Mercado mostra-se favorável

Escrito por Redação ,
Legenda: Programa pasto Verde, que contribui para o crescimento da pecuária leiteira no Estado, dissemina a técnica do pastejo rotacionado, a mesma a ser utilizada nos perímetros
Foto: Foto: Cid Barbosa
Pastejo rotacionado já está consolidado no Ceará, mas sua prática não é unânime quanto à viabilidade técnica

Iguatu. Em três aspectos os técnicos do setor agropecuário concordam entre si: o consumo de produtos derivados do leite é crescente e a produção do Ceará é insuficiente para atender à demanda; a experiência que o Estado dispõe sobre a técnica de pastejo rotacionado irrigado; e, ainda, a oferta de crédito para investimento e custeio, cujos recursos são oriundos do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FNE).

A experiência do Estado com a utilização do pastejo rotacionado, áreas irrigadas de capim para alimentação do rebanho, a partir do Programa Pasto Verde favorece o crescimento da atividade. Um dos Municípios pioneiros dessa técnica foi Iguatu. Em 2000, surgiram os primeiros piquetes irrigados de capim. O gado é colocado em cada área periodicamente, dando tempo ao crescimento do pasto, até que um novo ciclo recomeça.

Pastejo

A técnica do pastejo rotacionado espalhou-se rapidamente no Estado e, segundo dados da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), existem atualmente 5.000 hectares de pastagens irrigadas implantadas. Na última década, o Programa Pasto Verde contribui sobremaneira para o crescimento da pecuária leiteira. Os criadores passaram a enfrentar com maior facilidade o período de estiagem, que perdura em média oito meses no ano.

"A tecnologia do pastejo rotacionado está consolidada", observa o presidente da Adece, Zuza de Oliveira. A média de produtividade no Estado é de 65 litros/dia por hectare, mas há criadores que alcançam 100 litros/dia/ha. Esses dados o animam. "Não podemos perder essa oportunidade e esse momento que nos é favorável", disse Zuza. "A cadeia produtiva do leite está organizada e o mercado de consumo é crescente".

Pioneirismo

Na localidade de Santa Clara, o criador João Mauro Linhares foi um dos pioneiros no Ceará na implantação da técnica do pastejo rotacionado. "Estou satisfeito", disse. "Melhorou a qualidade da alimentação, o custo foi reduzido e agora com irrigação e a rotação das áreas temos pasto para todo o ano". Ele é um dos maiores produtores locais com ordenha de dois mil litros/dia no verão.

O presidente da Unidade de Pecuária Iguatuense (Upeci), Mairton Palácio, disse que a região Centro-Sul tem em média uma produção diária de 70 mil litros. Uma das metas da Upeci é, em médio prazo, atingir a segunda colocação. "Temos potencialidade", diz Palácio. "Iguatu apresenta terras planas, férteis e água em abundância, que favorecem o desenvolvimento da pecuária leiteira".

Expansão

No Perímetro Irrigado Icó-Lima Campos, a pecuária leiteira vem se expandindo em decorrência de ações governamentais, financiamento bancário, programa de inseminação artificial para melhoria genética do rebanho, oferecido pela Prefeitura e por iniciativa dos próprios produtores, os colonos. "É preciso modernizar o setor, melhorar a qualidade racial do rebanho", observa o secretário de Agricultura do Município, Mailton Bezerra. "É uma atividade que dá lucro e é por isso que está crescendo", complementa.

A Secretaria de Agricultura e a Ematerce, na cidade de Icó, não souberam informar a quantidade de leite produzida e o número de criadores, no perímetro, que dispõe de quatro tanques de resfriamento para coleta e armazenamento do leite in natura. Mailton Bezerra disse ser favorável que os perímetros explorem as três atividades: leite, grãos e frutas. (HB)

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Atividade

O leite ocupa a sexta posição no ranking estadual dos produtos agropecuários relevantes, de acordo com dados da Adece. É responsável por uma das maiores rendas do agronegócio. É a quarta maior renda por emprego gerado e é apontado como o setor primário com maior integração com a indústria e gera 4,86 mil empregos diretos no campo. A atividade de produção de leite está presente em todo o Estado, destacando-se oito polos produtivos. Com base em dados de 2008, em primeiro lugar está a região do Médio Jaguaribe e em segundo, Quixeramobim. O denominado polo Alto do Salgado que inclui a bacia de Iguatu ocupa a terceira posição. Ainda segundo estudos da Adece, há no Ceará oito perímetros irrigados, com um total de 40 mil hectares. A metade dessa área é irrigada. Araras Norte, Curu-Paraipaba, Curu-Pentecoste, Jaguaribe-Apodi, Morada Nova e Icó-Lima Campos e os modernos Baixo Acaraú e Tabuleiro de Russas. Os olhos da Adece estão voltados para esses dois últimos, que no total oferecem 17 mil hectares disponíveis.

MAIS INFORMAÇÕES

Upeci

Avenida Marechal Castelo Branco, S/N - Bairro Areias - Iguatu (CE)
Contato: (88) 9919. 3132

VIABILIDADE

Ex-secretário critica projeto em áreas públicas irrigadas

Opiniões são divergentes em relação à pecuária nos perímetros irrigados. Viabilidade e altos custos em jogo

Iguatu. O professor aposentado da Universidade Federal do Ceará e ex-secretário de Desenvolvimento Rural do Estado, no período de 1995 a 2002, Pedro Sisnando Leite, considera um equívoco a proposta da Adece de implantar em lotes de perímetro irrigado a atividade de pecuária intensiva leiteira. "É um absurdo, não é racional e não se justifica", afirmou. "Colocar nas mãos de três ou quatro pecuaristas lotes públicos que têm custo elevado para uma atividade intensiva, de pisoteio, que vai tornar essas áreas imprestáveis não demonstra viabilidade socioeconômica".

Pedro Sisnando faz questão de esclarecer que é amplamente favorável à pecuária. "Em vez de criar uma Secretaria de Pesca, deveria o Governo ter implantado uma pasta voltada para a pecuária que é uma atividade que não tem recebido a devida prioridade", disse. "O Ceará tem vocação, potencial para a criação de gado, mas é preciso que se faça de uma forma racional", explicou.

De acordo com análise do ex-secretário de Agricultura, o Governo deveria voltar os olhos para o Litoral Oeste, a partir de Fortaleza até Acaraú, que é uma região que apresenta uma pluviometria anual média de mil milímetros, terras férteis, água no subsolo e que pode se tornar na nova fronteira agrícola do Estado. "Antes havia problemas cadastrais nessa região, mas isso já foi resolvido e os estudos que fizemos demonstram a viabilidade para exploração da agropecuária".

Utilizar áreas de perímetros públicos cujo custo do hectare, segundo o professor Pedro Sisnando, é de cerca de 20 mil dólares (valor estimado desde o início do projeto), para pecuária intensiva de pisoteio é inviável. "Considero um absurdo", disse ele. "Temos mais de um milhão de pessoas que são pobres e a prioridade para essas unidades deveria ser a produção de grãos".

Sisnando defende que os perímetros irrigados deveriam ser explorados por fruticultura e por grãos, cada atividade ocupando cerca de 50% das áreas agrícolas. "No ano passado, tivemos 70% da agricultura de sequeiro perdida e essas áreas irrigadas nos perímetros são estratégicas". O ex-secretário lembrou, ainda, que os projetos do Dnocs de implantação de perímetros irrigados, na concepção original, não preveem a implantação de atividade pecuária intensiva. "O Governo e o Dnocs devem apoiar os produtores para a produção de frutas e de grãos das áreas que estão paralisadas", defendeu Sisnando.

Mais leite

O empresário e produtor de leite, Luiz Girão, é um defensor do programa Leite Ceará que prevê a implantação da atividade de pecuária intensiva com pastejo irrigado em áreas de perímetro irrigado do Dnocs. Girão e mais quatro sócios exploram uma unidade de produção leiteira de 15 mil litros/dia no entorno do Perímetro Irrigado Jaguaribe/Apodi. "Nós aproveitamos a água do projeto e estamos satisfeitos com o lucro que a atividade garante", disse. "Em dois anos vamos dobrar a produção".

Impulsionado pelos ventos favoráveis do mercado, Girão considera exagero a análise crítica e posicionamento do ex-secretário Sisnando. "O projeto tem tudo para dar certo". (HB)