Ecomuseu de Maranguape resgata patrimônio cultural

Por meio do projeto social, jovens da comunidade criam interesse pela história do distrito de Cachoeira

Escrito por Redação ,
Legenda: Casarão que deu origem ao povoado de Cachoeira, em meados do século XIX, onde hoje funciona o Ecomuseu de Maranguape
Foto: fotos: josé leomar

Maranguape. No que depender da iniciativa dos jovens do distrito de Cachoeira, na zona rural deste município, as tradições culturais da comunidade local estão resguardadas. Os agentes jovens do patrimônio, como são conhecidos, atuam como multiplicadores do conhecimento, desenvolvendo um constante trabalho de valorização dos costumes do povoado e, ao mesmo tempo, difundindo a ideia da preservação do meio ambiente entre os moradores do distrito.

Esses jovens são beneficiários do projeto Ecomuseu de Maranguape, iniciativa que visa ao desenvolvimento sustentável da comunidade de Cachoeira por meio de ações sociais integrativas. O equipamento cultural foi instalado no casarão que deu origem ao povoado. Construído em meados no século XIX, com mão de obra escrava, o prédio passou várias décadas abandonado até passar a ter nova utilização, em outubro de 2006.

O principal trabalho desenvolvido pelo Ecomuseu é o programa de formação em educação patrimonial para crianças e adolescentes da comunidade. O objetivo é formá-los para que atuem como multiplicadores do conhecimento na região. "É uma experiência muito boa, em que a gente aprende cada vez mais, trocando muitos conhecimentos com pessoas de fora", diz a estudante Luana Castro, de 20 anos, que desde os 12 participa do projeto educacional.

Alinhado à perspectiva da nova museologia, o Ecomuseu busca estender sua atuação para além dos limites do prédio em que está instalado, abrangendo também todo o território da comunidade de Cachoeira.

Diferentemente dos museus tradicionais, em que o centro das atenções são os objetos, a iniciativa desenvolvida em Maranguape busca manter seu foco nas próprias pessoas que vivem na comunidade e na maneira como elas convivem com a terra. "O centro é o sujeito, a comunidade, o território e o patrimônio cultural. Todos eles a serviço do desenvolvimento local", explica Nádia Helena Almeida, coordenadora do Ecomuseu.

O distrito rural de Cachoeira fica numa área entre a serra e o sertão, conservando elementos culturais de ambos os espaços.

A missão do Ecomuseu é resgatar a memória do local e manter vivas as tradições do povoado, que até pouco tempo corriam o risco de cair no esquecimento, caso não fossem devidamente valorizadas e preservadas pela atual geração.

Formação

As atividades desenvolvidas no centro cultural são voltadas a toda a comunidade. Entretanto, o principal foco do equipamento é a formação de jovens.

Trabalhando em parceria com a Escola Municipal José de Moura, o Ecomuseu possibilita aos estudantes a educação em período integral. "A gente não consegue diferenciar o museu da escola. As pessoas que atuam em um, atuam em outro", diz Nádia Helena Almeida.

Ela explica que a gestão do museu é compartilhada entre a organização não-governamental (ONG) Fundação Terra, o Comitê Agrícola e o Centro Comunitário de Cachoeira, num processo que envolve também a escola.

Quando o equipamento iniciou suas atividades, professores da unidade de ensino foram escolhidos para formar a equipe técnica do museu. "Para efetivar um processo de desenvolvimento local, não adiantaria a gente trazer pessoas de fora para trabalhar aqui. Depois, eles poderiam ir embora, e nós ficaríamos prejudicados. Por isso a ideia é formar equipes locais, de professores que residam na comunidade".

Uma das iniciativas do Ecomuseu para dinamizar rotina dos estudantes e possibilitar o acesso a conhecimentos diversificados aos estudantes é a Mobilidade Cultural, ação que trabalha a experiência de intercâmbio por meio da visita a outras localidades. Ao interagir com pessoas que vivem em outros contextos, os jovens têm a chance de compartilhar conhecimentos e angariar novos valores às tradições locais, visando ao benefício de toda a comunidade.

Empreendedorismo

Pensando em fazer da atividade um meio de obter renda, eles desenvolveram a iniciativa denominada Empreendimento Social em Rede, que institui uma pequena taxa de visitação para o museu. Do dinheiro arrecadado, parte fica para a manutenção do projeto, enquanto o restante é dividido entre os monitores.

ENQUETE

O que se aprende no projeto do Ecomuseu?

"A gente passa por uma formação pra aprender a contar história. É muito bom, se aprende muitas coisas, e eu estou levando o projeto pra faculdade, para apresentar como uma iniciativa que está dando resultado "
Geane vasconcelos
Monitora no Ecomuseu e estud. De Pedagogia

"Comecei no projeto em 2007 e de lá para cá, notei não só um crescimento na comunidade, mas em mim também. Para mim, dá orgulho ficar contando a nossa história, que é tão rica, para as pessoas de fora"
Aldir freitas
Monitor no Ecomuseu

Mais informações
Ecomuseu de Maranguape
Distrito de Cachoeira
Região Metropolitana de Fortaleza
Telefones: 3374.0032 / 0039
E-mail: ongterra@gmail.Com


Moradores de Cachoeira preservam antigas tradições da época de formação do povoado

Maranguape.A ocupação das terras que hoje compõem o distrito de Cachoeira teve início em 1839, quando o descendente de português José de Moura Cavalcante comprou o terreno de uma índia da região. No local, ele mandou construir um casarão, finalizado em 1860. A partir daí, junto com a família, o novo proprietário das terras constituiu o núcleo formador da comunidade. Além da vivenda, José de Moura mobilizou seus escravos para construírem um açude e uma capela, cumprindo promessa que havia feito à sua esposa. Aos poucos, novas famílias começaram a se instalar nos arredores da casa grande.

O nome “Cachoeira” é referência a uma queda-d’água que havia na região, destruída anos depois para a construção de uma estrada que leva ao lugarejo.

Os filhos do fazendeiro preferiram não dar continuidade às atividades do pai e foram embora da região, deixando a propriedade abandonada. A casa ficou fechada por várias décadas, enquanto a população formada no local permaneceu isolada da convívio urbano, sem acesso aos serviços públicos básicos e vivendo da subsistência. A realidade começou a mudar na década de 1970, quando os remanescentes da ocupação constituíram o Centro Comunitário e o Comitê Agrícola de Cachoeira. A organização possibilitou que 30 famílias se associassem e adquirissem a propriedade, por meio do Projeto de Desenvolvimento de Comunidades Rurais (Prodecor), promovido pelo Ministério da Agricultura na década de 1970. Após a compra do terreno, as terras - incluindo o casarão - passaram a ser propriedade comum de todos os moradores da região.

No ano de 2005, a organização não-governamental (ONG) Fundação Terra apresentou à comunidade a proposta de criar no local um centro cultural, tendo como perspectiva a conferência mundial Eco 92, que passou a estimula a criação de iniciativas ecológicas. Daí surgiu a ideia de fundar um ecomuseu.
“A gente ainda tem que trabalhar a conscientização da comunidade, em relação à valorização do que é nosso. A educação patrimonial visa ao fortalecimento da identidade local e ao desenvolvimento sustentável”, diz Lêda de Assis, membro do comitê agrícola local.

Anualmente, o Ecomuseu de Maranguape promove o Festival do Feijão Verde e Trovadores, evento que reúne a comunidade em torno da fabricação e consumo de receitas típicas da região, além de diversificada programação cultural.

A programação inclui oficina de trova, apresentações musicais, exposições museológicas, excursões pela comunidade, e a degustação de receitas produzidas a partir das tradições locais.

Cinema

A comunidade de Cachoeira já foi palco de uma produção cinematográfica. O casarão histórico foi um dos principais cenários do filme “Lua grande Cambará - Nas escadarias do palácio (2002), de Rosemberg Cariry. O filme retrata a sociedade rural da época dos coronéis, no final do século XIX.