesmares.com.br
Legenda: As "armadilhas" são colocadas em locais estratégicos para capturar mosquitos através do sintético de oviposição
Foto: FOTO: ANTONIO RODRIGUES 

Lançado no último mês de junho, o Sistema de Monitoramento Integrado do Aedes aegypti (MI- Aedes), implantado de forma pioneira no Ceará, em Juazeiro do Norte, apresentou seus primeiros resultados. Um total de 570 armadilhas foram espalhadas pelo Município. O objetivo da Secretaria de Saúde de Juazeiro é capturar os insetos transmissores de arboviroses.

Já o trabalho do Monitoramento Integrado consiste em gerar relatórios de infestação do mosquito, permitindo localizar os pontos de maior incidência e quais vírus ele carrega. O Mi-Aedes, desenvolvido pela empresa mineira Ecovec, captura o mosquito adulto através do atraente sintético de oviposição (AtrAedes).

Depois disso, eles são enviados para uma análise viral através da técnica de biologia molecular chamada PCR, que cria várias cópias de segmentos específicos de DNA e permite o diagnóstico, detectando a presença dos vírus da dengue (sorotipos 1, 2, 3 ou 4), zika e chikungunya.

Para obter o geoprocessamento e índices de infestação, a vistoria nas armadilhas é realizada, semanalmente, por um agente de endemias que utiliza aplicativo específico em um dispositivo móvel. O resultado gera mapas, gráficos e tabelas.

"Até hoje, o que se tinha era o controle da forma prematura, a fase larvária, mas, com esse método, também prevenimos a forma adulta", explica a coordenadora do Núcleo de Controle de Endemias, Mascleide Feitosa.

Cobertura

As armadilhas alcançam 85% do território de Juazeiro do Norte. "A gente não pode colocá-las numa área sem ser habitada", justifica Mascleide.

Das 570 armadilhas, 48 fizeram 84 capturas, embora nenhum mosquito estivesse infectado com dengue, chikungunya ou zika. Caso fosse positivo, a empresa mineira sinalizaria imediatamente à Secretaria Municipal de Saúde, que faria a solicitação de inseticida ao Estado para realizar o bloqueio químico.

"Se fizermos em tempo hábil, a gente quebra a cadeia de transmissão", adverte Feitosa. A coordenadora acredita que o MI-Aedes será importante para fazer um controle vetorial mais preciso "Buscamos elementos para somar nesse combate", pontua.

Prevenção

Mesmo que não encontre vírus nos mosquitos capturados os agentes de endemias realizam o trabalho para eliminar os focos. A armadilha, por exemplo, abrange um raio de 200 metros. Por isso, a equipe visita todas as residências nas proximidades até encontrar o local onde eclodiu o ovo do mosquito.

O MI-Aedes também permite trabalhar de forma prioritária nos locais onde há maior concentração dos insetos. Antes da implantação deste novo método, iniciava-se um ciclo de prevenção, feito de casa em casa, entre 45 e 60 dias.

Após trabalhar junto aos moradores de todos os imóveis, o agente voltava ao primeiro para fechar o ciclo. "Com o monitoramento, a gente trabalha com o Índice Médio de Fêmea Adulto Ponderado. Vamos direto aos locais onde as armadilhas apontam risco maior", enfatiza Mascleide.

Triagem

Antes da implementação das armadilhas, foi feito um georreferenciamento, que determinou os pontos de instalação. Depois disso, há uma conversa com o morador da casa onde os aparelhos são colocados e se assina um termo de consentimento. Os agentes também foram treinados e passaram por três capacitações. Apesar de apenas sete trabalharem com o MI-Aedes, outros também receberam a formação para suprir a equipe em períodos de férias ou licença médica.

Segundo o agente de endemias José Brito, até agora as famílias têm recebido muito bem o novo sistema. "Por sinal, tem muita gente pedindo que coloque em sua casa, mas temos que explicar que não são em todas as residências", pondera.

A dona de casa Geralda Araújo Corrêa recebeu com entusiasmo a armadilha dos mosquitos, pois se sente mais segura com o equipamento em seu quintal. "Eu já tive dengue uma vez. Foi horrível. A armadilha é como se fosse um conforto, até para o espírito da gente. Eu quero que tenha fim mesmo esse mosquito. Tenho muito medo", reforça.

Aplicação

Para o modelo ser implantado em Juazeiro do Norte, a Prefeitura investiu R$ 279 mil. Conforme a Ecovec, a estimativa é de que, para cada R$ 1 investido em prevenção, será economizado R$ 6 do Sistema de Saúde (com medicamentos, internação de pacientes, tratamento). Além disso, o MI-Aedes pode reduzir em 60% o risco de epidemia.