Geopark Araripe pode perder selo da Unesco

Escrito por Redação ,
Legenda:
Foto:

Se o Governo não dotar o Geopark Araripe de infraestrutura para acesso e visitação, ele pode perder selo

Fortaleza. Contendo provas inequívocas da existência de um continente ancestral (Gondwana), conforme as pesquisas do alemão Gero Hillmer, o Geopark Araripe continua sendo o único, dentre 59 os geoparks no mundo, localizado nas américas, assim como no Hemisfério Sul.

Mas, como planos, projetos, promessas e divulgação não garantem a preservação do patrimônio, o Estado deve ser submetido, em 2009, a nova avaliação da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) e, não preenchendo os requisitos, pode perder o selo Geopark.

O reconhecimento internacional ainda carece do equivalente local, no que diz respeito a investimentos concretos para a garantia da preservação desse grande patrimônio geológico presente na Bacia Sedimentar do Araripe.

Passados dois anos da oficialização do Geopark Araripe, pela Unesco, as ações para a sua concretização ainda permanecem no campo das promessas governamentais. Essa é a avaliação do curador do Plano de Divulgação do Geopark, arquiteto José Sales.

O Governo do Estado do Ceará, por sua vez, garante que o Geopark Araripe — por coincidir geograficamente com o Projeto de Desenvolvimento Econômico Regional do Ceará -Cidades do Ceará - Cariri Central, ligado à Secretaria das Cidades, — é sim prioridade.

A coordenadora do Cidades do Ceará - Cariri Central, Emanuela Monteiro, explica que os três principais eixos de investimentos previstos ao longo dos próximos cinco anos, partindo de 2009, são: infra-estrutura, apoio ao setor privado e fortalecimento institucional (garantia de sustentabilidade).

No caso do Geopark Araripe, destaca, há um “caldeirão de possibilidades” redescoberto nos últimos seis meses, com um projeto amplo de desenvolvimento regional, considerando as duas atividades-chave: turismo e calçados; com previsão de abranger Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha e mais seis municípios: Santana do Cariri, Nova Olinda, Farias Brito, Caririaçu, Missão Velha e Jardim.

“Com características ímpares, o parque abre essa possibilidade de incorporar o setor produtivo”, explica.

Dentro do Programa Estadual do Geopark, segundo Emanuela Monteiro, a distribuição de responsabilidades está sendo incorporada, com reuniões constantes.

A Universidade Regional do Cariri (Urca) continua sendo a gestora oficial, incluindo pesquisa e extensão. Mas a mobilização geral fica com a Secretaria das Cidades.

Estão distribuídas entre órgãos afins, ações como gestão e educação ambiental; sensibilização da comunidade; apoio à atividade turística e animação cultural; comunicação e divulgação; integração das atividades econômicas; governança, construção de parcerias e alavancamento de negócios; assim como estruturação física dos geotopes ou geosítios (acesso e infraestrutura local); manutenção; e também segurança.

O diagnóstico está entre as primeiras medidas. A prioridade dos investimentos está no plano de negócios, sinalização e identidade visual, construção de sede (já licitada) e estruturação de um geotope piloto.

Também estão previstas ações complementares, como a construção do Centro de Eventos e Cultura do Cariri, no Crato, com licitação prevista para o primeiro semestre de 2009.

Adicionalmente, conforme Sales, até o fim do primeiro semestre, o Museu Paleontológico da Universidade do Vale do Cariri (Urca), em Santana do Cariri, deve reabrir suas portas ampliado e reestruturado.

Ele informa que a exposição, até a semana passada no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, migra para o Centro de Arte e Cultura do Bom Jardim. Também já há convite para que circule por outras capitais e por Boston (EUA).

FIQUE POR DENTRO
Riqueza incalculável sob solo cearense

Geopark é um território protegido, importante pelos valores geológicos, paleontológicos, arqueológicos, ecológicos e culturais. O objetivo é dar visibilidade a essa riqueza e estimular o desenvolvimento da pesquisa, do turismo e da cultura regionais. O que chama a atenção, no caso da Bacia do Araripe, é o estado de conservação dos fósseis. Os exemplares são tão preservados que é possível, em alguns casos, identificar o conteúdo estomacal dos animais, sendo possível fazer a reconstituição de cadeias alimentares de 110 milhões de anos atrás.

DESCASO COM O PATRIMÔNIO
Sinais de abandono crescem nos geotopes

Fortaleza. O Geopark Araripe é composto por uma rede de monumentos naturais, selecionados por conter os registros mais relevantes da formação geológica da região, essenciais para a compreensão da evolução do planeta. Sua missão principal é preservar esses patrimônios naturais e divulgar a história da Terra por seus registros geo-paleontológicos, missão esta que ainda carece de muitos investimentos.

Dos nove geotopes — Exu, Arajara, Santana, Ipubi, Nova Olinda, Batateira, Missão Velha, Devoniano e Granito — três ficam no município de Santana do Cariri, considerado capital paleontológica do Brasil e que também abriga o Museu Paleontológico da Universidade Regional do Cariri (Urca); outros dois ficam em Missão Velha e os demais, em Nova Olinda, Crato, Barbalha e Juazeiro do Norte.

Quando a reportagem do Diário do Nordeste esteve na região, com o objetivo de fazer o caderno especial, publicado em outubro de 2007, alguns destes locais já apresentavam sinais de abandono e depredação. Mas, o tempo passou e, sem ações concretas, os problemas se agravaram.

Só para citar algumas situações: o processo de favelização, na Colina do Horto, em Juazeiro do Norte, avança sobre o geotope Granito; os marcos, na cachoeira de Missão Velha, que identificam o geotope Devoniano, foram integralmente depredados. Por fim, ambientalistas não conseguem cochilar sem que uma nova agressão à nascente e entorno do Rio Batateira, no Crato, ponha aquele ecossistema em risco.

Esse abandono, além de ameaçar a integridade desses patrimônios naturais, afugenta potenciais turistas, que não vêm atrativos ou segurança para permanecerem naqueles locais e afugenta também os investimentos que a região atrai, em função, principalmente, do turismo e da pesquisa relacionada à Paleontologia, Geologia, Arqueologia e outros.

AMPLIAÇÃO
Proposto Complexo da Ibiapaba

Fortaleza. A Bacia do Araripe está totalmente contida na ecorregião do Complexo da Ibiapaba, que inclui as chapadas do Araripe e da Ibiapaba, se estendendo pelo Piauí, com uma dimensão de 70 mil quilômetros quadrados. Do ponto de vista territorial, a Mesorregião do Araripe integra, além do Ceará, Pernambuco, Paraíba e Piauí, formando a figura de um “Y” invertido.

Este contexto inclui aproximadamente 20 unidades de conservação, que potencializam integração regional visando a proteção e conservação ambiental. Como curador do Plano de Divulgação do Geopark Araripe, José Sales alimenta o sonho de ver os geotopes ampliados por toda esse complexo de serras.

A Bacia do Araripe, nos limites geográficos do Ceará, Pernambuco e Piauí, ocupa cerca de dez mil quilômetros quadrados. Ela contém traços da ruptura entre a América do Sul e África (continente primaz Gondwana), ocorrida há 120 milhões de anos, dando origem aos continentes do Hemisfério Sul, África, Oceania e também ao Oceano Atlântico, em sua porção Sul, conforme destaca, em seus estudos, o pesquisador alemão Gero Hillmer, que, com os pesquisadores Alexandre Sales e André Herzog publicou, em 2008, o livro “O Geopark Araripe/Ceará: uma pequena evolução da vida, rochas e continentes”, respectivamente na Alemanha e no Brasil.

Maristela Crispim
Repórter