Em Icapuí, sede de projeto social incendiada aguarda reestruturação

O local foi alvo das ações criminosas que puseram o Estado em alerta no começo do ano. Para reconstrução do espaço, serão necessários mais de meio milhão de reais. O Governo do Estado prometeu arcar com os custos

Escrito por André Costa , andre.costa@svm.com.br
Legenda: O fogo consumiu um auditório, equipamentos eletrônicos, materiais científicos e uma pesquisa de dez anos
Foto: FOTO: NATINHO RODRIGUES

Os ataques criminosos que puseram diversas cidades cearenses em alerta, em janeiro deste ano, destruíram muito mais que o patrimônio público e privado. As chamas ocasionadas por facções consumiram, também, o impalpável. Em Icapuí, no extremo leste do Estado, a sede da Estação Ambiental Mangue Pequeno, na Praia da Requenguela, foi alvo das investidas. O local faz parte do Projeto "De Olho na Água", realizado pela Fundação Brasil Cidadão. O fogo consumiu um auditório, equipamentos eletrônicos, materiais científicos e... Sonhos.

O local, fundado há exatos dez anos, era "um centro difusor de conhecimento", conforme avalia a socióloga e coordenadora do projeto, Ana Paula Lima. Segundo conta, "mais de dois mil alunos, entre jovens, adolescentes e adultos, visitavam todos os anos o espaço, onde aprendiam sobre a importância da preservação da água, do meio ambiente e do mangue". Paula rememora que, no dia do ataque, ao ver a estrutura ruir em chamas, "era como se estivesse queimando sonhos, desejos e trabalhos coletivos" construídos ao longo de uma década. "Foi uma ruptura de um trabalho belíssimo", lamentou.

Sonhar novamente

Passado o luto do incêndio, as atividades do projeto foram retomadas aos poucos em um espaço provisório, em frente ao local destruído.

"Não podíamos parar as atividades. Elas representam muito. Embora seja um trabalho local, suas ações ambientais têm repercussão global", ressalta Ana Paula, referindo-se às ações de recuperação do ecossistema manguezal que influencia na regulação do clima do planeta e beneficia, ainda, a biodiversidade.

Com as atividades retomadas, o próximo objetivo é a reconstrução do espaço físico. No mês seguinte ao incêndio, foi iniciada uma vaquinha virtual para captação de recursos para aquisição de equipamentos e materiais para reconstrução da Estação Ambiental. As duas primeiras metas foram atingidas. "Temos, em caixa, pouco mais de 30 mil reais", pontuou a pedagoga Zenilde Pereira. O valor, no entanto, ainda está distante do prejuízo total, estimado em R$ 500 mil.

O Governo do Estado deverá arcar com o montante restante. Os recursos serão provenientes do fundo de Compensação Ambiental. A Superintendência de Obras Públicas (SOP), Pasta responsável pela recuperação da Estação, garantiu, através de nota, "que finalizou o orçamento para submeter à aprovação da Secretaria do Meio Ambiente (Sema), demandante da proposta e detentora da dotação orçamentária para a reconstrução da Estação Ambiental Mangue Pequeno".

Depois disso, o projeto, que inclui também a implantação de uma praça de 77 m², segue para licitação. Ainda conforme a SOP, a obra deve custar aos cofres públicos R$ 553 mil. "Cumprindo todos os trâmites necessários, a estimativa é que as obras comecem até fevereiro de 2020 e durem seis meses", asseverou o Órgão Estadual.

Resistência

Ao lado do auditório que foi reduzido a pó, dois espaços ficaram em pé, intactos. "Talvez seja um símbolo de resistência, de esperança em novos tempos", pontuou Zenilde. Ela conta que o fogo não danificou o meliponário das abelhas nativas jandaíras nem o viveiro de mudas. "São dois espaços importantes. Os alunos utilizam o meliponário para estudar a importância da abelha e, no viveiro, estão mudas nativas que são usadas tanto no reflorestamento do mangue e do Município como um todo. Nossa proposta é fazer a substituição das plantas exóticas pelas nativas", explicou Zenilde Pereira.