Ministro promete água da Transposição para março de 2020

Gustavo Canuto, titular do Ministério do Desenvolvimento Regional, declarou que água do Rio São Francisco chegará primeiro ao município de Jati e deve demorar mais 60 dias para abastecer o Açude Castanhão

Escrito por Antonio Rodrigues , regiao@verdesmares.com.br
Legenda: A água da transposição vai encher o reservatório de Negreiros, em Salgueiro (PE), e depois segue para Jati (CE)
Foto: FOTO: NILTON ALVES

Após visitar as obras do Projeto de Integração do Rio São Francisco (Pisf), em Salgueiro (PE), na última semana, o ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto, garantiu que no fim do mês de março de 2020 as águas do "Velho Chico" chegarão ao reservatório de Jati, no município cearense homônimo. De lá, seguirá até o Açude Castanhão, pelo Cinturão das Águas do Ceará (CAC), para abastecer a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).

O Eixo Norte, responsável por transportar o recurso hídrico também para os estados de Pernambuco e Paraíba, já alcança 97,35% de execução física.

"Até dezembro aqui estará cheio. Daqui, seguirá para Milagres e levará dois meses para encher e, finalmente, chegando a Jati e no fim de março ela correrá pelo Cinturão das Águas do Ceará", detalhou o ministro, no reservatório de Negreiros, em Salgueiro (PE). No início de agosto, o próprio Canuto antecipou que o bombeamento iniciaria no mês de agosto e a previsão da Secretaria de Recursos Hídricos do Ceará era que a água chegasse ao solo cearense ainda este ano.

O atraso se deu por conta de reparos no dique do reservatório Negreiros, que apresentou vazamento detectado por engenheiros em 16 de agosto do ano passado. O risco de rompimento da estrutura, construída entre os anos de 2013 e 2015, assustou 35 famílias da Vila Produtiva Rural próxima, que foram retiradas por segurança. Desde então, recebeu serviços 24 horas, incluindo injeções de cimento e argamassa, melhor solução encontrada por especialistas em barragens.

Com o reparo, a terceira estação de bombeamento do Eixo Norte (EBI-3) voltou a ser acionada e a expectativa do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) é encher o reservatório Negreiros, que já está acima de sua cota mínima, até o fim de dezembro.

Em seguida, a água vai até a barragem Milagres, na divisa entre os estados de Pernambuco e Ceará. Após seu preenchimento, previsto para março de 2020, percorrerá, finalmente, 60 quilômetros até a barragem de Jati, onde será captada pelo Cinturão das Águas do Ceará.

"No dia 23 de novembro, estivemos na obra em Salgueiro acompanhando o ministro Gustavo Canuto e o secretário nacional de Infraestrutura Hídrica, Marcelo Borges, vendo o processo de início de enchimento da barragem de Negreiros. Segundo os técnicos da obra, tudo comportando bem. Vamos aguardar. Tudo está na mão do MDR e que nos cabe é acompanhar e monitorar todo este processo", explica o secretário de Recursos Hídricos do Ceará Francisco Teixeira.

Pelo Cinturão das Água do Ceará, a água do São Francisco será transportada por 53 quilômetros do chamado "eixo emergencial", que ultrapassa 99% de avanço físico, recebendo apenas obras de proteção. O recurso hídrico, captado em Jati, seguirá por gravidade até Missão Velha, onde será direcionado ao Riacho Seco, seguindo pelo Rio Salgado até desaguar no Rio Jaguaribe, onde cairá no maior reservatório do Estado.

Reforço hídrico

O Açude Castanhão - maior do Estado - está com apenas 3,24% de sua capacidade. Por isso, se tornou urgente a conclusão do Eixo do Norte do Pisf para garantir a segurança hídrica da Região Metropolitana Fortaleza. No entanto, mesmo com a chegada em Jati no mês de março, a água do "Velho Chico" ainda demora para alcançar seu destino.

Segundo o diretor de Águas Superficiais da Superintendência de Obras Hídricas (Sohidra), Antônio Madeiro Lucena, o tempo de transporte da água depende da calha do Rio Salgado. "Se estivesse cheia, era coisa de 20 a 25 dias. Do jeito que está hoje, pode levar de 40 dias a dois meses para chegar no Castanhão", explica. "Só para encher e preencher o solo, parte da água será desviada. É como uma esponja. Depois que preenche, flui naturalmente sem perder água", completa.

Com a previsão para entrega em março, dentro da quadra invernosa, a expectativa é que o Rio Salgado esteja cheio e isso, consequentemente, diminui a perda de volume no trajeto. De um volume de 12 m³/s, chegaria ao Castanhão 11 m³/s. Já com o rio seco, a recarga deve ser de 9 m³/s a 10 m³/s. "É um presente dos céus. Um volume imenso. É maior que o consumido por Fortaleza e Região Metropolitana", garante Lucena.

Outra expectativa é que o Pisf possa tornar o Rio Salgado perene e, a partir disso, voltar a incentivar a atividade de pesca no seu leito. Por outro lado, Lucena aponta uma preocupação com a situação hídrica de Juazeiro do Norte.

"A gente sabe que Juazeiro tem crescido e está toda asfaltada, acaba que a água não infiltra. O solo está todo impermeabilizado. Então, não há a mesma recarga. O CAC pode resolver o problema", antecipa o diretor da Sohidra.