Estudantes fazem guia do patrimônio histórico do Cariri

O trabalho já foi iniciado com recursos próprios, mas o grupo ainda busca apoio para a publicação do material

Escrito por Antonio Rodrigues - Colaborador ,
Legenda: Os apêndices serão compostos por conceitos que nortearam os construtores do passado, incluindo os estilos arquitetônicos. O trabalho poderá incluir imóveis que não são famosos, mas que têm muito a dizer
Foto: Fotos: Antonio Rodrigues

Juazeiro do Norte. Com o objetivo de inventariar os imóveis históricos do Cariri, quatro estudantes - dois de História e dois de Arquitetura e Urbanismo - fizeram um projeto para criar um guia deste patrimônio para a população em geral, mas sobretudo, arquitetos e historiadores. A ideia é reunir um acervo fotográfico junto com uma descrição destes bens dos municípios da Região e também de Icó, no Centro-Sul, e Exu, em Pernambuco. O material será impresso e disponibilizado como E-Book.

Os quatro formaram um Conselho Editorial que escolhe o imóvel que irá compor o guia. Ele será dissecado na parte arquitetônica, nos elementos construtivos e de fachada. Também terá descrição contemplando a metodologia da História Pública, buscando uma linguagem acessível, sem perder o rigor da pesquisa. "Em uma viagem à Bahia, em 2017, utilizei um guia do Instituto do Patrimônio de lá para visitar as cidades históricas, como Lençóis, Jacobina e Paratinga, e vi uma enorme necessidade de algo assim no Cariri", explica Roberto Júnior, estudante de História da Universidade Regional do Cariri (Urca).

Os apêndices serão compostos por conceitos que nortearam os construtores do passado, estilos arquitetônicos, entre outros. "Se um imóvel é classificado como bangalô, no fim do texto, o leitor vai encontrar uma discussão sobre o que é um bangalô, o porquê de uma construção ser assim caracterizada", explica.

Em Juazeiro do Norte e Barbalha já existe um número significativo de imóveis inventariados, fotografados e com processo de análise arquitetônica concluído. O guia terá uma sessão específica com o patrimônio rural.

"Os nossos critérios de escolha são seu contexto histórico, social e arquitetônico. Com isso, norteamos nossa pesquisa", informa a estudante Rayra Félix, que cursa Arquitetura e Urbanismo na Faculdade de Juazeiro do Norte (FJN). Ela explica que, quando a edificação não está dentro de um destes três critérios, a equipe vai atrás da parte que não foi tão evidenciada. Há muitos imóveis históricos na região que pertencem às famílias fundadoras que ainda moram no imóvel. "Nós já temos em mente as edificações a serem listadas. As que já listamos são casas ou casarões", completa.

Preservação

Apenas Barbalha tem uma legislação que oferece tombamento municipal, identificando e oferecendo apoio aos proprietários. Mesmo assim, é pequeno: apenas a isenção no Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). No entanto, há alguns imóveis protegidos pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

"Aqui em Juazeiro, parte das construções históricas está sendo derrubada para dar lugar a estacionamentos ou abandonada", lamenta Rayra. "Nosso projeto vem para destacar, chamar a atenção e tornar mais acessível a importância desses imóveis para a região", completa.

Para Roberto Júnior, o guia é de extrema importância, tanto para o turismo quanto para a própria identidade histórica regional. "Alimenta o turismo histórico, pois, com um material de apoio denso, novos pesquisadores podem se interessar pela Arquitetura da região", justifica. O estudante também ressalta que o trabalho poderá incluir imóveis fora dos holofotes, "mas que têm muito a nos dizer arquitetonicamente". Além disso, acredita que poderá ter maior engajamento da população na preservação, já que pode despertar o sentimento de pertencimento.

Um destes imóveis é o Casarão dos Esmeraldo, no Sítio Bebida Nova, em Crato, construído entre as décadas de 1870 e 1880, por Antonio Esmeraldo da Silva. O complexo era formado também por um engenho, que chegou a ser um dos mais ativos da região, mas já foi demolido. Restou um velho motor a diesel que acionava as moendas.

Por enquanto, os custos estão sendo cobertos com recursos dos próprios estudantes. No entanto, os quatro estão concluindo a parte burocrática do projeto para captar recursos junto a instituições públicas e privadas e publicar o guia. Até agora, apenas o Instituto Cultural do Cariri (ICC) está apoiando a iniciativa.