Estado do Ceará teve a melhor quadra chuvosa desde o ano de 2011

Neste período - de fevereiro a maio - cai 80% do volume total das precipitações de todo o ano no Estado

Escrito por Antônio Rodrigues - Colaborador ,
Legenda: O Banabuiú, que estava com 0,77%, em 2017, chega ao fim deste maio com 7,02% Foto: Alex Pimentel

Juazeiro do Norte. Faltando dois dias para o fim da quadra chuvosa de 2018, os 584,7mm já registrados apontam que, neste ano, houve a melhor quadra chuvosa no Ceará desde 2011. Mesmo assim, o número está 2,7% abaixo da média histórica de chuvas: 600.7mm. Os dados são parciais, mas segundo a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), são considerados em torno da média, de 505,6mm a 698,8mm. No ano passado, choveu 553,8mm. Neste período - de fevereiro a maio - cai 80% do volume total das precipitações de todo o ano no Estado.

O Litoral Norte apresentou as maiores chuvas com 900,2mm, um número 15,7% acima de sua média histórica. Outra macrorregião que teve um desvio positivo foi o Cariri, com 670mm, 8,7% acima. Por outro lado, o Sertão Central e Inhamuns tiveram as menores precipitações com 466,7mm, abaixo 6,1% do seu volume médio: 497,1mm. O Litoral de Fortaleza, que costuma receber as maiores chuvas, apresentou um desvio negativo de 1,8%, recebendo 784,4mm no quadrimestre.

No dia 22 de fevereiro, a Funceme divulgou um prognóstico indicando que, de março a maio de 2018, havia 45% de probabilidade de chuvas acima da normal climatológica. Além indicar maiores chances de precipitações acima da média, o prognóstico apontou 35% para a categoria em torno da normal e 20% para a categoria abaixo. Antes, em janeiro, previu um cenário positivo entre os meses de fevereiro e março, com 40% de chances de chuvas acima da média.

"O mais provável era a categoria chuvosa. Ficou em torno da média, mas tudo poderia acontecer. A gente pode dizer que não caiu na categoria mais provável indicada", explica o meteorologista David Ferran. Os dados ainda serão concluídos entre os dias 5 a 10 de junho, mas pouca coisa pode mudar. "Não deve ter muita chuva nos próximos dois dias", complementa.

No entanto, David explica que a irregularidade nas chuvas é comum no Estado, pois possui um clima de alta variabilidade. "É típico da nossa região. Em outros lugares do Brasil, há uma variabilidade bem menor. Por isso dificulta o planejamento das atividades. É uma característica do Semiárido", explica. Apesar de a quadra chuvosa acabar neste mês de maio, é possível as chuvas continuarem, nos próximos meses, mas sem a mesma intensidade.

No mês de janeiro, o Vórtice Ciclônico de Altos Níveis (VCAN) atua com mais frequência, mas, na região do Cariri, a frente fria que atinge a Bahia também pode ter influência. De março a abril, a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) se torna o principal sistema indutor de chuvas. A partir deste mês de maio, até os meses de junho e julho, podem ocorrer chuvas graças às Ondas de Leste. "Não significa que estes sistemas não podem atuar em outro período, mas é mais frequente nesses meses", completa David.

Aportes

As chuvas neste ano levaram a significativos aportes nos reservatórios do Ceará. Até ontem (29), havia 17 açudes sangrando, de 30 acima de 90% de seus volumes. Por outro lado, 83 estão com acúmulo inferior a 30% e cinco estão completamente secos. Mas, se os números forem comparados ao ano anterior, a quadra chuvosa representou mais segurança hídrica. A média de todos os reservatórios do Estado no início da quadra chuvosa era de 7,5%, agora, mais que dobrou, tendo 17,1%. No fim do mesmo período, em 2017, o volume médio era 12,6 %.

Ao fim da quadra chuvosa passada, o Açude Castanhão - maior do Estado - apresentava 5,73% de sua capacidade. Agora, está com 8,57%. Já o Banabuiú, que estava com apenas 0,77%, em 2017, chega ao fim deste maio com 7,02%. Dos três maiores do Estado, o único que apresenta número inferior ao ano passado é o Orós, que terminou maio de 2017 com 10,42% e, hoje, tem 9,59%. As bacias do Coreaú (91,93%) e Litoral (82,42%), terminam a quadra chuvosa com os maiores volumes acumulados, enquanto o Médio Jaguaribe (8,47%) é o menor.

O Castanhão chegou a registrar 2,1% de sua capacidade, em fevereiro, mas com as chuvas nos meses seguintes chegou a um aporte de 478.466.873m³, o maior registrado em todos os reservatórios. Isso aconteceu, principalmente, pelo aumento das chuvas na região do Cariri - 8,57% acima da média - , onde está a bacia do Rio Salgado, um dos afluentes do Jaguaribe que abastece o reservatório.

"Não tivemos uma quadra chuvosa que promovesse uma mudança no quadro crítico de nossas reservas hídricas. Não nos leva a ter um segurança de água. Tirando a região Norte, as bacias do Coreaú e Litoral, de uma forma geral, elas estão de 30% para baixo. Ainda é uma reserva muito pequena para garantir um conforto de mais de um ano para frente, principalmente na agricultura irrigada", explica o titular da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), Francisco Teixeira.

Por outro lado, o secretário acredita que a chuva ajudou a repôr a água nos aquíferos e o cenário nos pequenos e médios açudes, melhorando a situação do abastecimento humano. "Nós estávamos na eminência de 20 cidades terem problemas, hoje são de quatro a cinco cidades", informa. Por outro lado, Fortaleza e o Vale do Jaguaribe, segundo Teixeira, terão água para atravessar mais um ano, mas com expectativa na conclusão do Eixo Norte do Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF) até o fim de 2018, trazendo água para o Ceará.

Safra

No campo, a notícia é mais positiva, pois, segundo o relatório da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce), a produção de amendoim, arroz, feijão, mamona, milho, algodão herbáceo e sorgo deve registrar crescimento de 29,38% em relação a 2017. A expectativa é que sejam colhidas 730.409,82 toneladas de grãos, com destaque para o sorgo forrageiro, que deve liderar, com 2.135,82 toneladas, 136% a mais do registrado ano passado. Já a produção do algodão herbáceo deve atingir 1.113,55 toneladas e crescer 120,26%.

Embora os números sejam positivos, a safra deste ano deve sair prejudicada pela baixa precipitação registrada entre março e a primeira quinzena de abril, o chamado veranico. "Isso acabou trazendo uma dificuldade para o processo de reservas hídricas e atrapalhou na manutenção das culturas", explica o titular da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA), Francisco de Assis Diniz. "Em maio, teve uma primeira quinzena que garantiu. Foi acima do que estava previsto", completa.

A Pasta já está atualizando as ações e priorizará o atendimento às regiões mais castigadas pela falta de chuvas com instalação de cisternas e apoio de carros-pipa. "Nós vamos olhar para as cidades que têm até 100 cisternas, para universalizar. Depois, vamos ver a ordem de prioridade onde tem uma demanda significa e onde não teve acúmulo de água. Teremos um olhar mais especial para eles", completa.

No Sertão Central, apesar de registrar chuvas 6,1% abaixo da média histórica, com 466,7mm, a safra de sequeiro deste ano está sendo bem melhor em relação aos últimos seis anos. Ainda está havendo colheita de grãos, principalmente de milho e de feijão, todavia as perdas, ainda foram elevadas. Apesar das boas chuvas em abril, os veranicos afetaram muitas lavouras. Por esses motivos, muitos pretendem solicitar o seguro-safra.

Essa é a intenção do líder comunitário Edvan Castelo Branco e de outros 64 produtores da Comunidade de Bonfim Lagoa do Meio, na zona rural de Quixadá. Muitos ainda vão realizar a colheita do milho. Quem já ensacou o feijão, teve perda de cerca de 50%. O preço da saca também está variando muito, entre R$ 70 e R$ 100. O milho só deve começar a ser debulhado de agosto para setembro, explicou.

Os representantes dos escritórios regionais da Ematerce já estão ouvindo os agricultores. O objetivo é realizar um diagnóstico da situação nos municípios do Sertão Central e Sertões de Canindé. Na avaliação do gerente regional no Sertão de Canindé, Onésimo Lima, neste ano, houve boa safra das principais culturas, apesar de não ter chovido o suficiente para repor uma boa carga nos açudes maiores. O Vieirão, em Boa Viagem, continua seco.