Inundações e desabamentos revelam problemas estruturais no Crato

Deslizamento da encosta da Serra, em Crato, afetou pelo menos, 30 famílias. As casas foram interditadas pela Defesa Civil

Escrito por André Costa e Antônio Rodrigues , regiao@verdesmares.Com.Br
Legenda: Deslizamento da encosta da Serra, no Crato, afetou pelo menos, 30 famílias. As casas foram interditadas pela Defesa Civil
Foto: Normando Soracles

 

As chuvas que caíram no Crato (130 mm), na última quinta-feira (04), voltaram a causar sérios transtornos à população. Parte da encosta do bairro Seminário desmoronou ainda na madrugada, destruindo parcialmente uma casa. Ninguém ficou ferido. No entanto, 30 imóveis foram interditados pela Defesa Civil. Além disso, o canal do Rio Granjeiro voltou a transbordar, provocando inundações nas principais vias do Centro da cidade. Os dois episódios, mais uma vez, mostraram como a ocupação desenfreada pode provocar uma tragédia, mais que anunciada, no Município.

"Não posso mais voltar para casa", disse a aposentada Djacir Pires, moradora da residência atingida pela encosta. Segundo sua filha, a técnica de enfermagem Francilene Pires, o incidente só não foi mais grave porque parte da família está acompanhado seu pai, que está internado no hospital. "Meu pai recebe alta amanhã e não temos para onde ir", lamentou. As famílias foram instaladas, parcialmente, no Círculo Operário enquanto aguardam seu destino. A maioria delas serão contempladas, por pelo menos seis meses, com aluguéis sociais pagos pelo Municípios, outros, ficarão na casa de parentes.

Segundo a dona de casa Leonilda Bezerra da Silva, os moradores já esperavam que isso fosse acontecer, porque a estrutura já estava apresentando rachaduras há alguns dias. O secretário de Infraestrutura do Crato, José Muniz, confirmou que o perigo já havia sido identificado pela Prefeitura através de um diagnóstico de risco de desabamento do barranco realizado na última semana. Hoje, além do próprio canal do Rio Granjeiro e a encosta do Seminário, o Crato tem mais seis áreas de risco. A maioria delas se concentram nos bairros Vila Alta, Batateira e no próprio Seminário.

Uma equipe do Corpo de Bombeiros foi acionada para realizar uma vistoria no local durante a manhã desta quinta. No local do deslizamento de terra, a fiação elétrica cedeu e um poste estava prestes a cair. Uma lona foi colocada na área do desabamento. Além disso, técnicos da Enel Distribuição Ceará, desligaram a energia de postes na Rua Bárbara de Alencar, uma das principais afetadas.

O desabamento ocorre em menos de quatro após o governador Camilo Santana inaugurar a primeira etapa de recuperação ambiental e urbanização do bairro Seminário. Com investimento de R$ 20 milhões, a obra foi entregue em julho de 2015. Na época, foram realizados serviços de contenção da encosta, de recomposição da vegetação e cerca de 16 km de drenagem e de esgotamento sanitário, entre outros.

Engenheiros do Governo do Estado do Ceará e da empresa Coral, responsável pelo serviço de urbanização do bairro Seminário, no Crato, vistoriaram o local, nesta quinta-feira, para iniciar a recuperação imediata dos danos causados pelo deslizamento de terra em uma das contenções da encosta. A obra está dentro do prazo previsto na garantia, portanto, os ajustes serão realizados e custeados pela construtora. A área afetada representa menos de 1% do total da obra.

'Canal do Medo'

Depois de pouco mais de duas semanas, o canal do Rio Granjeiro, em Crato, voltou a transbordar. A água voltou a invadir casas e prédios comerciais no Centro da cidade. Além disso, os moradores foram surpreendidos com a 'invasão' de peixes e cágados trazidos pela correnteza. "Em questão de 10 minutos, o canal encheu. Aqui, quando começa a chover, o pessoal já não dorme", garante o motorista Nataniel Salvador. Duas obras, executadas pelo Governo do Estado, que custaram R$ 4 mi e R$ 8 mi foram feitas num intervalo de dois anos, mas não solucionaram o problema.

O professor Paulo Roberto Lacerda, doutor em Recursos Hídricos, explica que, nos últimos anos, tem sido observado um aumento da ocupação da área de encosta da Chapada do Araripe, que tem causado a impermeabilização do solo. "A água vai para montante da bacia, na parte mais alta, e escoa rapidamente", justifica. O pesquisador explica que o processo de urbanização vem acontecendo por meio da diminuição dos lotes e aumento das áreas construídas, pavimentação de vias e derrubada de vegetação.

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