Holandês escreve livro sobre Sítio Caldeirão

Escrito por Redação ,
Jornalista Hans Bleumink quer incluir a saga do Sítio Caldeirão em livro que escreve sobre Antônio Conselheiro


Crato. A história do Caldeirão da Santa Cruz do Deserto e do beato José Lourenço fará parte de livro a ser editado na Holanda. Com o objetivo de colher depoimentos e visitar o sítio onde o beato liderou uma comunidade religiosa, por cerca de 10 anos, de 1926 a 1936, encontra-se no Cariri o jornalista holandês Hans Bleumink. Ele apresenta-se como “um apaixonado pelas histórias messiânicas dos nordestinos”.

O jornalista holandês conta que, no último domingo, ao desembarcar em Fortaleza, foi surpreendido com a reportagem do Diário do Nordeste sobre o Sítio Caldeirão e o beato José Lourenço. O relato fortaleceu a idéia de vir ao Cariri, com a finalidade de colher mais detalhes. Acompanhado do pesquisador Jakson Bantim, o jornalista começou a ouvir depoimentos que fundamentarão a produção de um livro que reunirá a experiência da comunidade caririense, juntamente com a saga de Canudos, do beato Antônio Conselheiro.

Um dos pontos que está sendo investigado pelo jornalista é o suposto bombardeio aéreo no Caldeirão, polêmica já abordada pelo Diário do Nordeste, na edição do dia 8 de julho de 2007. O brigadeiro José Sampaio Macedo, que comandou a operação, morreu dizendo que não houve bombardeio, enquanto alguns historiadores afirmam que a comunidade foi bombardeada. Hans Bleumink esteve ontem com o neto do brigadeiro, Ricardo Biscúcia, que guarda as cadernetas de vôos do avô, onde estão registradas a finalidade da operação, a data e o tempo de vôo. Em nenhum momento, fala-se em bombardeio.

Há 20 anos, Bleumink esteve no Brasil, no sertão de Sergipe, trabalhando em projetos de irrigação, como engenheiro agrônomo. No agreste sertanejo ouviu relatos comoventes sobre a Guerra de Canudos. Voltou para a Holanda, carregando na memória as imagens de um povo simples, trabalhador que luta pela sobrevivência, sem ajuda oficial.

Em seu país, ele participou da coletânea “Atlas”, publicada na Holanda com diversas histórias reais de fatos ocorridos no mundo inteiro. Na edição, Bleumink escreveu sobre a saga de Antônio Conselheiro, sob o título “Vonnis in Canudos” (Veredicto em Canudos). A obra resgatou a história da comunidade de Canudos, uma comunidade religiosa que precedeu o Caldeirão, liderada pelo beato cearense de Quixeramobim, Antônio Vicente Maciel, o “Antônio Conselheiro”, no Interior do Estado da Bahia.

No próximo dia 5 de outubro, estão sendo lembrados os 110 anos do massacre de Canudos, um arraial situado em área de difícil acesso no Interior baiano. Na região se instalou, a partir de 1893, o beato Antônio Conselheiro e seus seguidores cada vez mais crescentes. Antes, Conselheiro percorrera o sertão pregando transformações, profetizando o fim do mundo e despertando a ira das autoridades e do clero católico, que o consideravam e a seus seguidores uma ameaça à ordem social da época.

A história já contada por Euclides da Cunha no livro “Os Sertões”, resgatada há cinco anos pela coletânea holandesa “Atlas”, despertou, segundo Bleumink, a atenção daquele país europeu. No rastro de Euclides da Cunha, que cobriu a chamada Guerra de Canudos, o jornalista holandês voltou ao Brasil para complementar a histórica saga de Antônio Conselheiro, incluindo o massacre do Sítio Caldeirão, em 1937, no Cariri que, segundo afirma, “foi uma extensão do que aconteceu em Canudos”.

Nas comemorações dos 100 anos da destruição de Canudos, ele voltou à Bahia para escrever o primeiro ensaio jornalístico sobre o episódio. Agora, quer dar continuidade ao trabalho, escrevendo o livro que será complementado com o Caldeirão de José Lourenço.