Jaguaribara enfrenta crise acentuada por mortandade de peixes

Prédios fechados, lojas vazias e dificuldades nas mais diversas atividades comerciais e sociais do município são reflexos da baixa produção de peixes nos últimos anos

Escrito por Honório Barbosa , regiao@verdesmares.com.br
Legenda: Movimento do comércio de Jaguaribara sente os reflexos da queda na produção de pescado
Foto: FOTO: HONÓRIO BARBOSA

A cidade de Jaguaribara, primeiro centro urbano planejado do Ceará, enfrenta uma crise econômica sem precedentes. A queda brusca da renda dos moradores decorre de três episódios de mortandade de pescado ocorridos nos últimos quatro anos. As ruas largas e planas mais parecem cena de filme de cidade 'fantasma'. Dezenas de prédios fechados.

"Temos uma dependência direta da produção de pescado no Castanhão, que se acabou", disse o prefeito Joacir Alves dos Santos Júnior.

Do açude Castanhão sai água para mais de cinco milhões de moradores do Médio e Baixo Jaguaribe e da Região Metropolitana de Fortaleza. É também do reservatório a principal fonte de renda das famílias.

O pescado é a nossa maior indústria, o motor da economia local. Há toda uma cadeia de movimentação financeira, na geração de emprego."

Desde 2015, é registrada no Castanhão uma sequência de eventos de mortandade dos peixes dos projetos produtivos - criação intensiva em tanques-redes. Recentemente, houve uma perda estimada de 500 toneladas e um prejuízo superior a R$ 1,5 milhão.

"A economia local tem por base a produção de tilápia, que está paralisada e se agravou com esse último episódio de mortalidade", observou a secretária municipal de Desenvolvimento Econômico, Aquicultura e Pesca, Lívia Barreto.

"A nossa única fonte de trabalho e renda é o peixe e perdemos tudo", lamenta o presidente da Cooperativa de Produtores de Peixe, Hernesto da Silva Gois. "Estamos com dívida nos bancos, não temos como recomeçar, e a nossa situação é de muita dificuldade, sem nenhuma renda", pontuou. O Castanhão acumula apenas 3,5% de sua capacidade. A água está com qualidade ruim. A perda de oxigênio, eventos naturais de inversão térmica, acúmulo de restos de ração e de dejetos no fundo do açude e liberação de gás carbônico no período da noite por microalgas contribuem para episódios de mortalidade de peixe em gaiolas.

Crise agravada

O projeto produtivo foi criado pelo Governo do Estado do Ceará, no ano de 2007 para atender às famílias que cederam suas terras produtivas para dar espaço às águas do Castanhão. Nos primeiros oito anos, a atividade prosperou, gerou renda e melhorou a vida da população local. Atraiu piscicultores pequenos e grandes e a produção logo chegou a 400 toneladas por mês.

Entretanto, veio a crise econômica de caráter nacional e outra de característica local. Lojistas e vendedores reclamam da queda acentuada nas vendas. O clima é de desânimo e preocupação. "Estamos parados, quase sem vender nada", disse a comerciária, Marta Lima. Os setores de confecções, calçados, perfumaria, cosméticos e eletrodomésticos são os mais afetados.

60%
é a queda estimada nas vendas de postos de combustíveis na região

Quem ainda tem alguma movimentação são as lojas de produtos alimentícios. Mesmo assim, há queixas. "A produção de pescado é a base da nossa economia, mas hoje o dinheiro que circula no comércio é proveniente de aposentados e servidores públicos", observa Lívia Barreto.

Lideranças políticas, comunitárias e piscicultores clamam por uma ajuda do Governo do Estado. Pedro Henrique, engenheiro de pesca e técnico da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado, visitou os projetos de piscicultura após o mais recente episódio de mortalidade de pescado. "É uma perda grande e viemos conhecer a realidade para elaborar um plano de ação emergencial", adiantou. "Sobre a causa das mortes, vamos esperar os laudos da equipe técnica".

Migração

Muitos operários e produtores já foram embora para outros estados em busca de oportunidades. "Aqui não tinha trabalho para meu filho e o jeito foi ele partir", disse o aposentado Luís Pinheiro.

Os projetos produtivos (como a criação de bovinos e produção de frutas) até hoje não deslancharam. Tudo isso contribui para a crise se agravar no Município. José Cristiano Pereira, piscicultor na Península do Curupati-Peixe, no entorno do Castanhão, disse que sofreu um prejuízo de R$ 100 mil. "Estou endividado, as gaiolas secas no açude e dívida nos bancos, sem nenhuma renda e sem saber o que vou fazer", lamentou. "Não temos a quem recorrer".