Iguatu colhe 30 mil espigas por hectare

As várzeas dos rios Trussu e Jaguaribe oferecem água, por poços rasos e tubulares, e o solo fértil

Escrito por Honório Barbosa - Colaborador ,
Legenda: O mercado regional fica abastecido o ano inteiro
Foto: Foto: Honório Barbosa

Iguatu. Este município do Centro-Sul do Ceará é um dos maiores produtores de milho verde de plantio irrigado do Estado. Um grupo de 40 agricultores familiares mantém o cultivo, ao longo do ano, e a produção abastece o mercado regional. As várzeas dos rios Trussu e Jaguaribe oferecem acesso à água, por meio de poços rasos, tubulares; e o solo fértil, que asseguram uma colheita que ultrapassa 30 mil espigas por hectare.

O vendedor Luís Pereira caminha entre o milharal, na localidade de Gameleira, a 6Km da sede urbana, para retirar espigas de milho verde e levá-las para a feira no entorno do mercado público da cidade. Faz isso duas vezes por semana, pois não faltam compradores.

A área de produção reafirma a vocação agrícola do Município. Com água assegurada, a produção do grão manteve-se nos últimos sete anos seguidos de ocorrência de chuva abaixo da média e perda de reservas hídricas nos principais reservatórios.

O verde do milharal e a terra úmida contrastam com a paisagem do sertão nesta época do ano, que começa a retornar ao tom cinza da Caatinga e à aridez do solo. Os principais núcleos produtivos encontram-se nos sítios Barra, Gameleira e Varjota.

Com o objetivo de mostrar a possibilidade de produção e a existência de demanda para o grão verde, a Secretaria de Agricultura e Pecuária de Iguatu promoveu, no domingo (2), pela manhã, um dia especial da cultura do milho, com distribuição de espigas, palestras técnicas e degustação de produtos a base do milho verde.

Incentivo

"Outras áreas no Município podem produzir porque existe água no subsolo e há um mercado consumidor favorável", assegura o secretário de Agricultura, Hildernando Barreto. "O mercado é favorável", acrescenta. Barreto quer incentivar outros agricultores de base familiar a produzir milho verde. "Saímos de uma produtividade de 10 mil espigas por hectare para 30 mil", destaca o secretário.

A cultura do milho verde, no Município, começou a ganhar força a partir de 2006, com pesquisas realizadas por professores e técnicos do Curso de Agronomia da Universidade Federal do Ceará (UFC). Houve correção de solo com aplicação de doses adequadas de nitrogênio, boro, fósforo, potássio e zinco.

"Para um sistema familiar, a produtividade está boa", observou o professor da UFC, Alek Dutra. Ao lado dos produtores, ele caminhou entre o plantio, analisou sistema de irrigação, o cultivo de variedades (AG 1051 e BRS 3046 - Saboroso) e o tamanho das espigas. "Houve ganho em todos os aspectos", pontuou.

Demandas

O cultivo irrigado do grão, um dos mais apreciados da safra agrícola sertaneja, atende à demanda sempre crescente nos centros urbanos, na própria zona rural e também dos criadores. O milho verde é consumido em forma de espiga (assada ou cozida) ou transformado em canjica, pamonha e bolo.

O grão seco é usado na alimentação animal (bovinos, suínos, aves) e é transformado em massa (amido) para produção de cuscuz, pão e mingaus. Há ainda o aproveitamento do caule e da palha para ração dos bovinos. Ao lado do milho, há o cultivo consorciado de feijão e jerimum.

Os irmãos José Luís, Cícero e José Derrete Alves Bezerra são produtores que servem de exemplo para outros agricultores. Nos últimos oito anos, têm se dedicado ao cultivo de milho irrigado. Os filhos dos agricultores já trabalham na lavoura também.

A terra é arrendada. José Luiz e Cícero produzem em área de três hectares, dividida em dez lotes, em forma de rodízio, que permite uma colheita em torno de oito mil espigas por semana. O ciclo produtivo do grão é de 70 dias. Assim, sempre há milho a ser colhido para atender à demanda dos compradores diretamente na propriedade.

A espiga é vendida na roça por R$ 0,40 aos feirantes e atravessadores. Na feira livre, é revendida ao consumidor final por R$ 1,00 e R$ 1,50. Se for assada ou cozida, sai por R$ 2,00. Luís Pereira, Ednardo Uchoa e Cosmo Angélico compram 200 espigas diariamente para vender no Centro da Cidade, no entorno do mercado Central. "A gente sempre vende bem", afirma.

O milho verde produzido nos sítios Barra do Trussu, Gameleira e Varjota atende à demanda local e de Acopiara e Quixelô. "No início, a gente vendia bem para Fortaleza, mas o frete é caro e inviabilizou o negócio", disse José Luiz Bezerra, que conta com a ajuda de um filho.